Mandy: Sede de Vingança, um delírio infernal

Seguindo a tendência de remeter a produções setentistas, assim como “Apóstolo” e “Midsommar”, Mandy: Sede de Vingança, da ainda curta carreira de Panos Cosmatos é repleto de personalidade e uma linguagem muito própria. Estes aspectos o tornam um material singular no meio de tramas de vingança e também de horror gore.

Dessa forma, com uma fotografia saturada e bastante granulada, que privilegia os tons de vermelho e púrpura, imprime-se o tempo todo uma sensação de alucinação coletiva, que também é evidenciada na tela com os “rastros de movimento” que os personagens deixam. Bem psicodélico mesmo.

Depois de aceitar quaisquer papéis para pagar as contas na última década, o famoso ator Nicolas Cage retorna reinventado em um protagonista que preserva seu lado insano. Ao mesmo tempo, com pequenos momentos de sobriedade e paixão, na vida pacata que o personagem Red segue fora do sistema.

Mandy

Red vive com sua amada que dá nome ao título, interpretada pela lindíssima Andrea Riseborough, que guarda um olhar mórbido e hipnotizante. Até que um dia, eles são aleatoriamente brutalizados por um culto religioso viajante. Depois de muitos discursos extremistas e muitas lágrimas de dor, a vingança rola solta, entregando a catarse que o espectador tanto aguardou.

Desprendido de qualquer lógica e seguindo apenas o bem-vindo ritmo delirante que assoma suas figuras, Cosmatos emprega uma chacina ora fotograficamente impecável, ora grotescamente brutal. Alternando então entre os espaços comuns (como o pornôzinho da noite na sala da casa), com a insanidade metafórica (o lar literalmente infernal dos cultistas).

Podemos dizer que Mandy evoca um híbrido de Clive Barker com H. P. Lovecraft com filmes de Charles Bronson para entregar uma viagem astral e única direto para a boca do abismo.