Fleabag – 1ª temporada, Phoebe Waller-Bridge é brilhante
Com um humor negro genial e singular, a atriz e roteirista Phoebe Waller-Bridge explora em Fleabag a agonia e o êxtase de estar vivo. A minissérie em seis episódios de meia hora, é sobre uma jovem londrina sexualmente ativa, igual aquela sua amiga maluquinha (todo mundo tem). Sem jamais ser nomeada, a personagem na verdade esconde um drama pesado, que é totalmente bem equilibrado na produção. Sua mãe morreu há três anos. Além disso, ela perdeu recentemente a melhor amiga, que se suicidou acidentalmente (isso mesmo que você leu).
O café que ela mantém é decorado com imagens de porquinhos da Índia, vai mal e ela precisa de dinheiro. O núcleo de personagens ainda conta com a irmã sistemática e bem sucedida, o cunhado alcoólatra, o ex-namorado sensível (numa inversão de papéis muito bem sacada) e o pai esquisitão, que é casado com a madrinha das filhas, interpretada pela ganhadora do Oscar 2019 de melhor atriz, por A Favorita, Olivia Colman.
Phoebe Waller-Bridge
Assim, sendo cúmplice do espectador, a protagonista cria uma relação imediata com o público. Isso faz com que torçamos por ela o tempo todo, mesmo nos atos mais indigestos. E ela fala bastante com a gente, sempre com comentários inteligentes e irônicos sobre situações ou sobre outros personagens. Mas, diferentemente de Frank Underwood, Deadpool e Ferris Bueller, a moça não está falando exatamente com o público. Nem ciente de uma plateia. É mais algo que se subentende como uma “conversa interna”, de quando conversamos com nós mesmos. Ou seja, pensamentos que muitas vezes não podemos explanar.
Fleabag surgiu como um stand-up escrito e atuado por Waller-Bridge em 2013 no Festival de Edimburgo. Tendo chamado a atenção da BBC, foi encomendada uma adaptação para TV. Não à toa, após o sucesso merecido, a autora criou outras séries renomadas, como Crashing (na Netflix), Killing Eve (na Globoplay) e Run (que chega em breve na HBO).
Tratando o universo feminino como poucos, Phoebe compõe aqui uma narrativa única, que não só atinge outros públicos de maneira sensacional (como o masculino, que é capaz de compreender boa parte das nuances, mas não 100%), como também alcança o ponto máximo com as mulheres. A cena dela no metrô, na abertura do segundo episódio, metaforizando a menstruação, é simplesmente brilhante. Assim como todas as grandes sacadas no episódio do retiro silencioso, somente com moças, que em contraponto, tem ao lado um retiro de homens que precisam externar sua misoginia em voz alta.
Fleabag
Sem jamais cair na armadilha de chocar por chocar, a rica dramaturgia desenvolve sua protagonista através de uma amargura sufocante (que muito além do luto, tem mais a ver com sentimento de culpa) disfarçada de ironia, arrogância e humor sujo. Phoebe Waller-Bridge, além de uma formidável roteirista, também é uma grande atriz e se encaixa perfeitamente no humor inteligente de sua protagonista sem nome, mas identificável para maior parte do público global, seja você londrino, francês, texano, brasileiro ou argentino.
É uma personagem que fala como a gente, vive problemas mundanos e comete os mesmos erros, em uma história cotidiana, onde a empatia é a chave. A genialidade reside na maneira como isso é mostrado na minissérie. Brilhante é pouco. Divertido é mais do que o suficiente. Fiquem de olho nessa mulher, porque ela está só começando.