Generation
Temas adolescentes, tom maduro
A série Generation acompanha um grupo de adolescentes que navegam por romances, amizades, descobertas, primeiras experiências, enquanto lidam com suas famílias e suas próprias inseguranças.
Um dos pontos mais interessantes de Generation é o fato da série falar de vários personagens e de dar espaço relativamente igual para todos eles, é difícil, por exemplo, apontar quem exatamente é o protagonista da série. A atração é focada em um grupo de adolescentes que são amigos em maior ou menor medida, e que se relacionam entre si de maneira fraternal, romântica ou até que não se gostam. Os pais de alguns deles também ganham destaque.
As histórias de Generation
Chester (Justice Smith), que é um jovem gay assumido e extremamente feminino, se sente inexplicavelmente atraído pelo conselheiro da escola, Sam (Nathan Stewart-Jarrett). Chester parece ser muito confiante, ele vai para a escola com roupas tradicionalmente femininas, pinta as unhas, está totalmente fora do armário e não sente vergonha de quem ele é, mas ele tem dificuldades de lidar com sua atração por Sam que, claro, é um homem mais velho com quem ele nunca vai poder se relacionar.
Ao mesmo tempo, os gêmeos Nathan (Uly Schlesinger) e Naomi (Chloe East), que sempre foram muito unidos, começam a entrar em conflito constantemente. O pivô da briga é o namorado de Naomi, Jack (Connor Chavez), que vem trocando mensagens com Nathan também. Nathan, por sua vez, se assumiu bissexual recentemente, inclusive para a mãe deles, a super conservadora Megan (Martha Plimpton).
A tímida Greta (Haley Sanchez) está vivendo com a tia, Ana (Nava Mau) e está apaixonada por Riley (Chase Sui Wonders), mas não tem coragem de se declarar, apesar das duas estarem cada vez mais próximas. Riley lida com pais casados no papel e dividindo a mesma casa, mas que mal se falam e mantém relacionamentos com outras pessoas. A menina nunca se relacionou com outra garota, mas também se sente atraída por Greta.
Arianna (Nathanya Alexander), filha adotiva de um casal gay (John Ross Bowie e J. August Richards), disfarça sua insegurança com uma série de piada problemáticas, que flertam com a homofobia. Já Delilah (Lukita Maxwell) está prestes a lidar com a situação mais difícil de sua vida.
Ao mesmo tempo, Generation também se preocupa em retratar a vida de alguns dos pais desses jovens, principalmente quando elas se entrecruzam, de maneira negativa ou positiva, com a de seus filhos. Quem tem mais destaque é a família de Nathan e Naomi, já que a mãe deles não aceita completamente a sexualidade do filho, ainda que ela finja que o faz. Ela e o marido, Mark (Sam Trammell), que aceita Nathan de uma maneira mais abrangente, são muito próximos dos pais de Arianna, que por sua vez, lidam com uma filha que ataca os próprios pais com frequência. A tia de Greta, Ana, que é jovem e descolada e que parece compreender todos esses adolescentes, é o oposto de Megan, ela não só aceita a sobrinha, como percebe antes da própria Greta que ela está interessada em Riley.
Vidas que se cruzam
As vidas desses adolescentes se cruzam de várias maneiras e é isso que conecta não só os personagens, mas também toda a série. Boa parte deles estuda na mesma escola e, de uma maneira geral, eles são um grupo de amigos que se dá bem, ainda que um ou outro se goste mais. Naomi é a melhor amiga de Arianna e de Delilah, mas para além disso, elas se relacionam de outras maneiras, como por exemplo, quando Arianna começa a ficar com Nathan, o que incomoda Naomi, ou quando Naomi e Delilah se apaixonam por Cooper (Diego Josef) e decidem que vão ter uma relação a três.
Riley é a melhor amiga de Chester, e não demora muito para que ela introduza Greta na relação e que os três se tornem inseparáveis. Chester logo nota que as meninas se gostam, mas que são incapazes de se declararem. Chester se apaixona por Sam, mas vendo que essa relação é impossível, começa a namorar Bo (Marwan Salama). Antes disso, no entanto, ele topa fingir que é namorado de Nathan para irritar a mãe dele, e eles de fato conseguem irritar Megan, que se incomoda não só com a bissexualidade do filho, mas também com Chester, que é um homem negro muito feminino, mas enquanto para Chester isso é um favor e no máximo uma diversão, Nathan realmente está apaixonado por Chester e está usando do estratagema para se aproximar dele.
