Me Chama de Bruna (3ª Temporada)

Bruna Surfistinha (Maria Bopp) já tem reconhecimento nacional e ganha cada vez mais dinheiro, ela nem sequer pensa em largar a prostituição.

Sua fama, no entanto, nem sempre atrai coisas boas e isso fica claro quando ela aceita ser entrevistada por Paulinho (Ravel Andrade), que mais tarde ela descobre ter sido seu colega na escola.

Quando os dois se reaproximam, Bruna começa a lembrar de seu passado e dos problemas que teve na época do colégio, e automaticamente os relaciona com a vida que tem hoje.

O passado de Bruna

Cada temporada de Me Chama de Bruna é focada em um aspecto da vida de sua protagonista. Na primeira, Bruna está disposta a se prostituir e a fazer uma carreira disso, mesmo tendo que começar em um privé de baixa qualidade. Na segunda, Bruna passa a questionar quem é Bruna e quem é Raquel, mas já vemos uma mudança clara no seu estilo de vida, que é fruto do seu trabalho.

Na terceira, Bruna já está mais do que estabelecida, ela não só é uma referência dentro do seu meio, o que lhe permite cobrar caro nos seus programas e ter uma vida de classe média alta, como também é famosa no Brasil inteiro. Bruna então, passa a dar entrevistas e aparecer na televisão. Mas uma entrevista acaba mexendo com ela.

Quando ela topa ser entrevistada por Paulinho, ela não imagina que ele foi seu colega na escola e que, portanto, lembra de tudo que aconteceu com Bruna naquela época. O telespectador não sabe nada sobre isso, porque quando a primeira temporada começou, Bruna já tinha saído de casa e deixado para trás todo o seu passado. Conforme a moça vai relembrando seu passado de bullying, assédio e incompreensão, não só dos seus colegas, como também dos adultos que deveriam protegê-la, através de flashbacks, quem a assiste também conhece a história de Raquel Pacheco.

Tema recorrente

Um tema que aparece com frequência na série é o assédio, seja sexual ou não. O terreno, afinal de contas, é fértil, já que Bruna é uma garota de programa que está à margem da sociedade e, portanto, sujeita a muito mais violência do que as outras mulheres, que já são alvos constantes. As temporadas anteriores, por exemplo, falaram de violência física e psíquica contra as mulheres e de estupro, já que a própria Bruna foi vítima não apenas uma vez.

A terceira temporada volta a esses temas. Atualmente, Bruna é uma mulher muito segura de si mesma e de sua sexualidade, vemos várias cenas dos seus programas em que ela está no comando da situação e que deixam pouco espaço para que ela seja abusada, mas sabemos que essa é uma falsa segurança, uma vez que garotas de programa, mesmo as de luxo, como é o caso de Bruna aqui, estão sempre no limiar da segurança. A série nem entra em questões um pouco mais complexas sobre o fato da prostituição por si só já ser um abuso, já que Bruna ressalta o tempo todo que está nesse ramo porque quer.

Raquel Pacheco, por outro lado, é bem diferente de Bruna e sua história pré-Bruna é repleta não só de abuso, de todos os tipos, como também de bullying. A terceira temporada então, mergulha mais fundo, já que bate na tecla que permeia todas as temporadas da série, mas também traz à tona o bullying e o descaso da escola e dos pais (Jonas Bloch e Clarice Niskier) de Bruna.

Essa temporada tem, a princípio, um tom de vingancinha por parte de Bruna, uma vez que ela reencontra seus colegas que vivem vidas menos badaladas que a dela e que têm menos dinheiro que ela, e que, na teoria, pode provar que eles sempre estiveram errados sobre ela, mas é claro o quanto Bruna fica perturbada quando vê mais uma vez seu namorado de adolescência, Beto (Enzo Romani).

Existe também uma clara implicação de que os anos do colégio transformaram Raquel em Bruna Surfistinha, para o melhor e para o pior.

Tramas paralelas

Como também já é de praxe na série, Me Chama de Bruna (3ª Temporada) tem personagens secundários que têm história tão ou até mais interessantes que a da protagonista. Samira (Simone Mazzer) e Lukas (Ariclenes Barroso), mãe e irmão de Jéssica (Nash Laila) respectivamente, ainda esperam o retorno dela, desaparecida desde o final da primeira temporada, e enquanto isso, eles seguem administrando o Cancún, um bar que serve de faixada para um prostíbulo, mas se veem literalmente de frente com um problema quando uma igreja evangélica é inaugurada em frente. Mais do que isso, Lukas se vê seduzido pela conversa do pastor (MV Bill).

Georgette (Stella Rabello) continua lutando pela guarda de sua filha (Isabelle Ribas), ao mesmo tempo que tenta manter seu relacionamento com Michelle (Wallie Ruy), uma mulher transgênera que, para ajudar Georgette, resolve esconder sua própria identidade de gênero.

Os antigos colegas de Bruna também ganham seus momentos, como Marcinha (Ana Hartmann), que agora namora Beto, mas está claramente insatisfeita na relação e que deseja ter uma vida parecida com a de Bruna.

Aspectos técnicos de Me Chama de Bruna (3ª Temporada)

É inegável a qualidade do roteiro e isso mais uma vez está presente. Dessa vez, no entanto, a trama se afasta um pouco da vida real de Raquel Pacheco, o que não é ruim. Embora a ideia da vingança contra os antigos colegas de escola soe meio batida e até lembre um pouco filmes americanos, a temporada se sai bem quando usa disso para que Bruna possa questionar a si mesma e refletir sobre a pessoa que se tornou.

A temporada é repleta de flashbacks que nos explicam aos poucos o que aconteceu com Bruna na adolescência e que tentam relacionar esses acontecimentos com a vida atual da protagonista. É assim também que o telespectador conhece o passado de Bruna, já que até aqui, apenas fomos apresentados à sua vida pós-prostituição e a um pouco da sua relação com seus pais.

Me Chama de Bruna (3ª Temporada) insiste no tema recorrente da série que é o abuso à mulher, e apresenta vários exemplos disso, que acontecem não só com Bruna, mas também com as mulheres ao redor dela, quer elas estejam na profissão, quer não. Existe outro contraponto que é o trabalho que a própria Bruna fez em relação a sua própria sexualidade, chegando então, a essa terceira temporada, muito mais segura de si e certa do que quer. Bruna também sabe muito bem separar suas relações pessoais de suas relações profissionais, até que ela se vê de frente aos seus antigos colegas.

Como nessa temporada Bruna já é uma mulher que se banca e que ganha seu próprio dinheiro, ela também vive cercada de luxos, seu figurino é bem mais sofisticado, e marcado por muitas roupas pretas. Sua aparência também mudou significativamente, seu cabelo está cada vez mais loiro e muito mais bem cuidado, dando a entender que a cada temporada, Bruna investe mais na sua aparência. A mudança física da personagem é visível.

A série também tem grandes atuações, Maria Bopp, por exemplo, rouba todas as cenas em que aparece, e Simone Mazzer, Stella Rabelo e Wallie Ruy também chamam muita atenção. O personagem de Ravel Andrade é muito carismático e é fácil gostar dele, por isso é bom acompanhar suas cenas. MV Bill é outra surpresa, seu personagem é tão convincente que entendemos porque Lukas está cada vez mais interessado no que o homem prega.

A terceira temporada de Me Chama de Bruna mantém o padrão de suas duas anteriores e tenta desvendar quem é Bruna Surfistinha, enquanto explica o passado de sua protagonista para a plateia.