Euphoria – 2ª temporada
Intenso e envolvente, o primeiro episódio de Euphoria – 2ª temporada já surge melhor do que toda a temporada anterior (que já era ótima). Zendaya mais uma vez prova porque é uma das mais espetaculares atrizes de sua geração. Esqueça a garota cheia de gracinhas do Homem-Aranha do MCU e veja o quanto ela entrega por aqui, seja no humor ácido ou no drama, em uma performance singular. Sua Rue é a âncora da narrativa, que coliga as demais tramas, enquanto desnuda a protagonista em seus vícios cada vez mais graves e nos relacionamentos (com a irmã Gia, com o amor Jules e com o novo amigo Elliot), ora empáticos ora tóxicos, explodindo para todos os lados (o episódio onde ela foge é um dos mais alucinantes).
Se na primeira temporada o showrunner Sam Levinson investiu mais no enredo, pontuando seus personagens em cada situação, dessa vez ele abre mão de uma história, para focar nos personagens e suas complexidades particulares, que vão, pouco a pouco, costurando uma teia maior, que nem sempre é conclusiva – ou para alguns, satisfatória –, mas que é honesta em sua premissa de elaborar cada caso em um caso.
Dessa maneira, figuras como Chris McKay e Kat Hernandez cedem espaço (ele logo no primeiro episódio para nunca mais; ela por tretas de bastidores com o criador, mais ainda aparecendo aqui e ali) para quem realmente importa: Cassie (cada vez mais sexy e mais louca em sua carência), Lexi (que começa tímida como sempre e cresce maravilhosamente no ato final), Fezco (que segue num crescente trágico desde o ano anterior e que vale acompanhar) e Jacob (cada vez mais a beira de fazer algo abominável).
Euphoria – 2ª temporada
Cal Jacobs ganha um grande e impactante momento de insight e revelação, mas tal qual Jules, ele cobre a primeira metade da temporada, enquanto que Ashtray tem seu destaque no último e catártico episódio. Maddy ainda sustenta sua narrativa do contraste de classes, mas dessa vez retorna mais atrelada ao caso improvável de Cassie e Jacob, que por mais clichê que possa parecer em obras do gênero, ganha força pela narrativa pulsante de Levinson, sempre mais artista do que diretor e ainda que ele extraia o máximo de seu forte elenco (e ele extrai), é na fotografia e nas composições que ele ganha destaque (indo de Titanic a Ghost, de O Segredo de Brokeback Mountain a Estou Pensando em Acabar com Tudo e Midsommar, até chegando em outras formas de arte, como O Nascimento de Vênus e Os Amantes, de Frida Kahlo – e todas essas referências em um único episódio).
Claro que voltando os holofotes para situações soltas entre os personagens, o cineasta se perde um pouco, como no caso da traficante Laurie, que fica bastante em aberto, mesmo com todas as promessas feitas nessa temporada (e que, portanto, deveriam ser cumpridas nessa temporada… mas ficará para a próxima). Existe também um elevado número de vezes que Levinson brinca com a expectativa do público, “prometendo” que algo horrível vai acontecer a qualquer instante, mas no final não é exatamente o que ocorre. Essa quebra gera uma interessante subversão, que funciona comigo, mas compreendo o impacto negativo em alguns espectadores (e deixa em aberto o potencial desse diretor para filmes de terror; ele praticamente está implorando por isso).
De volta a Rue, temos ainda um luto não superado e um flashback que volta inúmeras vezes para o mesmo ponto, destacando o purgatório onde a protagonista se meteu. Do outro lado, a peça de Lexi, que não só serve para reaver a amizade com sua antiga melhor amiga, como também para fazer um apanhado de tudo o que aquelas garotas vivenciaram nas duas temporadas (e além delas, no passado, do tempo além do tempo), onde o criador brinca com a metalinguagem e a ironia para expandir o escopo narrativo e fortalecer a importância de suas figuras, classificando Euphoria para o crepúsculo dos seriados modernos. Um grande exercício de construção de personagem.