Hunters – 1ª temporada – Salada de ideias

Série se arrasta em uma salada de ideias e de linguagens, mas carece de identidade

Existe uma grande pretensão aqui em Hunters. O seriado da Amazon Prime teria se saído melhor se tivesse optado em seguir um único caminho, ao invés do caos dramatúrgico que escolheu. A produção mescla o grafismo violento e cômico de Tarantino com passagens sérias e pesadas de flashbacks históricos à lá produções da HBO; citações nerds e referências à cultura pop jogadas forçadamente com uma estrutura clássica de jornada do herói típica de obras juvenis de Spielberg, mas com a pegada de mestre e aprendiz como visto em Kingsman. Ufa!

A série narra a história de um jovem americano que vê sua avó judia ser assassinada e descobre que o melhor amigo dela reuniu um time de habilidosos seres para caçarem nazistas infiltrados nos EUA dos anos 70, para implantar um Quarto Reich. Claramente o roteiro empresta elementos reais da Operação Paperclip e elabora a partir disso, sempre colocando em cheque os atos dos justiceiros, à medida que ainda agrega a trama de uma policial investigando o caso de idosos imigrantes (os nazis), com um assassino em sua cola.

Hunters

Existe muita coisa a ser contada por aqui, inúmeras linguagens disputando espaço e nenhuma identidade na direção. Ora vemos o super dramático e esforçado Logan Lerman com seus olhos chorosos e irados no drama do luto e da descoberta dessa força-tarefa; ora somos levados para os campos de concentração com momentos pesadíssimos. E de repente temos uma estranha e deslocada incursão de linguagem fantasiosa, quase um devaneio quebrando a quarta parede. Nada nunca orna por aqui e essa, definitivamente, não parece ter sido a intenção.

Hunters

Não se deixe apegar ao nome de Jordan Peele como um dos produtores, pois pouco de sua essência emana sobre a obra, que senão uma maior representatividade no elenco (mas que não foge dos estereótipos) e nem do mestre Al Pacino como um dos protagonistas, que segue numa atuação morosa, transbordando experiência e cinismo, ainda que segure as pontas por boa parte dos 10 arrastadíssimos episódios (daria para ter condensado tudo tranquilamente em quatro; considerando ainda que o primeiro episódio tem a duração de um filme, isso mesmo, 1h30).

Al Pacino em Hunters
Al Pacino em Hunters

O elenco traz muitos rostos conhecidos das telonas e das telinhas, assim, é incapaz de esconder seus clichês e se amontoa numa colcha de retalhos, com diálogos pavorosos. E mesmo que as tramas paralelas muitas vezes desgastem o espectador, são justamente as histórias dos demais personagens que sustentam a narrativa até o final, pois, uma hora ou outra, nos apegamos a eles.

Existe uma grande e inventiva reviravolta no último episódio (que confesso ter sacado quatro capítulos antes) e também um gancho poderoso no final. A série faz uso de uma lenda do pós-guerra para dar gás a uma segunda temporada. Existem discursos bem intencionados aqui, atuações valorosas e um bom trabalho de direção de arte, provando a grande aposta feita na produção. Mas se quiser sobreviver, Hunters primeiro vai ter que decidir qual linguagem seguir e aprender a dizer muito com pouco, sem assassinar o interesse do público pelo caminho.

Hunters

Nome Original: Hunters
Elenco: Al Pacino, Logan Lerman, Lena Olin, Carol Kane
Gênero: Crime, Drama, Mistério
Produtora: Monkeypaw Productions, Big Indie Pictures, Sonar Entertainment
Disponível: Amazon Prime Video

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