Emily

A cinebiografia de Emily Brontë

Em seu leito de morte, Emily Brontë (Emma Mackey) conta à sua irmã, Charlotte (Alexandra Dowling), o que a inspirou a escrever seu único livro e obra prima, O Morro dos Ventos Uivantes.

Uma rebelde

Uma história como a da família Brontë é interessante por si só, porque todos os irmãos estavam envolvidos com arte em maior ou menor medida. Os quatro filhos que chegaram à idade adulta – a família Brontë perdeu duas filhas com dez e onze anos – escreviam: Charlotte, a mais velha, escreveu Jane Eyre, Anne Brontë escreveu A Inquilina de Wildfell Hall, Branwell Brontë era poeta e pintor, e Emily escreveu O Morro dos Ventos Uivantes. O talento da família era inegável, mas de alguma forma, Emily, e por consequência seu único romance, ficou mais famosa.

O filme Emily parte desse princípio. Quando o começa, Emily está claramente doente, ainda que seja jovem, e resolve contar para a sua irmã, Charlotte, que a essa altura ainda não escreveu nenhum romance, o que a inspirou a escrever O Morro dos Ventos Uivantes e o filme nos leva para um passado recente, onde Emily é retratada como a mais rebelde e menos sociável das irmãs.

Emma Mackey como Emily Brontë
Emma Mackey como Emily Brontë

As três irmãs tinham o costume de criar histórias para entreterem a si mesmas e umas às outras, o que já mostra, é claro, o quão criativas todas eram, mas Charlotte está prestes a se tornar professora e acredita que as histórias que Emily inventa são coisas de criança, Anne (Amelia Gething) segue a irmã mais velha, e Emily se vê sozinha pela primeira vez. Mas a protagonista se recusa a deixar seu mundo de fantasia para trás, ela segue criando, nem que seja na sua própria mente.

Existe uma tentativa deliberada de distanciar Emily de suas irmãs, o que é um grande esforço, já que as três eram talentosas. Enquanto Charlotte e Anne saem com amigos e fazem novas amizades, Emily é quieta, evita a companhia fora da família e, em determinado momento, escuta de Charlotte que ela é conhecida na cidade como “a esquisita”. O filme deixa claro que a excentricidade de Emily é o que a faz singular e, portanto, capaz de escrever um dos grandes romances da língua inglesa.

O amor que inspirou o romance

Naturalmente existem muitas referências a O Morro dos Ventos Uivantes no longa, a produção é um grande flashback onde a escritora nos explica o que a inspirou e como ela escreveu o livro, então, esses pequenos detalhes chamam a atenção porque são bem similares à trama da obra de Emily. Uma referência óbvia se dá quando Emily e Branwell (Fionn Whitehead) vão espiar pelas janelas as casas dos vizinhos, como Catherine e Heathcliff fazem em O Morro dos Ventos Uivantes.

O filme mostra a inspiração por trás de O Morro dos Ventos Uivantes
O filme mostra a inspiração por trás de O Morro dos Ventos Uivantes

Mas o que mais soa espelhado na trama é a relação da protagonista com o pároco William Weightman (Oliver Jackson-Cohen), que é novo na cidade e que inicialmente chama a atenção de Charlotte e Anne, mas não impressiona muito Emily. Ele vira professor de francês de Emily, a pedido do pai dela, Patrick (Adrian Dunbar), e os dois aos poucos se apaixonam.

O romance é passional, mas também cheio de problemas, ele é mantido escondido e começa apesar do fato de Emily, aparentemente, odiar William, é como se ela não conseguisse evitar a atração e, mais tarde, o amor que sente por ele, ainda que o despreze, mais ou menos como acontece com o casal de protagonistas do livro.

Aspectos técnicos de Emily

Um dos pontos mais importantes de uma cinebiografia é a semelhança entre os atores e as pessoas retratadas, e aqui isso se faz presente. Emma Mackey e Alexandra Dowling são especialmente parecidas com as pinturas que existem de Emily e Charlotte, já Fionn Whitehead não é tão parecido fisicamente com Branwell. Todos estão muito bem caracterizados, no entanto, o que nos coloca dentro do clima do filme. Emily é um filme um pouco escuro, que usa e abusa dos tons terrosos nos seus figurinos, e a referência, mais uma vez, é a própria obra de Emily Brontë, que é considerada gótica.

O filme retrata Emily como uma excêntrica
O filme retrata Emily como uma excêntrica

As atuações também chamam atenção, o elenco é muito bem entrosado e se sai bem. Dowling e Whitehead estão ótimos, mas o destaque é de Mackey, que está presente em quase todas as cenas do filme e que dá humanidade e até uma certa juventude a alguém que só conhecemos de nome.

É interessante assistir uma produção que tem como intenção retratar a vida de Emily Brontë, já que embora sua obra seja muito conhecida e constantemente citada, sabe-se pouco sobre a mulher por trás do livro, assim como também acontece com suas irmãs. As referências a O Morro dos Ventos Uivantes não só são uma maneira de retratar as inspirações da escritora, como também são uma espécie de bônus aos fãs da obra, que certamente reconhecerão vários momentos.

Emily é um filme longo, que fica um pouquinho lento no meio, mas isso não atrapalha o resultado: o filme é uma cinebiografia competente, que apresenta a vida da escritora de maneira humana e sem julgamentos, ao mesmo tempo que apresenta essa mulher muito à frente de seu tempo para uma audiência que talvez só a conheça pelo seu único romance. O filme chega aos cinemas no dia 5 de janeiro.

Emily

Nome Original: Emily
Direção: Frances O'Connor
Elenco: Emma Mackey, Alexandra Dowling, Fionn Whitehead, Oliver Jackson-Cohen, Adrian Dunbar
Gênero: Biografia, Histórico
Produtora: Arenamedia
Distribuidora: Imagem Filmes
Ano de Lançamento: 2022
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