Juventude – primeiro filme de ficção do Djibouti

Este filme Juventude é um marco: o primeiro longa dirigido por uma nativa do Djibouti, um pequeno país posicionado no “chifre da África”, às margens do Golfo de Aden, junto à Somália e à Etiópia, nação pobre que, a duras penas, vai melhorando gradativamente seu IDH, mas ainda longe de se livrar de suas mazelas sociais.

É nesse pequeno território que se desenrolam as histórias de três adolescentes prestes a se formar no ensino médio: Asma (Tousmo Mouhoumed Mohamed), Hibo (Bilan Samir Moubus) e Deka (Amina Mohamed Ali). Uma delas, muçulmana e pobre, deseja ser médica e se cobra muito; outra está indecisa entre estudar na Universidade Local ou tentar a carreira acadêmica na França, antigo colonizador, ao mesmo tempo em que está envolvida com um homem casado e mais velho (nesse meio tempo, procura se reaproximar do próprio pai); e uma outra é rica, sofre um aborto espontâneo logo no início da trama e tem uma vida mais acomodada e garantida. As três são amigas e se apoiam e interagem entre si em situações quase sempre universais.

Assim sendo, nada mais próximo de nossa realidade, e é este o sabor mais doce neste drama africano: como um país tão distante pode ter matizes tão próximas de nossa realidade.

Juventude

Juventude

Um dos pontos altos, repare, se dá no momento em que uma das garotas resolve colher impressões de um dos idosos de sua comunidade. A atenção que se dá aos relatos dos mais velhos mostra o carinho que a cultura local dá a eles.

A interpretação das três atrizes principais é bastante razoável, o que denota uma boa mão na direção de atores. A diretora Lula Ali Ismaïl passou boa parte da vida no Canadá, é atriz de formação, mas estreou na direção com Laan, de 2011: ela se vale de sua visão feminina e sua expertise para conduzir Asma, Hibo e Deka por seus caminhos.

O cinema africano não poderia estar melhor representado aqui por este Juventude: história simples, com bom trabalho de fotografia e sensibilidade na condução. Um destaque especial para os figurinos: as roupas coloridas e de cores quentes nos transmitem uma sensação de imersão no ambiente do Djibouti. Por não optar em aprofundar a abordagem nas evidentes desigualdades sociais, Ismaïl nos deixa em um ambiente confortável e cria uma sensação de simpatia pelo seu país: em determinada cena, uma personagem deixa sua bolsa na areia sem ninguém que a cuide, e vai tomar um banho de mar. Um ar de paz social se instala em nós, um ambiente sem tantos recursos tecnológicos sofisticados, mas pacífico.

Para resumir, assista Juventude sem sustos: um filme calmo e tranquilo, de um cinema que pode se transformar em produto de exportação para os djibutianos, se conseguirem dar continuidade ao processo de fazer filmes delicados e interessantes.

Juventude

Nome Original: Dhalinyaro
Direção: Lula Ali Ismaïl
Elenco: Amina Mohamed Ali, Tousmo Mouhoumed Mohamed, Bilan Samir Moubus
Gênero: Drama
Produtora: Samawada Films
Distribuidora: Supo Mungam Films
Ano de Lançamento: 2018
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