Máquinas Mortais, épico de grandes efeitos especiais
Recria Star Wars em contexto steampunk, misturado com distopia adolescente
Quando Peter Jackson resolveu produzir e adaptar a série de livros de Philip Reeve, esperava-se uma grande produção, com CGi suntuoso, trama com mais de duas horas e uma franquia de filmes apontando no horizonte. Em partes isso se concretizou, já que Máquinas Mortais é uma história longa. E realmente impressiona no uso dos efeitos especiais, dos cenários colossais das Cidades Tração, todos os maquinários e aeroplanos, até mesmo das criaturas que habitam esse ambiente.
Mas o homem que levou a Terra Media de Tolkien para as telonas ainda não quis arriscar completamente o pescoço nessa empreitada. Assim, colocou o novato Christian Rivers na direção. E apesar de conduzir tudo burocraticamente bem, ele não tem muito o que fazer com a obra, além de entregar um espetáculo visual.
Máquinas Mortais
No longa, acompanhamos um mundo pós-apocalíptico típico e, para sobreviver, as cidades se movem em rodas gigantes. Elas “devoram” umas às outras para conseguir mais recursos naturais, numa esquisita analogia imperialista. Quando Londres se envolve em um ataque, um rapaz é lançado para fora da cidade junto com uma fora da lei, e os dois precisam lutar para sobreviver e ainda enfrentar uma ameaça que coloca a vida no planeta em risco. O resumo, como pode ser visto, é bem qualquer coisa e o espectador já viu histórias assim antes.
São as regras de cenário, com as Cidades Tração, é que trazem certo diferencial à coisa, mais estética do que conceitual. Então, no final o resultado é o mesmo. O original de Reeve só recria Uma Nova Esperança, trocando uma galáxia muito, muito distante, por uma ambientação futurista e steampunk, quase na cara de pau (e agora, entrando em zonas de spoilers).
Outro Guerra nas Estrelas?
Já que a mocinha se descobre filha do vilão no melhor molde de “Luke, eu sou seu pai” (mas sem vocalizar o óbvio), a colossal Londres é praticamente uma Estrela da Morte; e Tom, o rapazote principal, faz as vezes de Luke Skywalker e a destrói com um tiro certeiro de sua nave. Enquanto isso, Anna Fang e seus guerreiros são claramente uma representação da Aliação Rebelde.
Temos até versões capengas dos Stormtroopers, do Imperador e de Han Solo. Do elenco, Hugo Weaving faz o que pode com o inimigo de intenções simplistas, Jihae brilha rápido com sua guerrilheira rebelde, enquanto a novata Hera Hilmar entrega uma atuação extremamente dramática para uma protagonista sem sal. Stephen Lang está realmente assustador como a criatura Shrike, que tinha mais potencial do que conseguiu mostrar em tela, e Robert Sheehan e Leila George D´Onofrio são apenas rostinhos bonitos jogados aqui e ali. Outros diversos atores aparecem com personagens que parecem ter alguma importância, mas somem do enredo e voltam aparecer depois, porém o público dificilmente vai se lembrar ou se importar com suas figuras.
Melodramático demais e repleto de frases bregas, repetindo batidas de outras produções do gênero (além daquela mais famosa), Máquinas Mortais só se justifica pelos efeitos especiais. Ao menos, Jackson e Rivers, cientes de que a tração emperrasse pelo caminho, realizaram um filme com começo, meio e fim.