Dois Papas, Fernando Meirelles e Netflix
A melhor qualificação de um líder é não querer ser um líder
O diretor Fernando Meirelles, indicado ao Oscar por Cidade de Deus, e o roteirista Anthony McCarten, três vezes indicado ao Oscar, trazem a história dos bastidores de uma das mais dramáticas transições de poder nos últimos 2000 anos em Dois Papas.
Frustrado com a direção da Igreja, o cardeal Bergoglio (Jonathan Pryce) pede permissão ao papa Bento XVI (Anthony Hopkins) para se aposentar em 2012. Ao invés disso, enfrentando escândalos e sua própria insegurança, o introspectivo papa chama seu maior crítico e futuro sucessor a Roma para revelar um segredo que abalaria os alicerces da Igreja Católica.
O que se vê dentro dos muros do Vaticano, então, é a disputa entre a tradição e o progresso, a culpa e o perdão, e dois homens muito diferentes confrontando seus passados em busca de terreno comum para forjar o futuro de um bilhão de seguidores em todo o mundo.
Dois Papas
O filme é um grande acerto tanto de produção, quanto de direção. Os sensacionais atores principais se encaixaram tão bem em seus papéis que até mesmo esquecemos que a trama se trata de uma problematização da igreja católica.
Assim, a escolha dos cortes, da trilha sonora, dos belos planos e até de algumas piadas bem agradáveis faz com que o filme seja leve e divertido. Mesmo quem não simpatiza com a igreja ou com religiões no geral pode sair feliz do cinema. Sim, do cinema, pois além de ser um filme Netflix, o longa está em cartaz em alguns cinemas selecionados. E olha, vale a sessão!
Igreja conservadora vs. diversão
Dois Papas conta uma parte da história da troca de papas que aconteceu em 2005 com Bento XVI e em 2013 com Bergoglio, posteriormente nomeado Papa Francisco. Os dois são extremos opostos, tanto em ideais de vida, regras da igreja, como em comportamento.
Enquanto um é acusado de simpatizar com o nazismo, o outro ajuda a construir igrejas junto à sua comunidade na Argentina. Ratzinger (nomeado posteriormente como Bento XVI) é alemão e sempre foi associado ao seu passado hitlerista. Já Bergoglio é associado à sua visão de mundo mais humanizada e tolerante.
O encontro desses dois velhinhos que são vistos como santos pela população católica nos traz questionamentos sobre a vida em cenas lindas e diálogos astutos. Dessa forma, é possível inclusive deixar a religião de lado para curtir a bela atuação desses mestres sob as batutas de um dos nossos melhores diretores brasileiros. Em cartaz nos cinemas e na Netflix a partir de 20 de dezembro.