Eu Te Amo, Agora Morra: O Caso de Michelle Carter
Suicídio e culpa
Eu Te Amo, Agora Morra: O Caso Michelle Carter acompanha o caso da adolescente de 17 anos que trocou mensagens com seu namorado Conrad Roy, um adolescente depressivo, o incentivando e incitando a prosseguir com seus planos de suicídio. O documentário questiona se Michelle também tem culpa no suicídio do namorado.
Michelle Carter e Conrad Roy eram um casal de jovens namorados, que tinham se conhecido em um acampamento de verão e que mantiveram um relacionamento basicamente por mensagens. Os dois se encontraram poucas vezes ao longo do namoro, mas conversavam diariamente pelo celular. Conrad era um jovem depressivo, que pensava constantemente em suicídio e Michelle, sua namorada, não parecia muito disposta a dissuadi-lo da ideia.
No dia 13 de julho de 2014, Conrad foi até um supermercado, estacionou seu carro e ligou o motor para dentro do veículo, com a intenção de se envenenar com gás carbônico. Em determinado momento, Conrad saiu do carro e mandou uma mensagem para a namorada, contando o que estava fazendo e perguntando o que ela achava que ele deveria fazer. Michelle mandou ele voltar ao carro e prosseguir com seus planos de suicídio.
Eu te amo, agora morra
Depois da morte de Conrad, Michelle então posou como a namorada de luto, que estava tentando lidar com uma terrível perda. Ela procurou a família de Conrad e realizou eventos em homenagem ao namorado recém falecido.
O que o documentário quer discutir é justamente a culpa de Michelle no caso. O filme apresenta o casal e as mensagens que eles trocaram e também é bem claro sobre a depressão e os pensamentos suicidas de Conrad. A obra questiona qual era o papel da família de Conrad em tudo isso e se eles não deveriam ter notado o comportamento do menino. Mas a questão mais importante que ele levanta é se Michelle teve culpa no suicídio do namorado e se ela deve ser julgada como tal.
Sendo um caso extremamente incomum e sem precedentes na história, é difícil até saber como proceder diante dele. Conrad era um rapaz deprimido que se matou, mas Michelle incentivou esse comportamento até os últimos minutos. O documentário se pergunta se Conrad teria se suicidado caso Michelle não tivesse mandado a mensagem; e se Michelle era tão capaz de influenciar seu namorado a ponto dele se matar.
Influência da mídia
Depois de apresentar os fatos e as provas, Eu Te Amo, Agora Morra entra mais a fundo na vida e na mente de Michelle. Acompanhamos entrevistas e os depoimentos de meninas que estudaram com ela e que a conheciam. Todas elas relatam que Michelle era uma adolescente extremamente solitária, que não tinha amigos verdadeiros e que costumava contar mentiras.
O filme também analisa o quanto Michelle foi influenciada pela mídia e pela ideia de ser a “namorada de luto” e assim conseguir atenção. O filme mostra que Michelle era obcecada por Glee e que foi profundamente influenciada por acontecimentos da série. A trama da quinta temporada de Glee teve que ser alterada devido a morte de Cory Monteith, que interpretava um dos protagonistas da série.
O documentário então mostra como Michelle, que já era fã da série e de Lea Michele, a atriz que interpretava a namorada de Monteith e que era namorada do ator na vida real, se sentiu contemplada por aquele drama e também quis interpretar aquele papel. No filme, vemos Michelle repetindo, em mensagens, palavra por palavra falas da personagem de Lea Michele na série, e de entrevistas da atriz, em que ela fala sobre a morte de Monteith.
Aspectos técnicos
Claro que o documentário não tem como intenção culpar Glee ou qualquer outro produto que trate de morte, suicídio e luto, mas ele demonstra como uma pessoa influenciável como Michelle pode se deslocar tanto da realidade a ponto de querer viver o seu próprio luto.
Em relação aos seus aspectos técnicos, o filme não foge muito do estilo dos documentários de crimes reais. Ele se divide entre algumas poucas entrevistas com pessoas que de alguma maneira têm relação com Michelle, ou Conrad ou com o caso, imagens das mensagens que Conrad e Michelle trocaram e imagens do julgamento.
O filme traz muita informação e passa por todos os momentos do acontecimento, o antes, o durante e o depois. Também existe uma preocupação em mostrar e analisar o que se sucedeu depois do crime e durante o julgamento.
Ponto de vista
Mas é importante ressaltar que Eu Te Amo, Agora Morra tem um ponto de vista, como todos os documentários têm. Ele não mostra o lado de Michelle ou de seus familiares e nem dá a palavra a ela, mas dá voz à família de Conrad.
O documentário é dividido em duas partes grandes, que poderiam classificá-lo como uma minissérie. O tempo de filme é bom porque consegue transmitir todas as informações que circundam o caso, mas também o torna um pouco cansativo.
O mais interessante, de fato, é o caso, que é inusitado e raro. O acontecimento nos faz questionar até onde vai a influência e o quanto se pode culpar outra pessoa pelas questões que circundam alguém.
Eu Te Amo, Agora Morra: O Caso Michelle Carter vem na onda de uma série de documentários sobre crimes reais, mas tem como vantagem o crime que retrata.