Em Defesa de Jacob – Você conhece bem seus filhos?
Em Defesa de Jacob é uma minissérie inspirada no livro de mesmo nome, de William Landay. Andy Barber (Chris Evans) é um promotor de justiça que é justo e parece ter a vida perfeita. Ele é designado para investigar o assassinato de Ben (Liam Kilbreth), um adolescente de quatorze anos que estudava com seu filho, Jacob (Jaeden Martell).
Quando Andy começa a investigar o caso e falar com os outros adolescentes, ele descobre que muitos deles acreditam que Jacob é o assassino de Ben. Andy então se vê dividido entre cumprir a lei e defender seu filho.
Em Defesa de Jacob – Justiça
A série parte de uma trama bem interessante. Começamos acompanhando Andy Barber, um promotor de justiça bem-sucedido e bem visto em sua profissão. Ele também parece ter a família perfeita, composta por sua esposa, Laurie (Michelle Dockery) e seu filho adolescente, Jacob.
A família vive em uma cidade pequena, onde aparentemente todo mundo se conhece. Andy, então, é designado para investigar o assassinato de um garoto de quatorze anos que estudava na mesma escola de Jacob. Ele chega a perguntar para o filho se ele era amigo do garoto e recebe uma resposta não muito clara, que é bem típica dos adolescentes. Nem passa pela cabeça de Andy, no entanto, que seu filho possa ter qualquer coisa a ver com o assassinato.
As coisas mudam quando, em um interrogatório na escola, as crianças começam a citar o nome de Jacob. Andy naturalmente sai da escola com a cabeça quente, mas sem acreditar no que ouviu. Obviamente as coisas vão mudar e as pistas vão começar a apontar para Jacob. A trama propõe uma questão bem interessante aqui. O que um pai faria se soubesse que seu filho é um assassino e tivesse a chance de encobrir isso? Veja bem, não estou afirmando que esse seja o final da série – mesmo porque não é – mas a atração faz o telespectador pensar nisso quase que automaticamente.
Quem de fato conhece seus filhos?
Outra pergunta que fica no ar durante os oito episódios de Em Defesa de Jacob é o quanto Andy e Laurie de fato conhecem Jacob. Quando Andy escuta pela primeira vez que seu filho pode ter matado Ben, sua primeira reação é não acreditar, afinal, ele tem certeza que seu filho jamais faria isso.
Mas logo ele descobre segredos do garoto que o deixam preocupado. Andy encontra, por exemplo, uma faca embaixo da cama do adolescente e mais tarde, descobre que ele tem um gosto por pornografia violenta. As coisas ficam ainda pior quando encontram as impressões digitais de Jacob no casaco de Ben.
A vida dos Barbers então, vira de cabeça para baixo e a pergunta continua na mente dos pais. Enquanto Andy tenta tudo que é possível para inocentar o filho, e se mantém forte, Laurie parece sucumbir mais a cada momento. Ela começa a desconfiar do filho e a vigiar seus passos. Ela não demora a lembrar de situações do passado que podem ter mostrado a suposta crueldade do menino. É natural que os dois comecem a se culpar e a receber a rejeição e o ódio de toda a cidade.
A série levanta questões que são levadas ao extremo, mas que se aplicam à vida de qualquer pessoa. Ninguém conhece ninguém totalmente, todas as pessoas guardam segredos e quando falamos de adolescentes, isso parece ainda maior. Grande parte dos pais não sabe o que seus filhos fazem quando não estão perto deles, ou mesmo o que eles fazem quando estão dentro de casa e estão conectados à internet e Em Defesa de Jacob parte dessa premissa.
A família
Embora a série trabalhe no gênero do mistério e do suspense, o assassinato de Ben e a investigação não são as únicas questões importantes. Há também a preocupação em mostrar o que acontece com a família Barber depois que Jacob é considerado um suspeito do caso. A família passa a ser rejeitada na cidade, a casa deles é pichada, Jacob para de frequentar a escola e tem que parar de usar a internet e Laurie perde o contato com suas amigas.
Andy e Laurie também se sentem extremamente culpados e se perguntam onde eles erraram, quando pensam na possibilidade de o filho ter matado Ben. Andy tem certeza absoluta que o filho não o fez, já Laurie não está tão certa disso.
A mãe vai ficando cada vez mais triste e assustada, o que claro, prejudica o casamento. Em Defesa de Jacob não se preocupa apenas em mostrar o crime, mas também o que tudo isso causa na vida de todos os afetados, inclusive na vida dos pais da vítima.
Aspectos técnicos de Em Defesa de Jacob
A série começa muito bem, já no primeiro episódio somos apresentados a toda questão e logo já estamos presos na trama. Os primeiros capítulos são mais desenvolvidos, mas nem por isso são lentos. O telespectador quase participa da investigação junto com Andy, o que certamente vai agradar os fãs de suspense e policial.
É importante ressaltar que a série é muito envolvente e é quase impossível largá-la antes que a gente descubra, pelo menos, alguns dos mistérios que envolvem a trama, mas que ela vai perdendo um pouco da força nos seus episódios finais. A impressão que se tem é que na expectativa de emplacar uma segunda temporada, a série tenta deixar muitos buracos em aberto, o que não agrada tanto o público que quer ter uma finalização clara.
Por outro lado, existem muitos aspectos positivos. A série tem um clima que deixa a audiência tensa e como acompanhamos boa parte da trama do ponto de vista de Andy e Laurie, o telespectador também se mantém boa parte do tempo sem saber se Jacob é ou não culpado, o que é muito inteligente. Em Defesa de Jacob coloca o telespectador, literalmente, no lugar dos pais de Jacob.
Outros destaques
A fotografia segue a trama, pois antes do menino ser acusado, tudo parece mais claro e mais feliz, mas depois, tudo se torna escuro, desde as roupas, até a casa da família.
Outro ponto alto da série são as atuações. Chris Evans se sai muito bem no seu papel e o que é mais interessante ainda, parece entregar um personagem bem diferente do que está acostumado. A princípio, até soa meio estranho pensar que ele tem um filho de quatorze anos, mas essa é uma questão que some durante a série. A relação entre Andy e Jacob parece genuína. Já Dockery interpreta uma mulher frágil, que passa boa parte da temporada a beira do colapso e nós acreditamos nisso.
A sensação de que não sabemos quem Jacob é só chega ao telespectador por causa da atuação de Jaeden Martell. O seu Jacob é difícil de desvendar, o garoto fala pouco, e quase não explica nada. Em alguns momentos ele soa como um adolescente normal, em outros, como um garoto emotivo e, em outros, como um psicopata frio. O telespectador, assim como seus pais, não sabe dizer se Jacob é um adolescente normal ou um louco que consegue manipular não só os pais, como também a audiência.
A série é bem dinâmica e é muito difícil de largar, não só pela investigação, que é muito interessante, mas também porque queremos acompanhar aquela família até o final, mesmo que as descobertas tenham consequências com as quais eles não conseguiriam lidar.
Com boas atuações e uma trama intricada, Em Defesa de Jacob traz à tona uma questão que reverbera em todos nós: quão bem conhecemos as pessoas que amamos?