DuckTales: Os Caçadores de Aventuras – 1ª temporada

A Disney conseguiu, simplesmente conseguiu. Reviveu o maior clássico do final dos anos 80 que marcou toda a geração noventista! DuckTales tem um novo desenho animado, de visual repaginado, que mantém não só a essência da obra-prima original, como também se aproxima muito mais dos quadrinhos de Carl Barks para a família Pato. Há equilíbrio de aventura, comédia e mistério na medida certa, com uma linguagem moderna, que também vai fisgar toda uma nova geração.

A primeira temporada de DuckTales tem 25 episódios de meia hora cada, mas atenção, a Netflix realocou errado: o primeiro episódio é “Woo-Oo!” (o 4º na plataforma), que apresenta os protagonistas e mostra como os três sobrinhos conheceram o Tio Patinhas, através de um Donald a contragosto (que já evidencia uma treta familiar que só vai se resolver no final desse ano), seguido de “Fuga para Atlântida” (o 5º), que conclui o piloto. A partir daqui, então, volte para o 1º, “Rolezinho da Perdição” em diante.

Os personagens de DuckTales

Metade desses episódios se sustenta mais na comédia, usando disso para apresentar personagens marcantes. Dessa forma temos Patrícia (agora uma garotinha de ação, mas sem perder a doçura contagiante); Madame Patilda (que tem um passado interessantíssimo à lá 007); Robopato (que permanece o mesmo do original, mas com a Disney espertamente conseguindo incluir diversidade em seu elenco, com Patralhão sendo mexicano); Professor Pardal (talvez o mais distinto, trocando o velho coitado por um gênio mal-humorado, com um Lampadinha sempre oscilando para a revolução das máquinas); o sortudo Gastão (que rende um dos episódios mais absurdos e engraçados dessa temporada, em um cassino chinês amaldiçoado); Capitão Bóing, que continua sendo um piloto lotado de carisma e nenhuma habilidade com o volante, entre outros.

Também lembrando dos vilões clássicos, como Pão-Duro MacMônei (engraçadíssimo como um velhinho repleto de más intenções, que não acerta uma); Mamãe Metralha e os Metralhas (praticamente intactos em essência); a gatuna Dora Cintilante (com direito a um episódio caliente, repleto de traição e verdadeiro perigo); o novo Mark Bico (a junção de Mark Zuckerberg, Bill Gates e Steve Jobs); uma versão divertidíssima e cantarolante do Capitão Don Karnage (vilão da Esquadrilha Parafuso, o que aponta o grande universo compartilhado que essa série pretende realizar e que veremos melhor nas temporadas seguintes); e a grande e maquiavélica Maga Patalójika (que tem seu mito reinventado de maneira muito mais sinistra, atrelando ela a misteriosa Lena e também a Moedinha Nº1).

Nostalgia

Os protagonistas continuam sendo o verdadeiro brilho da produção, não devendo em nada ao original, inclusive o superando na maior parte das vezes. Donald ainda é um azarão incompreensível. Ele está aqui mais pelas gags do que por outra razão (ainda que a ele seja guardado momentos épicos no piloto e principalmente no desfecho), sem deixar que roube o espaço dos verdadeiros astros: os trigêmeos!

Huguinho é o inteligente e nerd do trio, o único que lembra de usar o Manual do Escoteiro Mirim uma hora ou outra (bem menos utilizado nessa versão); Zezinho é o curioso, com mais faro para aventura e por segredos, sendo o primeiro a descobrir pistas sobre sua mãe, Dumbela (que vai permear todo o primeiro ano); e Luizinho, representando o adolescente millennial, mais folgado e desinteressado, mas também bom de lábia e com fome pelo ouro (a quem será que puxou?).

Tio Patinhas segue sendo rabugento e extremamente ambicioso, mas também equilibra a balança com um grande coração e bom senso. Inclusive diante de situações envolvendo seus inimigos. Além disso, é um verdadeiro homem feito para aventuras, tendo o conhecimento e a sagacidade como principal habilidade.

A trama

O roteiro da nova série elabora melhor os eventos que, mesmo em episódios isolados, se interligam inteligentemente num arco maior. Assim, com conclusão satisfatória e grandiosa, envolve uma ameaça em Patópolis, diante da Caixa-Forte, fazendo uso de quase todo o elenco principal apresentado até aqui (que saem na porrada e tudo).

É claro que nesse miolo alguns momentos são tediosos, assim como a chatíssima partida de golfe mística ou as criaturas terra-formers do metrô (que ainda assim tem a função de trazer elementos morais e aprendizado a alguém do elenco). Mas tudo é bastante recompensado com outras situações valorosas, como quando a família Pato se vê presa no pico de uma montanha e começa a reavaliar suas intenções, à medida que tentam desesperadamente sobreviver; ou da nação de “múmias vivas” de Toth-Rá que servem a um imperador que não é o que parece (as críticas política-sociais vão além), indo até uma versão pra lá de bem-vinda de mistérios do “quem foi?” bem a maneira de Agatha Christie (e sim… temos algo envolvendo o mordomo, genialmente).

Um tributo

Há também outros episódios enervantes, como aquele que referencia James Bond; outro que busca homenagear super-heróis; e outro envolvendo segredos da família McPato, em histórias que nunca abrem mão do verdadeiro senso de gravidade (o cão demoníaco quase literalmente mata as crianças); de um drama intrínseco (a bruxa vazando pelos olhos da menina é bastante perturbador); e de aventura raiz (seja no clássico Klondike, no Monte Neverest ou até numa versão de ilha dos deuses gregos).

Um grande tributo ao trabalho de Carl Barks nos quadrinhos (os fãs vão reconhecer inúmeros momentos, incluindo acerca de como Patinhas conseguiu a moedinha nº1), a nova animação traz uma dublagem primorosa (tanto na gringa com grande elenco, envolvendo caras como David Tennant, por exemplo, como na nacional, com um elenco poderoso que somente a Disney seria capaz de bancar e ainda preservar a qualidade), à medida que une o antigo com o contemporâneo, em um traço atualizado (que conversa com produções recentes, como Gravity Falls e O Incrível Mundo de Gumball) e começa, pouco a pouco, a construir um universo compartilhado e um novo clássico para a próxima geração.