Gostosas, Lindas e Sexies, comédia nacional
Moderno e atrasado ao mesmo tempo
As amigas gostosas, lindas e sexies Beatriz (Carolinie Figueiredo), Tânia (Lyv Ziese), Ivone (Cacau Protásio) e Marilu (Mariana Xavier) são inseparáveis. Todas são mulheres fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade, mas isso não as impede de saírem, se divertirem e se amarem como são.
O grande chamariz do filme é o fato das quatro protagonistas serem mulheres consideradas acima do peso. A ideia por trás do filme é justamente essa: dar voz às pessoas que, no cinema, geralmente são relegadas ao segundo plano, isso quando não são motivos de piadas e de cenas depreciativas.
Gostosas, Lindas e Sexies
As histórias das protagonistas não são especificamente ligadas aos seus corpos, embora isso apareça em alguns momentos do filme. Beatriz, por exemplo, escreve para uma revista de saúde e boa forma e é pressionada o tempo todo para perder peso por sua chefe (Eliane Giardini) e por suas colegas de trabalho. Tânia vive querendo chamar a atenção do marido, mas é sempre ignorada. Ivone é dona de uma rede de salões de beleza e mãe de dois filhos. Jjá Marilu tem uma série de bicos e mantém um caso com um garoto bem mais jovem.
O que é interessante é que as quatro mulheres parecem muito bem resolvidas com seus corpos e suas sexualidades, o que é certamente um ponto alto e inovador quando se trata da maneira com que as mulheres fora dos padrões geralmente são retratadas. Tânia pode não se sentir segura em relação ao seu casamento e Ivone pode ter dificuldade de se apaixonar, mas nenhuma delas fala em nenhum momento que está infeliz com seu corpo ou que deseja emagrecer.
Moderno, mas nem tanto
Se o filme acerta por um lado, peca por vários outros. Gostosas, Lindas e Sexies se vende como um filme pautado no feminismo e que quer quebrar padrões, mas repete uma série de erros que o feminismo condena e que aparecem aos montes em outras comédias baseadas em estereótipos.
Para começo de conversa, todas as mulheres magras do filme são malvadas, cruéis e não perdem uma chance de menosprezar as protagonistas. Não é porque a gente quer dar o protagonismo para as mulheres gordas que devemos transformar as mulheres magras em vilãs, primeiro porque isso é bater mais uma vez na tecla da rivalidade feminina, segundo porque não é realista.
Ai, ai, ai…
As mulheres magras do filme, por exemplo, parecem não ter qualquer problema em chamar as quatro protagonistas de “gordas” “enormes” “baleias” em público e a todo momento. Claro que a gordofobia é um assunto sério e real, que precisa ser discutido, mas também soa absurdo pensar que pessoas adultas passariam o dia praticando bullying uma com as outras no meio do ambiente de trabalho.
Em outro momento, Beatriz toma uma bebida batizada – claro, pelas mulheres magras – e faz uma dança sensual em uma festa. Primeiro é preciso dizer que a dança, embora sensual, não é pornográfica e nem explícita e que ninguém na festa parece chocado com a apresentação de Beatriz, mas no dia seguinte ela diz que se comportou como “uma vadia alucinada”. Por que o filme que se diz feminista, acha que é plausível chamar uma personagem de vadia ou julgar uma dança – seja ela de qual tipo for – que ela fez?
Boas intenções
É notável que o filme parte de uma boa intenção e que o tema é importante, mas justamente por isso que o roteiro deveria ser mais cuidadoso. Não adianta empoderar as mulheres fora dos padrões, dando a elas muita autoestima, vidas sexuais movimentadas e carreiras importantes, ao mesmo tempo em que se escreve diálogos onde elas mesmas se chamam de vadias ou determinar que mulheres gordas e mulheres magras são inimigas e que só é possível fazer amizade entre pessoas com o mesmo tipo físico que o seu.
Para além dessas questões, o filme, que é uma comédia, tem poucas cenas de fato engraçadas e as tramas parecem bobas e quase sem sentido. Enquanto Beatriz e Tânia têm histórias um pouco mais claras e desenvolvidas, as tramas de Marilu e Ivone parecem perdidas e pensadas de última hora.
Marilu tem uma série de empregos, se relaciona com um garoto mais jovem, e tem um quarto secreto onde ninguém pode entrar. O telespectador fica o filme inteiro se perguntando o que será que ela tanto esconde e quando descobre, se sente até meio estúpido. Já Ivone, que tem uma carreira bem-sucedida, se envolve em uma prática sexual, que ela considera vergonhosa, mas que na realidade, não é nada demais. Certamente o filme é bem-intencionado, mas infelizmente, só isso não é o suficiente.
Aspectos técnico de Gostosas, Lindas e Sexies
A produção é bem-feita e relativamente cuidadosa. O filme tem bons cenários, bons figurinos e retrata suas protagonistas como glamourosas, bonitas e sexies, o que é o seu intento. As quatro protagonistas, que são boas atrizes, também se saem bem, parecem focadas em suas personagens. No entanto, nenhuma delas é engraçada ou especialmente divertida, o que é um problema em um filme de comédia.
O grande problema aqui é o roteiro, que além dos problemas em relação às mensagens que ele passa, parece não ter muito sentido. O filme foi feito para exaltar as quatro protagonistas, o que por si só, não é um problema. O problema mesmo é ele não ter uma história clara e ficar vagando entre assuntos, geralmente ligado a relacionamentos.
A ideia por trás de Gostosas, Lindas e Sexies não é só ótima, como também é necessária, mas infelizmente, o filme não entrega quase nada do que promete e acaba sendo muito mais conservador do que filmes que não se dizem modernos ou feministas.