Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica

Pixar banaliza as próprias regras em prol de história genérica, mas que vai fisgar a molecada

Existe algo de muito honesto nos princípios do diretor Dan Scanlon para esta animação, já que ele fez uso de um trecho de sua vida para criar uma simpática fantasia, com criaturas mitológicas habitando cenários contemporâneos e suburbanos (tal qual visto no ótimo “Bright”), em um enredo ao mesmo tempo fofo e divertido sobre dois irmãos elfos que conseguem ter o pai morto “revivido” por um dia (ao menos parte dele) e saem em uma jornada que evoca épicos tradicionais (qualquer referência aqui é válida, mas fiquemos com “O Senhor dos Anéis”), dentro da própria cidade, para tentar ter a outra metade antes do prazo acabar.

Por outro lado, a Pixar se tornou uma marca de criações singulares, que subvertem ideias em prol de sacadas que ninguém teria. Eles entregam sempre obras memoráveis, marcando diversas gerações (ela foi fundada em 1986). É claro que a produtora já escorregou antes (“Valente”, “Os Incríveis 2” e por aí vai), mas é inegável que Dois Irmãos mais parece uma animação da Disney (no sentido de estruturação mesmo e até de acabamento visual) do que da própria Pixar (assim como o excelente “Zootopia” tem o efeito contrário).

Dois Irmãos

Dois irmãos

Talvez essa bagunça se dê porque ambas fazem parte do mesmo conglomerado desde 2006, quando a Casa do Mickey a absorveu. De qualquer maneira e independentemente de suas intenções, Scanlon realiza um filme com batidas manjadas (até mesmo para os pequenos). Afinal, a lição está em valorizar aquilo que você não tem, e não o que jamais teve.

O desfecho ainda guarda um momento emocionante. Existem sequências eletrizantes (como a perseguição das fadas ou aquela de atravessar a ponte invisível, que deixou crianças tensas na minha sessão) e algumas ideias bem jogadas aqui e ali (como os inventivos usos de elementos fantásticos em contextos pé no chão).

Assim como personagens divertidos, que vão tirar risos da molecada (como a mantícora loucona, o padrasto centauro), passos ousados na representatividade (evidenciado claramente na figura da policial ciclope Specter, com voz de Lena Waithe na versão original) e gags eficientemente engraçadas com as pernas do pai (que vão muito além da referência a “Um Morto Muito Louco”) – que dança, tropeça, corre e sempre rende os melhores e inusitados momentos.

Dois Irmãos

Uma jornada fantástica

E ainda que Ian Lightfoot, o protagonista mais jovem dublado por Tom Holland, seja insuportável (ele passa metade do filme choramingando pelo pai morto há 17 anos, alguém que ele nunca conheceu, portanto, incoerente, por mais que isso faça parte da importância da história) e tenha os trejeitos meio trapalhões e tímidos típicos de qualquer persona dentro do gênero, o irmão Barley de Chris Pratt compensa em igual medida, com um rapaz maduro super nerd, viciado em RPG e que entende tudo da fantasia e magia esquecida nesse mundo de criaturas… fantásticas.

Falando assim, não parece esse fim de mundo que argumentei no começo do texto, mas o público já viu esse filme antes, mais de uma vez e, vindo da Pixar, sempre esperamos muito, muito mais.

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica

Nome Original: Onward
Direção: Dan Scanlon
Elenco: Vozes de Tom Holland, Chris Pratt, Julia Louis-Dreyfus
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Produtora: Walt Disney Pictures
Distribuidora: Walt Disney Pictures
Ano de Lançamento: 2020
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