Emily in Paris – Uma comédia descompromissada
Porém, sem muito a dizer
Emily Cooper (Lily Collins) é uma jovem de Chicago que, de maneira não planejada, arruma um emprego em uma empresa de marketing em Paris. Deixando sua vida, seus amigos e seu namorado (Roe Hartrampf) para trás, Emily se muda disposta a viver um sonho e crescer na carreira.
O que ela encontra em Paris, no entanto, é um choque de culturas que dificulta sua vida no trabalho e que a deixa se sentindo sozinha, até que, pouco a pouco, Emily começa a expressar sua visão no seu novo emprego e fazer sucesso.
Emily in Paris
Como o próprio nome deixa claro, a série é, basicamente, focada em Emily Cooper. Os episódios são filmados do ponto de vista da protagonista e, por isso, só conhecemos os fatos pela ótica dela.
Emily é uma jovem de vinte e poucos anos, que trabalha com marketing em Chicago. Quando sua chefe, Madeline (Kate Walsh), descobre que está grávida, Emily é escolhida para substituí-la em um trabalho em Paris. Lá, ela tem como função “levar um ponto de vista americano” para uma empresa de marketing tradicionalmente francesa.
Emily é obstinada e decidida, e fica claro que ela deseja se dar bem no seu novo emprego, ao mesmo tempo em que se diverte na França. Mas Emily também é fútil e infantil, e o que no começo parece a animação natural de uma jovem que está em Paris pela primeira vez, vai aos poucos se tornando irritante.
O telespectador, no entanto, está preso com Emily do começo até o final da temporada.
Estereótipos
Emily chega a Paris com a intenção de dar o seu ponto de vista americano sobre o marketing de uma empresa francesa, o que, na trama, basicamente, quer dizer, modernizar uma empresa que parece de fato parada no tempo. Sylvie (Philippine Leroy-Beaulieu), a chefe francesa de Emily, não sabe nada sobre redes sociais e nem parece interessada em usar a internet para promover seus produtos, o que por si só, já soa bem absurdo.
Uma vez na cidade luz, Emily se vê frente a um choque de culturas. Ela não fala uma palavra de francês e também não se esforça para aprender, vira rapidamente uma piada na empresa e tem dificuldades para dar suas opiniões e para interagir com os colegas de trabalho.
Um dos grandes problemas de Emily in Paris é que ela usa de estereótipos o tempo todo. Emily é uma típica garota americana que, uma vez em Paris, surpreende todos ao seu redor. Sylvie é grosseira, intolerante, se recusa a falar inglês e não suporta as mudanças que Emily sugere. Os colegas de Emily começam a trabalhar depois das dez horas da manhã, e todos os franceses que aparecem na série tem amantes ou demonstram interesse por outras pessoas, mesmo estando em relacionamentos monogâmicos.
A série ainda pinta Paris como aquela cidade dos sonhos, com croissants, macarrons e uma linda vista da Torre Eiffel.
Nada realista
Infelizmente, os estereótipos não são o único problema. A atração não é nem um pouco realista em questões ainda mais básicas.
A ida de Emily à Paris já é por si só saída de um conto de fadas, mas é aceitável e não salta tanto aos olhos. Quando a protagonista chega à capital francesa e percebe que talvez terá algumas dificuldades, os questionamentos duram apenas um episódio, pois logo em seguida Emily já está mostrando toda sua habilidade e fazendo sucesso.
A protagonista é retratada desde o começo como alguém extremamente competente, que não está sendo compreendida por seus novos colegas franceses, mas na realidade, Emily não faz muita coisa, além de criar um Instagram e promover os produtos que sua empresa precisa vender. Embora ela seja desacreditada no começo, não demora para que Emily faça um sucesso espetacular e chame a atenção não só da empresa, como também dos clientes.
Emily não é só uma ótima profissional, como também faz amizades no meio da rua e conhece uma série de caras maravilhosos e interessantes que, claro, estão interessados nela nos momentos mais inesperados. Gabriel (Lucas Bravo), o vizinho de Emily, se apaixona por ela embora esteja comprometido há anos; Mathieu Cadault (Charles Martins), um dos clientes da empresa, também não consegue tirar os olhos da americana; e um jovem em uma festa fica completamente encantado por ela.
Tudo bem, Emily in Paris é um conto de fadas moderno sobre uma garota americana vivendo, conhecendo e se apaixonando em Paris, mas ainda se passa no mundo real onde pessoas tem dificuldades no emprego, decepções amorosas e problemas concretos. Não existe qualquer chance de se reconhecer em Emily porque ninguém acerta todas o tempo todo na vida real. E por mais que seja satisfatório viver o sonho perfeito de Emily com ela, também é frustrante assistir alguém que se dá bem o tempo todo.
Uma protagonista que não evolui
Grande parte das obras ficcionais funcionam de maneira bem simples: um protagonista tem um problema que precisa ser resolvido até o final da trama. Muitas vezes esse problema é a própria personalidade do protagonista, que precisa evoluir e aprender.
Emily, de fato, tem muitas características problemáticas. Ela é uma mulher adulta que se comporta como uma adolescente, e que imagina uma Paris de fantasia, onde sua carreira vai decolar. Mesmo vivendo na cidade há algum tempo, ela não se dá ao trabalho de aprender o idioma local e nem tenta se adaptar aos costumes. De uma maneira geral, Emily é uma personagem bem irritante.
Nada disso seria um problema se a ideia fosse fazer sua protagonista, cheia de sonhos e ideias irrealistas, crescer e aprender que a vida não é como se imagina, mas não é isso que acontece. Emily começa e termina a primeira temporada exatamente do mesmo jeito, porque mesmo sendo fútil e infantil, ela nunca erra e são as pessoas ao redor de Emily que precisam mudar. Não existe qualquer crescimento para Emily que, mesmo não sendo uma boa profissional, nem uma boa amiga e, em muitos momentos, nem uma boa pessoa, recebe afagos do roteirista o tempo todo.
Aspectos técnicos de Emily in Paris
Embora tenha um roteiro fraco e até bobinho, Emily in Paris tem uma produção bem-feita e bem cuidada, o que provavelmente é a melhor parte da série. A atração se preocupa em colocar a cidade de Paris quase como uma outra personagem, mesmo que retratada como uma terra fantástica onde todos os sonhos se realizam – mais ou menos como as séries Glee e Katy Keene fazem com Nova York -. Claro que essa não é a visão mais realista da cidade mas, dentro do contexto da série, não soa tão absurdo.
Os figurinos da série também são bonitos e interessantes. As roupas de Emily são um dos poucos aspectos que fazem a produção valer a pena.
Emily, de fato, é uma personagem irritante, que nunca erra, mas Lily Collins consegue fazer dela alguém por quem o telespectador quer torcer, mesmo que não o tempo todo. Sua atuação parece seriamente desperdiçada. O resto do elenco também se sai bem, embora sejamos obrigados a escutar sotaques forçados e falsos, e assistir atuações um pouco estereotipadas, que provavelmente são mais culpa do roteiro, do que do elenco em si.
Isso não quer dizer que Emily in Paris seja uma série completamente terrível. A produção é uma comédia descompromissada, que serve como um entretenimento, e pode prender os telespectadores mais interessados em moda. A série não é, no entanto, muito engraçada e alguns episódios são um pouco arrastados.
Mesmo com alguns problemas sérios no roteiro, Emily in Paris é uma série para desanuviar, que constrói um mundo de fantasia nada realista, e que parece ideal para o momento atual, mesmo que seu conteúdo não tenha muito a dizer.