FARGO – 3ª Temporada (2016)
A terceira temporada dessa série de sucesso ainda narra uma boa história, mas perde o fôlego e o número de corpos.
Difícil mesmo era atingir o nível de brilhantismo da primeira temporada, algo que a segunda bateu na trave. Desta vez, por aqui, Noah Hawley experimenta mais, pira mais e procura caminhar por trajetos ainda mais singulares do que antes (algo que resultou na bem sacada, mas levemente desgastante Legion, e algo completamente autoral pra ele, pelo menos).
Agora ambientada em 2010, a nova temporada acompanha o conflito entre os irmãos Stussy, ambos vividos por Ewan McGregor. Emmit, o mais novo, é um homem feito e endinheirado, enquanto Ray não tem esse perfil. Por conta disso, ele acredita que o irmão mais novo lhe deve alguma coisa e contrata um drogado qualquer para roubar algo de valor dele. Mas, como regra da série, as coisas dão errado e terminam em morte. É assim que a detetive Gloria Burgle, interpretada por Carrie Coon, se envolve e passa a investigar o caso. No elenco de peso, mais uma vez, além dos já ótimos citados, ainda temos a lindíssima Mary Elizabeth Winstead como Nikki Swango, que passa de uma golpista para uma mulher em busca de vingança, ao longo dos episódios; e o extraordinário David Thewlis, como V.M. Varga, um vilão mais evidenciado que seus antecessores repletos de tons de cinza, assumindo como um repugnante agiota de grandes negócios, que faz com que a trama, desta vez, se fragmente em três núcleos, que por mais que se interliguem, também seguem rumos próprios e essa falta de foco algumas vezes afeta o espetáculo.
Entre as genialidades compostas por Hawley, temos um momento em Hollywood, um escritor de ficção científica e uma animação de um simpático robozinho intercalando com os episódios iniciais. Em outro, temos a intervenção de Deus, mas diferentemente de antes, onde o diretor confiava mais na inteligência de seu público, aqui ele faz questão de explicitar (ainda que ao seu modo) a brisa em cima da entidade e suas pontuais interferências na vida das pessoas (o que resulta em momentos curiosos e bem válidos). E por fim, a mais bem sacada entre todas as três temporadas, se dá com a brincadeira da fábula de Pedro e o Lobo, com um episódio inteiro dedicado ao tema, associando cada personagem (por exemplo, a policial é o Pedro, o vilão é o lobo, a ladra é o gato etc) a um instrumento musical, assim como algumas representações dessa história já fizeram.
No mais, a estrutura dessa temporada segue como as demais, colocando o policial protagonista como um tipo comum e simplório (Burgle é avessa a computadores e parece invisível aos sensores tecnológicos, vindo a ter uma iluminação e uma reviravolta positiva no desfecho, quando finalmente uma torneira se liga para ela); os bandidos como intelectuais quase imbatíveis (e associados a ursos, como predadores novamente), repleto de longos discursos com metáforas bíblicas ou mitológicas (além de Varga, ainda temos um asiático dançarino e um russo indiscreto); o casal do cotidiano que vai inevitavelmente virar o jogo, mas também se ferrar etc. O que senti mais falta por aqui, foi do banho de sangue, tão presente nas temporadas anteriores. O número de corpos cai bastante e a série salta do absurdista e da comédia de erros com suspense, para uma tramoia mais fantástica, típica de filmes do gênero policial, o que soa como uma certa perda de identidade que tinha sido tão bem estabelecida. Sim, Hawley mantém sua cinematografia sofisticada, diálogos memoráveis, um elenco de peso e inspirado, com tomadas sutis e impactantes, mas a perda de fôlego é evidente também.
A terceira temporada termina espelhando o começo (que segue sem muito maior sentido, apesar da associação imediata), com duas figuras antagônicas frente a frente em uma sala vazia, cada um com uma versão diferente para a mesma história (e o existencialismo é posto a prova por aqui, em mais de um episódio). Cinco anos depois, nos minutos finais do último episódio, Burgle interroga Varga em uma sala de aeroporto. Em cinco minutos, ela tem certeza que ele será preso naquele momento. Ele tem certeza de que será solto. E quando isso acontecer, o vilão diz “você saberá o seu lugar no mundo”. Mas o público nunca descobre essa resposta.
FARGO - 3ª Temporada (2016)
Nome original: FARGO
Elenco: Ewan McGregor, Carrie Coon, Mary Elizabeth Winstead, David Thewlis, Michael Stuhlbarg
Gênero: Crime, Drama, Thriller
Produtora: MGM Television, FX Productions, 26 Keys Productions
Disponível: Netflix
Queria saber que ganho a Mocinha ou o Vilão.
Oi, Iori. Não existe uma resposta, vai da interpretação de cada um. É um final aberto proposital feito pelos criadores, justamente para o público encontrar sua própria solução. No mundo real, não tem quem “ganhe” ou “perca”, assim como no desfecho dessa série. Portanto, dado o que foi mostrado, é provável que tanto ela terminado bem, quanto o criminoso também, que poderão continuar para sempre nesse jogo de gato e rato.
Abraço!