Fahrenheit 451, queimando tudo até a última página
Em 1953, Ray Bradbury publicou seu livro mais conhecido, Fahrenheit 451, que conta a história de um bombeiro em um futuro distópico cuja sociedade abomina livros.
Considerado um romance de ficção científica soft, a obra nos apresenta um futuro onde os livros são proibidos e a principal função do corpo de bombeiros é queimar qualquer exemplar literário encontrado. Guy Montag, nosso protagonista, já está há anos na função de bombeiro, inclusive beirando uma promoção.
Seu pai e seu avô também queimavam livros e ele foi educado acreditando que ler fazia mal à saúde mental das pessoas, trazendo infelicidade e questionamentos desnecessários. Assim, sua esposa, Mildred, vive bitolada no ambiente das televisões interativas que ocupam as paredes da casa, tentando esconder seu vazio interior e seu medo de questionar o mundo.
Fahrenheit 451
Logo no começo da história, Montag conhece Clarisse, uma moça extrovertida, alegre e que usa sua intuição para interpretar o mundo e as pessoas. A partir daí, Montag vai realizar uma metamorfose de trabalhador obediente para homem em conflito. Clarisse praticamente abre seus olhos, mas de repente, desaparece. Sem sua amizade presente, ele deve questionar a sociedade sozinho e para isso, leva para casa um livro escondido.
A premissa é muito boa, afinal, vivemos em uma sociedade que (pasmem!) já queimou livros. Sobre censura também podemos pensar em 1984 de George Orwell e Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, mas a ideia principal de Ray Bradbury era enfatizar como a televisão e a mídia fazem o homem perder o interesse pela leitura e o aprendizado. Certamente muitas interpretações são válidas, tendo em vista que o livro é um clássico que inclusive já foi adaptado para o cinema duas vezes.
Em 1966, François Truffaut dirigiu e roteirizou Fahrenheit 451, com Oskar Werner no papel de Guy Montag e Julie Christie como Clarisse (fazendo também a esposa ignorante). O filme é bem fiel ao livro, alterando poucas coisas da história, mantendo a ideia principal, inclusive a faísca de esperança no final.
Tem mais…
Já esse ano, 2018, foi lançada mais uma adaptação, que, me perdoem, é uma bela porcaria. Ramin Bahrani também dirige e escreve o que nem sei se posso chamar de remake. A história mudou DEMAIS. Acredito que a intenção era boa em inserir telas gigantes pela cidade com “joinhas” ou carinhas tristes rolando, mas ficou um tanto patético. Temos Michael B. Jordan como Montag e Michael Shannon como seu chefe enfurecido, Capitão Beatty.
Apesar de ser um pouco poético demais, recomendo a leitura de Fahrenheit 451, e se gostam de adaptações, assistam ao filme de 1966. Só para constar, 451ºF é a temperatura da queima do papel, equivalente a 233ºC.