Hellboy Animated: A Espada das Tempestades
Ou: como deveria ser um desenho animado ideal do vermelhão
Sendo A Espada das Tempestades uma das duas animações produzidas no período dos filmes do Guillermo Del Toro (por isso temos Ron Perlman, Selma Blair e Doug Jones na dublagem original), mas sem o mexicano envolvido, temos o criador Mike Mignola mais à vontade com seus personagens e universo. Assim, ele expande as ideias que tinha nos quadrinhos, mas ainda compreendendo a mídia que está utilizando. Dessa forma, permite mais escapes cômicos e até certas tiradas que só funcionariam em um produto animado, e não exatamente nos quadrinhos expressionistas que ele tão bem realiza.
Junto de Tad Stones nos roteiros, Mignola leva seu protagonista para o Japão, cenário este pouquíssimo explorado nas páginas dos gibis. Lá ele terá de lidar com entidades ancestrais, monstros asiáticos e uma trágica história de amor entre samurai e a filha de um senhor feudal. A princípio, a trama coloca o vermelhão ao lado de Liz e Abie Sapien, repetindo a dinâmica dos filmes dos anos 2000, para depois então separá-los, mostrando mais da rotina do B.P.D.P. Sendo o autor da obra envolvido, fica evidente várias passagens e personagens mostrados na trama. Por isso é Kate Corrigan quem vai na missão japonesa junto de Hellboy.
Entre as várias criaturas que ele tem de enfrentar, tem uma cena maravilhosa que referencia diretamente a curta HQ “Cabeças”. O contexto é diferente dos quadrinhos, mas o resultado é praticamente o mesmo. Levado para uma dimensão do passado e, portanto, fora do mapa atual, o protagonista cai de cabeça em inúmeras sequências enervantes, que trabalham melhor sua personalidade desencanada e soturna, tal qual no material original. E isso algo que nenhum dos três filmes jamais soube fazer.
A Espada das Tempestades
Misturando uma vibe meio “Os Aventureiros do Bairro Proibido” no começo, caminhando por uma estrada meio Tim Burton, culmina ainda em elementos Lovecraftianos típicos desse material, fazendo da viagem ao Japão Feudal uma desculpa certeira para explorar novos elementos e injetar mais energia à narrativa, que flui bem do começo ao fim, em seus 77 minutos de ação, mistério e tensão.
O traço cartunesco da animação tenta se aproximar o mínimo do estilo de Mignola, mas também funciona dentro dos parâmetros de produções americanas, com um design mais limpo e anguloso, às vezes exagerado demais (o que gera comparações inevitáveis com “As Aventuras de Jackie Chan”), mas que ainda consegue manter o sangue e o estranhamento em alta, elevando a idade do público-alvo.
Mesmo com o clímax apático e alguns efeitos mal executados esteticamente falando, a animação A Espada das Tempestades num todo é bastante competente. Portanto, sabe valorizar o original, à medida que constrói um material particular e próprio, que poderia ter funcionado muito bem em uma série animada, ao invés de apenas dois curtas. E você não precisa conhecer o Hellboy dos quadrinhos para curtir esses desenhos animados. Que, inclusive, podem servir de porta de entrada para novos fãs do vermelhão.