Editora Veneta de portas abertas
Movida pelo mote de “bate-papo, cerveja, quadrinhos e descontos”, a editora comandada por Rogério de Campos (ex-diretor editorial da Conrad e idealizador da revista Animal, dentre outras), abriu as portas de sua sede, localizada na Rua Araújo, a poucas quadras do Metrô República, ontem, para o público e promoveu uma sempre bem-vinda interação com toda a equipe que produz suas histórias em quadrinhos.
Dividida em três momentos principais, a ‘Casa Veneta’, que teve início pela parte da manhã e se estendeu até o finzinho da tarde (mas com direito a um ‘prolongamento extra-oficial’ no bar ao lado), contou com a presença de autores, editores e colaboradores da casa. Nos intervalos, era possível adquirir qualquer obra do catálogo com descontos especiais e pegar autógrafos com os autores convidados, além, é claro, de experimentar cervejas artesanais e sanduíches feitos na hora.
Para o primeiro dos três bate-papos, os autores Wagner William (‘Bulldogma’), Tiago Judas (‘Hídrico’) e a dupla João Pinheiro e Sirlene Barbosa (‘Carolina’) prepararam uma apresentação sobre seus processos únicos de produção quadrinística.
Durante a apresentação, foi interessante observar como o estilo ‘esquizofrênico’ de desenhar de Tiago Judas, que, segundo ele, é fruto de sua falta de técnica, foi abraçado ao longo dos anos e resultou em um livro de tirinhas tão consistente em seu conteúdo e singular em sua forma; ou como Wagner William aprendeu a respeitar seus personagens e a lhes dar o espaço necessário por eles requerido, mesmo que isso lhe custasse páginas e páginas de desenhos a mais; ou, também, como João Pinheiro, que até então vinha experimentando uma criação mais solta em seus trabalhos solos, como em ‘Burroughs’, contou com a organização acadêmica e as pesquisas de campo de Sirlene Barbosa para a criação do roteiro de ‘Carolina’.
Já no segundo momento, foi a vez do tradutor da edição brasileira de ‘Hip Hop Genealogia’, do quadrinista estadunidense Ed Piskor, Mateus Potumati, do jornalista Amauri Gonzo e do rapper Rodrigo Ogi, tomarem conta do auditório para falar brevemente sobre a correlação entre quadrinhos e a cultura Hip Hop. Uma união que, de acordo com eles, será ainda mais aprofundada nos vindouros lançamentos do selo Sumário de Rua, nos quais está incluso o próprio volume dois da ‘Genealogia’ de Piskor.
Dando continuidade, o dono da casa Rogério de Campos apresentou seus novos moradores: o jovem Yuri Moraes, autor de ‘Garoto Mickey’, lançado em 2011, pela Dobradura Editorial, e o veterano André Toral, autor de, entre outros, ‘Os Brasileiros’ (Conrad, 2009). Conforme Rogério, os dois estreiam ainda este ano na Veneta, respectivamente, com o violento e ‘fofinho’ ‘Wasteland Scumfucks – Terra do Demônio’ e o histórico ‘Holandeses’.
Outro que também apresentou seu novo projeto foi Marcelo D’Salete, que atualmente trabalha em seu terceiro álbum gráfico pela editora de Rogério, chamado ‘Angola Janga’. Após ‘Encruzilhada’, o autor retoma a temática da resistência negra no período colonial abordada em ‘Cumbe’ (Veneta, 2016), e foca no quilombo de Palmares.
Por fim, encerrando a primeira edição do evento, o artista gráfico Alexandre Teles lançou, autografou e falou um pouco sobre ‘Caligari!’, o seu primeiro livro pela editora, que adapta para a linguagem das histórias em quadrinhos o roteiro original do filme marco do expressionismo alemão ‘O Gabinete do Dr. Caligari’, de 1920.