Doze Mil – uma obra francesa bem ousada

Este é um filme sobre lutas. Sobre amor e lealdade, sobre desejos e danças, sobre afetos e esforços. Doze Mil, primeiro longa de ficção de Nadège Trebal, cuja frase “Quand on aime, no compte” (“Quando amamos, não fazemos contas”) remete ao fio condutor que apoia todas as sensações quando o vimos.

Vamos acompanhar Frank (Worthalter), um funcionário irregular de um ferro velho que perde o emprego por tirar um “por fora” nas negociações com os clientes. Ele vive uma vida humilde com Maroussia (a própria diretora Trebal), numa relação apaixonada e sexual, três filhos (certamente a mais velha não é dele mas ele a ama, e um par de bebês que podem ser dos dois, apesar disso não estar claro) e a sogra.

O casal se depara com a situação de dificuldade financeira a partir da perda do emprego dele, e resolvem que só estarão bem se os dois ganharem a mesma coisa: doze mil euros por ano, o que Maroussia ganha do governo como auxílio na criação dos filhos.

Doze Mil

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Através de uma agência, Frank viaja 700 km para trabalhar na limpeza de tanques de petróleo numa cidade portuária; porém, as coisas não saem como ele espera. Não desiste: omitindo suas “atividades” à companheira e à uma moda de um malandro, ele batalha para conseguir o dinheiro que prometera. E é aqui que o filme exibe suas lutas.

Nos momentos de sedução, Frank joga. Quando ganha, ele dança, sozinho ou exibindo-se ao público ou acompanhado, e esses momentos de dança são bonitos e doces. E nos momentos de esforços, o ar se
politiza: uma narrativa sobre a vida de imigrantes na Europa, de desempregados, de relações de trabalho assustadoramente precárias e por vezes configuradas como há cem anos atrás.

O dinheiro, em espécie, é contado aos maços, anacrônicos numa época de cartões de débito e de TED e de PIX, mas prática corriqueira na zona do Euro.

Doze Mil

Um filme sensual

Como o Olho de Sauron que orienta os sentidos de Frank está Maroussia: o amor físico que ela compartilha com o parceiro desempenhará um papel fundamental na sequência de fatos vistos na tela e, como diria Chico Buarque ao descrever sua “Geni”, ela, e isso era segredo dela, também tinha seus caprichos, que impulsionam a sequência final.

Nas palavras da própria Trebal, Maroussia parece sentir, ao deixar o homem sexuado partir, que sua virilidade depende de ganhar o mesmo que ela ganha, como se cuidasse do parceiro, mas impondo condições, exercitando o poder feminino que o conduz.

A cena de sexo logo no início terá sua contraparte numa cena de dança um pouco mais à frente: Maroussia ao centro, Frank a contornando todo o tempo, num encaixe emocional interessante. O trabalho de Worthalter (de atuação premiada em festivais europeus por Instinto Materno e Girl) é dedicado e sua interação com a própria Trebal é convincente.

Melhor filme do Festival de Cinema europeu em 2020, Doze Mil surge com elementos de uma outra obra da própria diretora, Bleu Pétrole (2012), no que tange à discussão sobre o proletariado. Parece ser um tema caro a ela, e está em sua zona de conforto. Será fácil nos acoplarmos à odisseia do protagonista, num filme com cenas coreografadas que acessam ao mundo de fantasia que esse macho-alfa cultiva sem pudores. Há um idealismo idílico, um olhar delicado sobre os afetos de homens e mulheres de tratos simples. Filme bacana.

https://www.youtube.com/watch?v=-cZduoA2cpw&ab_channel=SupoMungamFilms

Doze Mil

Nome Original: Douze mille
Direção: Nadège Trebal
Elenco: Arieh Worthalter, Nadège Trebal, Liv Henneguier
Gênero: Drama
Produtora: Mezzanine Films
Distribuidora: Supo Mungam Films
Ano de Lançamento: 2019
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