A série então, vai ganhando mais camadas justamente nas relações desses personagens. O nome da atração dá a entender que a ideia é retratar a geração Z – os nascidos do final dos anos 1990 até o início dos anos 2010 -,e é isso que vemos na tela, ainda que o retrato aqui possa ser exagerado ou não totalmente realista. Esses jovens tem relacionamentos não monogâmicos, experimentam sua sexualidade, experimentam drogas, tem suas primeiras vezes, e ao mesmo tempo que Generation fala desses jovens, ela também retrata experiências que são universais e que conversam com todos que já foram adolescentes.
Aspectos técnicos de Generation
É importante ressaltar que Generation é uma série voltada para o público adolescente e que, claro, visa falar com eles, as tramas, portanto, refletem questões dessa época da vida, mas isso não impede que a série faça sentido para quem é mais velho, o que realmente acontece. O roteiro, no entanto, é bem pensado e ainda que se preocupe com romances, términos e amizades, a série tem uma voz madura.
O que a série faz muito bem, por exemplo, é separar adolescentes que são mais maduros, e que já são praticamente adultos, de adolescentes que são apenas adolescentes e se comportam assim. Chester é um adulto, ele perdeu a mãe muito cedo e para viver como vive, precisa de fato ser muito maduro, ainda assim, ele não é um personagem endurecido, ele é debochado, divertido e de bem com a vida. Não é de surpreender, portanto, que ele se apaixone por um homem mais velho – que nem é tão velho assim, já que tem apenas 28 anos. Também não fica muito claro se Sam não corresponde aos sentimentos de Chester, mas ele, sendo um adulto responsável, recusa os avanços do jovem.
Ao mesmo tempo, Naomi e Nathan já são adolescentes mimados, que se comportam quase como crianças, Naomi até chega a ser irritante. É uma pena que mais personagens femininas sejam retratadas como fúteis e irritantes, como acontece com Naomi e Arianna, que é abertamente preconceituosa em vários momentos, do que personagens masculinos.
Um dos pontos muito positivos da série é que ela trabalha com personagens muito variados entre si e que ela se preocupa em cobrir várias representações, não só referentes a orientações sexuais, mas também raciais. A série tem personagens negros e latinos, heterossexuais, bissexuais, homossexuais e assexuais, as tramas a que somos apresentados são um grande painel dessa geração retratada e, automaticamente, de todas as gerações.
O roteiro também é bem cuidadoso em dar espaço para que quase todos esses personagens brilhem, embora um ou outro tenha mais destaque, como Chester e Riley. Existe também a clara tentativa de dar voz aos adultos dessa trama, e de fazer a audiência entender como que eles pensam, dando até o beneficio da dúvida para Megan, uma mulher que parece terrivelmente preconceituosa quando a olhamos pela primeira vez, mas que tem a chance de mostrar seu ponto de vista ao longo da história.
Generation conta com boas atuações, o elenco jovem é de fato muito bom e todos estão muito dentro de seus personagens. Chase Sui Wonders se destaca, sua personagem é adorável e é muito fácil gostar dela, Martha Plimpton também está ótima e a dualidade de sua personagem é muito interessante, no entanto, quem chama mais atenção mesmo é Justice Smith, ótimo no papel de Chester, ainda que em alguns momentos o personagem soe um pouco caricato, é legal ver um personagem negro e gay tão feminino quanto Chester é. O figurino dele é outro elemento que chama bastante atenção, muito divertidos, combinando demais com o personagem e nos fazendo entender quem Chester é.
Ainda que Generation, em muitos sentidos, retrate questões que outras séries adolescentes já retrataram, ela o faz de maneira mais madura, quase adulta, a atração é uma espécie de passeio pela vida desses jovens, seja com a intenção de reconhecimento, seja com a intenção de conhecimento.