Judy: Muito Além do Arco-Íris, not in Kansas anymore
Uma atriz de imenso sucesso cai no ostracismo e então recebe uma chance de voltar ao estrelato. Renée Zellweger certamente foi a escolha perfeita para o papel de Judy Garland no longa Judy: Muito Além do Arco-Íris, que estreia no Brasil dia 30 de janeiro – mas já pode ser conferido em algumas sessões especiais a partir de 16 de janeiro. Não à toa, Renée parece extremamente confortável no papel, interpretando com uma desenvoltura merecedora da indicação ao Oscar que ela recebeu.
O filme conta um pequeno pedaço da vida da atriz e cantora: particularmente sua turnê por Londres, em 1969. Mesmo focando em um trecho curto de sua carreira, ele é ilustrado com alguns flashbacks e diálogos explicativos contando outras partes da vida de Judy.
Judy: no place like home
A estreante Darci Shaw interpreta a jovem Judy Garland, nos bastidores de O Mágico de Oz. Se vale como uma crítica ao filme – e um imenso elogio para Shaw – eu terminei o filme sentindo que essa época poderia ser mais explorada. Afinal, carreira mirim de Judy é só brevemente mostrada, e relatos apontam que foi por conta desse sucesso todo ainda na infância que começaram os seus vícios.
A imensa pressão para ter um corpo hollywoodiano e os abusos trabalhistas dos produtores parecem ser os responsáveis pelos vícios em remédios e, posteriormente, outras drogas. Sem contar que é um imenso prazer assistir a jovem Darci Shaw atuar e as cenas que se passam na década de 30 são maravilhosas.
Mas o filme realmente pertence à Renée Zellweger. Ela se entregou ao papel: ela canta, dança e consegue passar emoções apenas com o olhar. O roteiro, assinado por Tom Edge (da série The Crown), escolhe por não se dispersar muito entre outras fases da vida da atriz. Diversas cenas também são claramente ficcionais, entretanto, servem bem para montar a personagem Judy e construir seu caráter.
Polêmicas
O filme já estreia envolto em algumas polêmicas: a atriz Liza Minnelli, filha de Judy Garland (e, vergonhosamente, eu só descobri isso assistindo ao filme) xingou muito no Facebook, dizendo que não aprovava o longa, que ele era 100% ficção, e que sequer ela teria se encontrado com Renée Zellweger. Além disso, ela disse que não veria o filme.
Em defesa do longa, a representação de Judy é sempre extremamente respeitosa, mesmo quando mostra os vícios (em especial o alcoolismo) e dificuldades de trabalhar com Garland. Constantemente, o filme nos lembra da sua solidão e dificuldades. E, por mais baixo que Judy Garland esteja, ela nunca perde a pompa e o bom humor. Dessa forma, o roteiro acerta em não pisar na imagem da atriz. Se mudar de ideia e assistir ao filme, acredito que Liza Minnelli provavelmente também mudará sua opinião.
Em algum lugar além do arco-íris
A leve decepção que eu tive com o filme é, honestamente, completamente pessoal. Eu, como indivíduo consumidor de filmes, estou meio exausto de cinebiografias mostrando o ponto mais baixo da carreira de artistas. Talvez por isso eu esperava ver mais da jovem e ingênua Judy Garland nos bastidores de “O Mágico de Oz”.
De resto o filme é extremamente correto em sua concepção: uma atuação brilhante para sua personagem principal (nos dois momentos de sua vida), personagens secundários que não desapontam, um roteiro respeitoso e, claro, tem “Somewhere over the rainbow”. Se não tivesse, seria imperdoável.