Luke Cage 2ª temporada, quanto pesa o Harlem?

Consolidado como herói do povo após os eventos da primeira temporada e da estranha participação em Defensores, Luke Cage ganha até mesmo um aplicativo que indica onde ele está pelo bairro, camisetas com frases personalizadas (e com easter-eggs a Power Man) e até sessões televisionadas com seus incríveis poderes e habilidades. Entre uma foto e outra com o público que o admira, Luke segue o romance com Claire, usando a Barbearia do Pop como “base de operações”, onde utiliza um mural para mapear o crime local.

O mais interessante nessa segunda temporada, porém, não é a imparável ascensão de Mariah, ou a chegada do poço de vingança representado por Bushmaster, mas sim ele próprio. O maior desafio do momento é o próprio Cage, sua impaciência com o crime que se desdobra em outros, em drogas sintéticas utilizando seu nome como marca, em criminosos escapando por brechas na lei, do reencontro com o pai ausente etc, fazendo com que ele utilize uma brutalidade cada vez maior e desnecessária (já que um tapa dele é suficiente pra nocautear qualquer pessoa normal), o que o leva a uma inevitável ruptura com sua namorada, que se afasta do meio ao longo do restante da temporada. Bob Fish é outro que sai de cena, quando tem de fazer uma transfusão com a filha que descobriu, enaltecendo os pontos de paternidade e maternidade, importantes panos de fundo no enredo.

Simone Missick e Mike Colter em Luke Cage
Simone Missick e Mike Colter em Luke Cage

Enquanto Luke tenta se encontrar, a medida que enfrenta novos desafios que prometem levar o Harlem ao caos mais uma vez, acompanhamos outras subtramas tão interessantes quanto. O destaque, claro, fica com Misty Knight, que começa a trama tendo de superar a perda do braço direito, após o desfecho de Defensores. A personagem, de longe a melhor de toda a série (desde a primeira temporada, aliás), ganha ainda mais camadas, pois além dessa perda, ela ainda começa a ver a sombra corrupta do seu ex-parceiro Scarfe crescendo sobre si, e precisa encontrar maneiras complexas de lidar com esses pensamentos, ao mesmo tempo que tem de lidar com um dos bandidos e canalhas mais insuportáveis de todos, o Barata (que também quase prejudica o herói das ruas). Com ajuda da sempre adorável e verossímil Colleen Wing, Misty dá novos passos para superação, até conseguir o tão esperando braço mecânico de Danny Rand como presente (e que também se faz presente em certo momento, veja só), e aprende a se fortalecer em cima disso (mas a série não se perde destacando demais o item, usando-o somente como uma força bruta pontual em momentos de ação).

Mike Colter e Finn Jones em Luke Cage
Mike Colter e Finn Jones em Luke Cage

Os demais personagens riquíssimos da trama, estão entre três vilões. Como já era antes, volta a se repetir aqui. A adesão do impressionante Mustafa Shakir como John McIver (o Bushmaster), traz uma dinâmica diferente do que foi Willis Stryker. Desta vez, o vilão vem ao Harlem para se vingar de Mariah e de todos da família Stoke’s, que prejudicaram seu clã no passado, na Nigéria, e tudo começou com uma guerra pelo… run. O personagem é coberto de camadas diversas, tiques nervosos e um poder advindo de uma planta que só cresce em seu país de origem, que lhe confere habilidades semelhantes a Cage, ainda que limitadas (mas sua capoeira é singular e incrível em tela). Motivado por uma vingança fortíssima e usando lendas que ouviu quando criança como impulso, Bushmaster deixa um rastro de sangue (e cabeças!) por onde passa, abatendo Luke mais de uma vez em sua jornada, o que colabora para o andamento da primeira metade da série. A produção, no entanto, se preocupou mais em manter sua humanidade, por isso vemos John comendo no boteco da família no Brooklyn, sofrendo de dor, e agindo como qualquer pessoa que conhecemos em contexto íntimo, sem engrandecimentos pitorescos só por sua figura vilanesca, o que enriquece por demais sua figura, fazendo inclusive com que torçamos por ele na metade final. Um ponto que a série também trabalha, é que ele e Luke não são tão diferentes quanto pensam, só usam suas forças de maneira levemente distintas.

Mustafa Shakir
Mustafa Shakir

Do outro lado, temos a união Shades e Mariah — que é a responsável por todo o andamento dessa temporada, de um jeito mais intenso e terrivelmente sangrento (a produção não poupa de mostrar cabeças em estacas, pessoas fuziladas e corpos carbonizados, carimbando de vez a assinatura de que isso não é uma “série de super-herói” como Arrow ou Flash, mas sim uma trama adulta com alguém especial). De ambos, conhecemos ainda mais o passado, que é comentado à exaustão, num roteiro ousado que confia demais na memória do espectador, para lembrar de alguns eventos da primeira temporada (que eu só me recordava vagamente). Enquanto que na subtrama de Shades, conhecemos mais seu outro lado de vida de presidiário com Comanche (lembrando que ambos foram responsáveis pela surra em Luke, e que levaram o grandão a se tornar o homem a prova de balas), na de Mariah revisitamos diversos momentos dos fantasmas de seu passado, com Boca de Algodão, a terrível Mama Stoke’s e do bizarro Tio Pete, e ainda conhecemos sua filha advinda de um jeito tenso, a apaixonante Tilda Johnson (é sério, estou apaixonado por essa mulher), que já foi uma médica sem fronteiras e agora atua com remédio naturais no bairro, e acaba gerando um link improvável com Bushmaster.

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Com um roteiro mais bem desenvolvido, que sabe onde quer chegar (diferentemente da primeira temporada, que parecia subir e descer em alguns elos perdidos), a segunda temporada de Luke Cage é melhor, mais sangrenta e com os melhores diálogos de todas as séries Marvel/ Netflix. Um investimento pra lá de bem-vindo investido aqui, em mais de cinco episódios, o que colabora para aprofundar seus personagens principais, coadjuvantes e vilões, fechando algumas pontas e abrindo brechas honestamente assustadoras para o futuro da série, entre um show de jazz e outro de blues, que a produção satisfatoriamente não abre mão.

Sendo o maior desafio o próprio herói, o que sobra para o Harlem quando ele assume as rédeas do bairro? As perspectivas são sombrias, mas incrivelmente interessantes para a terceira temporada. Que venha, como um soco no estômago.

Luke Cage 2ª Temporada

O pôster da segunda temporada não poderia representar melhor Luke Cage, que mais do que nunca, precisa carregar o peso da responsabilidade sobre o Harlem e lidar com todas as consequências.

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