Gato de Botas 2: O Último Pedido

A cultura pop tem uma relação de amor e ódio com spin-off – aquele negócio quando um personagem secundário faz tanto sucesso que ganha uma história própria como protagonista. Há resultados péssimos, como a série “Joey“, derivada de Friends, ou o filme “Han Solo“, história do melhor personagem de Star Wars; e exemplos ótimos, como a série “Better Call Saul“, derivada de Breaking Bad ou “Andor“, história do personagem menos interessante de Rogue One. “Gato de Botas 2: O Último Desejo” é o segundo filme do personagem que surgiu em Shrek 2 e, se tornando oficialmente sua própria franquia, ainda não decidi se entra no grupo dos ótimos ou péssimos.

Sooooomebody!

Shrek é até hoje uma das animações mais legais já feitas. Resultado de uma provocação à Disney – produzida por Jeffrey Katzenberg, que tinha saído da empresa de forma belicosa, como o Daniel Alves saindo do São Paulo; e cujo vilão Lord Farquaad tem a fuça parecida demais com o presidente da Disney naqueles anos, Michael Eisner – ele é a sátira que a gente precisava na época, dada a saturação dos contos de fada da década de 1990.

A fórmula deu tão certo que o filme ganhou uma continuação excelente (e, depois, duas continuações bem meia boca). E foi em Shrek 2 (de forma não irônica, um dos melhores filmes que eu já vi) que apareceu o personagem do Gato de Botas. Meio descartável, um alívio cômico bestinha, não tem nem um arco completo no filme. Mas por algum motivo, tal qual absolutamente tudo que compõe Shrek 2, o personagem deu certo.

Gato de Botas 2: O Último Pedido

Gato de botas ou gato de bolas?

Em 2011, o personagem ganhou um filme próprio, tentando beber do mesmo suco de sátira de Shrek, mas com um charme mais conquistador, numa mistura de “Don Juan” com “Zorro”. Teve uma recepção modesta, mas era certamente um filme melhor do que Shrek 3, de 2007 ou Shrek 4, de 2010.

Pensando nesse cenário, a continuação até demorou para chegar. 11 anos é muito tempo, deu pra gente perder três Copas nesse período, tá foda, faltavam 4 minutos, pra quê meter sete caras no ataque?

Mas o Gato está de volta, atirando seu charme para todos os lados. Dessa vez a história começa mais profunda, com nosso herói encarando a aposentadoria, diante da iminente ameaça da morte (da nona morte, no caso dos gatos).

Se o primeiro ato faz parecer que o longo intervalo entre os filmes serviu para amadurecer roteiro e audiência, infelizmente qualquer profundidade fica por aí: logo o filme volta a ser uma aventura tontinha, numa busca por um macguffin qualquer. Toy Story 3 me acostumou mal demais, me deu esperanças de voltar a chorar no cinema vendo animação, mas não foi dessa vez.

Gato de Botas 2: O Último Pedido

Mais do mesmo em Gato de Botas 2: O Último Pedido

Tal qual no resto do Shrekverso, o filme é recheado de piadinhas satirizando o mundo dos contos de fadas. Dessa vez, a grande adição é Cachinhos Dourados, numa versão muito maluca com sua família de ursos ameaçadores. As gags com elementos mágicos usados de forma inusitada e o absurdo de uma confraria de padeiros do mal trazem os momentos mais cômicos do filme, porém como nem todas as piadas encaixam, esses momentos acabam parecendo escassos. O filme carece de graça para a comédia que ele se propõe a ser.

A animação porém, está deslumbrante. Usando uma renderização meio aquarelada como se inspirada por Arcane, e algumas linhas de ação (impossíveis de não remetê-las a Spiderverso), o filme gera cenas lindas, exatamente por não se propôr a ser um 3D “convencional” (com muitas aspas na palavra).

O esmero na arte parece não encaixar em alguns aspectos, porém. Talvez por eu já estar acostumado ao mundo 3D de Shrek, ele parece deslocado em relação aos outros cinco filmes (meu deus, esse é o sexto filme da saga!).

Talvez com um tratamento mais legal no roteiro, eu não sentiria esse “tom fora” da linda animação. No fim, é um sentimento conflitante: as cenas são lindas e a textura do filme é embasbacante, mas ainda fica a impressão de que faltou algo – e não me refiro só a colocar um jogador mais experiente que o Rodrygo para a primeira cobrança de pênalti, meu deus, fora Tite.

Ainda assim, quem gostou do primeiro Gato de Botas certamente vai gostar desse. Falta ainda aquela sátira mais ácida que os dois primeiros Shreks trouxeram, mas dá pra passar de ano.

Gato de Botas 2: O Último Pedido

Nome Original: Puss in Boots: The Last Wish
Direção: Joel Crawford, Januel Mercado
Elenco: Vozes de Antonio Banderas, Salma Hayek, Harvey Guillén, Florence Pugh, Wagner Moura
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Produtora: DreamWorks Animation
Distribuidora: Universal
Ano de Lançamento: 2022
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