Maravilhosa Sra. Maisel 3 Temporada

Depois de terminar seu noivado com Benjamin Ettenberg (Zachary Levi), Midge (Rachel Brosnahan) resolve sair em turnê junto com o cantor Shy Baldwin (Leroy McClain) e é um sucesso por todo os Estados Unidos, mas sua relação com sua empresária, Susie (Alex Borstein) está balançada desde que Midge descobriu que Susie está empresariando sua rival, Sophie Lennon (Jane Lynch).

Ao mesmo tempo, Joel (Michael Zegen), o ex-marido de Midge, cuida dos filhos do casal enquanto tenta abrir seu próprio bar, e os pais de Midge, Abe (Tony Shalhoub) e Rose (Marin Hinkle) precisam enfrentar uma nova realidade.

Uma carreira de sucesso

Maravilhosa Sra. Maisel é uma série diferente porque realmente acompanha uma personagem bem distinta e que não costumamos ver: Midge Maisel é uma mulher que vive no final dos anos 1950 e sonha em ser comediante. Na primeira temporada, quando ela descobre uma traição de seu marido, Joel, ela muda completamente de vida e deixa de ser uma dona de casa típica e resolve que vai atrás de sua carreira.

Claro que a série fala muito mais com os dias de hoje, em que público pede cada vez mais obras com protagonismo feminino e, mais que isso, que fale sobre questões como feminismo e empoderamento – ainda que essas palavras não sejam citadas na série -, mas Maravilhosa Sra. Maisel é interessante porque a série se passa nos anos 1950, época em que muitas mulheres não trabalhavam, que dirá tinham carreiras na comédia.

Acompanhamos então, a carreira de Midge desde o começo da série e fica claro que ela tem talento. Na segunda temporada ela fica cada vez mais famosa, superando obstáculos e tomando o lugar de comediantes homens, que não são nem vagamente engraçados, mas que ocupam posições como se elas fossem de direito deles. Já nessa terceira temporada, Midge é convidada a excursionar pelos Estados Unidos com o músico Shy Baldwin.

Ela naturalmente se sai bem na turnê e é ovacionada em quase todas as suas apresentações, o que lhe dá mais segurança no seu trabalho. Midge também se aproxima de Shy e os dois se tornam amigos, e existe uma dinâmica bem interessante entre esses personagens. A carreira de Midge é, é claro, o ponto principal de Maravilhosa Sra. Maisel 3ª temporada, então, parece natural que a série dê bastante destaque a isso e que esse seja o foco da atração e não as relações românticas da protagonista.

Empoderamento feminino

É impossível falar sobre uma mulher que quer uma carreira nos anos 1950 sem falar de empoderamento feminino e feminismo, e esse é um pensamento que parece estar por trás do roteiro da série. Midge é, em muitos aspectos, uma mulher de seu tempo, e no começo da série ela se portava como uma mulher que vivia para o seu marido, contava calorias, estava sempre arrumada e acordava antes dele para poder escovar seu cabelo e se maquiar, mas ela vem evoluindo constantemente, sua carreira na comédia e o fato dela decidir seguir uma profissão são efeitos dessa evolução.

A terceira temporada, no entanto, parece ir mais fundo nesses assuntos, ainda que não fale sobre eles deliberadamente. Midge já tem uma carreira relativamente estabelecida e viaja pelos Estados Unidos em uma turnê, enquanto isso, Joel, o ex-marido, fica em casa e cuida dos filhos do casal, ou seja, os dois trocam os papeis tradicionais. Precisamos lembrar que Midge e Joel vivem no final dos anos 1950, então, essa mudança é de fato, extraordinária dentro do contexto da série.

O assunto chega ainda a outras personagens femininas, a mãe de Midge, Rose é ainda mais tradicional que a filha, ela não trabalha e acha até absurdo que Midge queira uma carreira. Nessa temporada, Rose percebe a dinâmica machista dentro de sua família de origem e recusa uma herança em função disso, causando uma enorme mudança na vida de classe média alta que ela e Abe levam.

Maravilhosa Sra. Maisel é claramente uma série para os dias de hoje, não só em função da procura e demanda do público, mas porque mulheres roteiristas também desejam retratar mulheres para além de seus relacionamentos amorosos e românticos e para além dos homens de suas vidas, por isso, soa natural que a série tenha esse tipo de posicionamento, mas além disso, a atração se preocupa em retratar outras minorias sociais, que como as mulheres, tinham muitos direitos reduzidos na década de 1950.

Aspectos técnicos de Maravilhosa Sra. Maisel 3ª temporada

É óbvio que a série possui enorme qualidade técnica, os cenários são lindos, a ambientação nos leva diretamente à década de 1950 e os figurinos – especialmente os da protagonista – são de tirar o fôlego. É importante lembrar que Midge é uma mulher rica, que gosta de moda, o que quer dizer que ela não só pode comprar roupas caras e luxuosas, como ela gosta de fazer esse tipo de compra, por isso, existe todo um cuidado especial com o figurino da protagonista. Ele não soa exagerado e nem caricato, já que Midge, como interessada em moda que é, certamente usaria roupas que pessoas menos interessadas no assunto, não usariam.

O elenco também merece destaque, todo mundo é muito divertido, e está muito imerso no seu personagem, Rachel Brosnahan, que domina a sua personagem, se sai muito bem, e Alex Borstein é um show a parte.

A ideia por trás da série também é muito interessante, é ótimo acompanhar essa personagem que é uma espécie de pioneira no stand up comedy e que está disposta a passar por cima de vários preconceitos e que sofra machismo com uma certa frequência só para poder seguir seus sonhos, ainda que ela viva em uma espécie de bolha e esteja longe de preconceitos raciais ou de classe – a atração nos dá esses pontos de vista através de outros personagens -, a questão com essa terceira temporada é que ela não sai muito do lugar, quase como se ela fosse o filme do meio de uma trilogia, onde os personagens já foram apresentados, mas nada pode se resolver totalmente, já que ainda temos mais um filme pela frente.

A carreira de Midge vai bem, mas já estava bem na temporada anterior, seu relacionamento com Joel segue em uma espécie de banho-maria, onde os dois estão separados, mas continuam flertando um com o outro, enquanto outras relações que Midge vem a travar não saem muito do lugar. A relação de Midge e Susie também segue a mesma dinâmica das temporadas anteriores e aqui só tem o acréscimo da briga das duas por causa de Sophie Lennon. As tramas que sofrem maiores mudanças são as de Abe e Rose, mas ainda assim, as mudanças não são especialmente empolgantes.

Isso quer dizer que a terceira temporada de Maravilhosa Sra. Maisel é ruim? De maneira nenhuma, a atração mantém sua qualidade, mas essa temporada é uma espécie de temporada intermediária, que divide as duas primeiras, onde conhecemos e nos afeiçoamos dos personagens, e as suas duas últimas – a quinta temporada, que ainda não estreou, será também a última da série -, onde saberemos, enfim, os destinos desses personagens.

Maravilhosa Sra. Maisel 3ª temporada pode não ser tão empolgante quanto as anteriores, mas ainda é uma produção indispensável, que consegue divertir e prender seu telespectador do começo ao fim.