Dica de Filme: Jurassic World
Jurassic Park está no meu top 50 filmes prediletos e foi a película que mais assisti na vida, incapaz de enjoar, com aquela aventura redonda e completa conduzida por Spielberg. Em 2015, dirigido pelo novato e promissor Colin Trevorrow (do desconhecido Sem Segurança Nenhuma), a franquia ganhou um novo gás e agora surge na Netflix, atraindo ainda mais público.
Felizmente, dá pra notar que eles esperaram ter um bom roteiro em mãos antes de tocar essa inevitável sequência e seguir a cronologia do filme no nosso tempo, com “Park” evoluindo para “World”, uma sacada e tanto. Jurassic World é a “Disney dos Dinossauros” e essas criaturas revividas já não são tão deslumbrantes pra sociedade como eram no primeiro (com exceção das crianças, belamente bem ilustradas no contexto), também refletindo o comportamento de desinteresse atual, com futilidades e outros meios. Os dinos são números, feras de circo, uma atração para o passeio de verão.
Trabalhando muito bem os personagens e à maneira antiga (ou nos moldes dos anos 90), a direção optou por colocar o macho-alfa gente boa defensor dos raptores e que compreende a natureza dos dinos, Chris Pratt, sempre bem alocado em todos os papéis que lhe impõe. Ao seu lado temos uma garota fria, ligada em recursos e desumanizada, mas que já é construída desde o princípio pra ser revertida a tiazona protetora, que de alguma forma torna Bryce Dallas Howard ainda mais linda e perfeita no papel. Irrfan Khan é um excelente ator mas ainda pouco explorado em Hollywood e nesse filme protagoniza o novo dono do local, agora assumindo uma posição mais interativa, de ricaço que visa mais o bom entretenimento do que somente os cifrões. Temos também o subvilão, Vincent D’Onofrio (ótimo e convincente, emulando um Major Rocha genérico, papel que foi de Sandro Rocha em Tropa de Elite 2).
Os personagens ainda nos mostram os dois irmãos, que voltam pra ecoar os também irmãos do primeiro filme, que servem como ferramenta pra sensação de perigo e família já estabelecidos por Steven desde o princípio (Nick Robinson, o adolescente enjoado; e Ty Simpkins, o garotinho adorável e entendedor de dinos); o nerd, que dessa vez assume papel “do bem” com Jake Johnson; o cientista, que já constava indiretamente no primeiro filme e que muito provavelmente ainda será utilizado na sequência deste (B.D. Wong, que parece sempre protagonizar os mesmos papéis 😛 ); e o melhor amigo do protagonista, Omar Sy, que ajuda a dar coração pra obra.
Os estereótipos são assumidos aqui e o Trevorrow não se intimida com o formato. Pois, note: desde o princípio, você sabe que aquela tia fria do começo e totalmente desapegada da humanidade, vai ceder pro galã e virar a tia exemplar pros sobrinhos carentes; você sabe que o casal, que teve um passado mal resolvido, vai se beijar no meio do clímax; você sabe que aquela equipe militar treinada vai servir de janta pro dinossauro vilão; e que nenhuma criança vai morrer de verdade no filme (apesar da chacina que os pterossauros e os pterodáctilos causam na multidão indefesa); você sabe que o vilão humano vai ter um “fim merecido” e que pelo menos um ou dois dinos fará o papel de “herói da vez”, junto do protagonista.
Jurassic World também se preocupa em homenagear e referenciar o primeiro filme (e os outros dois, ainda que mais sutilmente) todo o tempo, só que isso é feito de maneira inteligente, natural e orgânica (a começar de que tudo retorna pra lendária Ilha Nublar), ajudando na condução da obra ou apenas como uma easter-egg, pra alargar sorriso de quem foi criança em 92. Os dinos também continuam tão convincentes quanto foram no primeiro (até hoje insuperável, convenhamos), com maneiras de se mover e emitir sons, que realmente faz com que acreditemos, ainda que por um segundo, de que eles realmente existem e estão ali. O Indominus Rex não serve só como vilão, mas também pra pontuar o “efeito Frankenstein” do enredo, de que o maior inimigo ainda é o homem, já que aquele dino não é de fato um (ele mescla DNAs do Carnotaurus, do Majungasaurus, do Rugops e do Giganotosaurus, Tiranossauro Rex e Velociraptor [uma grande sacada pra uma reviravoltinha], além do DNA de alguns animais modernos). Assim como no terceiro filme, o quarto segue nessa linha bacana de colocar um “dino mais forte” que o T-Rex pra mostrar a próxima camada de gravidade dessa insana cadeia alimentar.
Menos inocente que Jurassic Park, World aposta em cenas mais violentas e sangrentas (a cena da morte de Zara Young, assistente de Claire, é chocante – e por que não, SÁDICA – pra qualquer um com menos de 15 anos, sem hipocrisia), o que também me parece honesto num filme com dinossauros, emulando outra obra de Spielberg: Tubarão (e qualquer genérico do tipo, como Piranhas por exemplo). Este, é menos “filme família” e mais uma “continuação bem colocada”, eu diria.
Aplausos também para o bom uso do fanservice. É legal demais ver a relação de Owen Grady com os velociraptors, algo estabelecido desde o berço e que nos faz remeter a treinadores de feras do mundo real (tanto, que a emblemática cena dele parando 4 deles, repercutiu planeta afora, emulando fotos de homenagem). É muito bacana ver também os humanos “se aliando” aos dinos, pra enfrentar a besta no final (e a gente acaba se afeiçoando aos raptores mesmo – vilões no 1 -, quem diria), e ainda o uso de um “último recurso com mais dentes” pra grande batalha no desfecho. E porra, que CENA DO CARALHO é aquela, com o Mosassauro dando cabo da criatura invencível (lógico, com a ajudinha duma duplinha do barulho :v)
— se repararem, esse dino é mostrado em algumas cenas-chave do enredo e, por isso mesmo, se amarra bem no final.
Saí satisfeito da seção e aguardo aqui a continuação de Jurassic World, que segundo Colin, não vai repetir a fórmula de “perseguição no parque”. Ainda bem. E algumas dicas já foram dadas: não são os robôs ou macacos que podem assumir a dominação do mundo, mas sim os dinos recuperarem aquilo que lhes foi de direito a milhões de anos.