Malcolm & Marie – Uma DR performática
Seria Malcolm & Marie uma crítica aos críticos de cinema disfarçada de DR, ou uma DR disfarçada de crítica aos críticos de cinema? O diretor Sam Levinson levanta a bola, mas a sustenta no ar, deixando para o público a decisão de qual toada verdadeiramente ele se empenha por aqui.
Criador da premiada série “Euphoria” da HBO, o cineasta pega muito dos elementos que funcionaram e fizeram sucesso em sua produção e traz para o longa, no quesito de abordagem psicológica, empática e, por que não, humanitária?
Malcolm & Marie
Realizado todo em preto e branco, visando algum Oscar (nem que seja o de Fotografia… mas por favor, esse é o único troféu que “Mank” merece), Malcolm & Marie consegue manter a atenção do público no que interessa: em seus dois protagonistas e toda sua performance exageradíssima e completamente oposta ao realismo claramente intencionado (afinal, ao tirar as cores, ele também tira uma maior atenção à tela do grande público, forçando o espectador a se atentar ao que é falado, não ao que é mostrado). Se a ideia de Levinson eram interpretações naturalistas e comportamentos críveis, bem, ele passou bem longe disso.
Zendaya e John David Washington estão ótimos e se entregam com afinco em seus papéis (ela ainda muito mais do que ele… existe uma amargura impressa e irretocável no olhar da atriz), e aqui eu destaco três grandes momentos: a discussão na banheira, o surto pela resenha positiva e o monólogo antes do fim. São momentos envolventes, poderosos, que provavelmente podem possibilitar um Oscar a esse filme, sim, ainda mais se pensarmos no papel de Zendaya.
Ainda que os motivos que levem a briga sejam excêntricos e só façam sentido em um terço da população (se não menos que isso, afinal estamos falando do mundo dos famosos, de Hollywood), a condução do debate em si é universal, desde a agressão verbal, até a manipulação e o carinho recuperado. Tudo aqui emula um relacionamento tóxico.
Mas não fica por aí
Enquanto Levinson tropeça um pouco nas intenções da DR, ele acerta mais quando diz daquilo que entende: sobre como ver o cinema, como analisar uma obra per se (e não o que ela poderia ter sido) e toda aquela bobagem de apropriamento, que não cabe a formas de arte, afinal eu não preciso ser um alien para escrever sobre um.
Todo o surto de Washington, além de divertido e exagerado, traz principalmente um claro desabafo do próprio diretor, como se ele direcionasse esse filme para uma fatia de críticos que o… criticam. É curioso notar. De qualquer maneira, ele é sincero em suas premissas e se esforça ao máximo para dizer ao mundo o que ele quer.