Lizzie, mais uma teoria sobre Lizzie Borden
Lizzie Borden (Chloë Sevigny) é uma mulher adulta, que vive com o pai, Andrew (Jamey Sheridan), com a irmã, Emma (Kim Dickens) e com a madrasta, Abby (Fiona Shaw) nos Estados Unidos, na era Vitoriana. A família, então, contrata uma nova criada Bridget (Kristen Stewart), de quem Lizzie se torna bem próxima.
A história se complica quando o pai e a madrasta de Lizzie são assassinados a machadadas, dentro de casa. E as suspeitas recaem sobre ela.
Lizzie é um filme que se propõe a discutir os famosos assassinatos de Andrew e Abby Borden, que aconteceram em 1892.
A verdadeira Lizzie Borden
Lizzie Borden pode até não ser um nome muito conhecido aqui no Brasil, mas ela é uma personalidade famosa nos Estados Unidos. Isso porque Lizzie foi a principal suspeita dos assassinatos de seu pai e sua madrasta.
A verdade é que se sabe pouca coisa sobre o que de fato aconteceu no dia 4 agosto de 1892. Lizzie contou à polícia que entrou em casa e encontrou o pai morto no sofá. Então, gritou para que a criada, Bridget, os chamasse.
O resto das histórias que rondam o caso, são em sua maioria histórias não confirmadas ou boatos. Soma-se isso ao fato da polícia ter sido descuidada com provas. O resultado foi um caso que nunca foi solucionado.
Séries sobre crimes reais – saiba mais aqui
O que se comenta é que a família Borden já vivia em uma grande tensão. Lizzie e Emma não se davam bem com a madrasta, que elas consideravam uma interesseira. Além disso, Andrew Borden tinha, recentemente, colocado John Morse, o irmão de sua esposa, como beneficiário no seu testamento.
Também sabe-se hoje que a maioria das pessoas que estavam na casa poderiam ter cometido os crimes. Então, Emma, Bridget ou John também são suspeitos, embora a culpa tenha recaído somente em Lizzie.
Ela foi a julgamento. Mas foi absolvida porque o júri considerou que uma mulher na sua posição não seria capaz de cometer um crime tão brutal. Mas àquela altura a absolvição de Lizzie não queria dizer nada. O caso já tinha ganhado notoriedade e sido destrinchado pela imprensa. A ideia de que ela tinha, de fato, cometido os assassinatos já estava no imaginário popular de uma maneira tão forte que ela se tornou uma figura da cultura pop. Foram feitas músicas sobre o crime, e todo ano, no aniversário do acontecimento, os jornais reviviam tudo e citavam Lizzie mais uma vez.
A Lizzie Borden do filme
Lizzie já é o terceiro filme que aborda esta história. A trama gira em torno da teoria de que ela teria mantido um caso com Bridget. E que quando descobertas pelo pai de Lizzie, teriam planejado o assassinato.
Claro que ninguém nunca confirmou essa teoria, embora ela não seja completamente absurda. Na época dos crimes Lizzie tinha 32 anos e era solteira, o que era para o período, no mínimo estranho. Além disso, existem histórias sobre um possível caso posterior de Lizzie com a atriz Nance O’Neil. Mas é compreensível que esse tenha sido o ponto de vista escolhido pelos autores do filme, afinal, seria uma temática que combinaria com os dias de hoje. Além de tornar a história que já é pesada, ainda mais cabeluda.
Mesmo assim, o filme não explora isso tanto assim. Em boa parte do longa a relação entre Lizzie e Bridget fica restrita a uma amizade bem próxima, em que elas se ajudam mutuamente. Então, para quem vai assistir ao filme sem saber da sua trama completa, fica com a impressão, durante bastante tempo, que as duas são apenas amigas. No entanto, isso não é uma coisa ruim, já que aumenta o suspense, deixando o público na expectativa para quando que o relacionamento vai dar um passo a mais. Além disso, fica claro que a ideia por trás do filme não é vender uma história polêmica ou chamar atenção especificamente para isso, já que o romance é mostrado de maneira bem delicada.
Boatos…
Em compensação, o filme praticamente toma um banho nos vários boatos que circundam o caso de Lizzie. Isso não é exatamente ruim, uma vez que se sabe pouca coisa sobre o que de fato aconteceu. Mas não se pode dizer que o filme é necessariamente verdadeiro.
Usa-se a ideia de que a família vinha recebendo ameaças há um tempo. É verdade que o pai de Lizzie não era muito querido na cidade, mas ninguém tem certeza sobre as ameaças. E também a história de que Andrew teria matado alguns pombos que Lizzie criava na época do assassinato, aumentando assim a raiva da filha.
Para além do que foi pensado e conjecturado na época, provavelmente até pelo culpado do crime, o filme coloca conceitos atuais na história. Como por exemplo o machismo que circula a figura de Andrew; a opressão das mulheres da casa, seja Lizzie, Emma, Bridget ou Abby. O que é interessante, afinal, as pessoas assistirão ao filme com os olhos de hoje e esses são assuntos que ainda precisam ser discutidos.
Como não existe resolução para o caso, o filme faz o que pode nesse quesito, usando as histórias que cabem dentro da teoria que ele apresenta. O ideal é assistir pensando que essa é uma versão dos fatos, e não necessariamente a verdade.
Aspectos técnicos
É natural que um filme que trata de um assunto tão pesado, use de cores mais escuras para criar o ar sombrio que precisa ser passado. A fotografia, então, é escura e os cenários são lúgubres e quase macabros. O mesmo estilo se manifesta nos figurinos, que embora muito realistas, são em sua maioria escuros, com predileção pelo preto e azul escuro. O filme faz no geral, um bom retrato da época em que se passa.
Outro ponto interessante é que ele não abusa na quantidade de sangue. Isso poderia ter sido uma saída fácil quando se fala de um crime como o caso de Andrew e Abby Borden, cuja arma do crime, suspeita-se que seja um machado. Embora isso nunca tenha sido comprovado. O sangue que aparece é pouco, e isso não faz tanta diferença na trama, já que o diretor não parece focado em explorar o crime em si, mas sim a relação de Lizzie e Bridget.
A atuação de Chloë Sevigny é boa, mas não chama muita a atenção. Lembrando que é sempre difícil retratar uma personagem que de fato existiu. Ainda mais uma com a fama de Lizzie Borden. Já Fiona Shaw, embora apareça pouco e tenha pouco destaque, está, como sempre, ótima. Kristen Stewart, por sua vez, não emplaca muito como Bridget e seu sotaque irlandês também não ajuda.
O filme começa interessante
Até segura o espectador durante um tempo, mesmo que ele seja um tanto quanto lento. Mas como ele se alonga mais do que o necessário, acaba se tornando um pouco cansativo. O final, que é completamente diferente do resto do filme, uma vez que acontece muito rápido, não é tão satisfatório quanto poderia, mas é interessante.
Lizzie é um filme que faz bem aquilo que ele se propôs a fazer: contar uma hipótese do que pode ter acontecido no dia 4 de agosto de 1892, mas não é o registro definitivo sobre o caso de Lizzie Borden. O filme entra em cartaz no dia 3 de janeiro.