Meu Fim. Seu Começo. – Apenas cósmicas coincidências?

Longa alemão discute linearidade do tempo a partir de história de amor e luto

Começando com uma sensação de que vamos encarar algo na linha do também alemão Dark, mas logo se transformando em algo mais linear, este Meu Fim. Seu Começo. é um longa sobre perda, e envereda pela vertente de cinema na qual habita, por exemplo, P.S.: Eu te Amo.

O nome dos personagens principais, Nora e Aron, dialogam com o próprio nome do filme. A “chuva de Aron” e a exemplificação do fenômeno do Gato de Schrödinger que aparecem em momentos da trama são elementos metafóricos obrigatórios na proposta à qual o longa se entrega, pretensioso em querer deixar easter eggs pra gente se divertir.

Meu Fim. Seu Começo.
Meu Fim. Seu Começo.

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Nora (Saskia Rosendahl) e Aron (Julius Feldmeier) são namorados e pretendem construir uma vida juntos. O jovem, físico e intelectual, é apaixonado por ela, que trabalha em um supermercado, aparentemente de hábitos mais simples que os dele, mas o destino entrega a ela a missão de carregar o fardo emocional de se reconstruir após a trágica morte do companheiro. Daqui pra frente veremos, em flashbacks ou não, a história do luto de Nora.

Iniciando tudo com algo meio enigmático, em que tramas paralelas podem levar o espectador a acreditar que veremos narrativas oriundas de diferentes instantes de tempo (o que poderia ser bastante interessante, se fosse conduzido de forma a não parecer excessivamente com o já citado Dark), em parte sugerido pelo objeto de estudo de Aron (a teoria da relatividade; e aqui, um reparo: a citação ao Gato de Schrödinger no exemplo do armário de louças está equivocado; a louça não está quebrada e pode ser salva.

Mas, ok, daremos uma licença poética à narrativa), a diretora Mariko Minoguchi (Tides) arrega e descamba para uma linearidade mais convencional e piegas, o que o torna deveras menos interessante. Eis aqui um exemplo de uma obra que se propôs de maneira aparentemente intencional a se dividir em duas, tornando-se algo irregular com relação às nossas expectativas. Passamos, assim, nós, espectadores, a vivenciar também um luto: o da perda do que esperávamos pelo início.

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Em dado momento, inclusive, se torna tão previsível o que veremos posteriormente na relação entre Nora e Natan (Edin Hasanovic), um homem com uma esposa e uma filha pequena que está com leucemia e precisa encontrar um(a) doador(a) compatível a tempo, que algo enfadonho passa a habitar em nossos corações.

Temos aqui a introdução de um elemento melodramático, o que o próprio filme parece admitir pela escolha do nome “Natan”: um palíndromo (um nome que lido de trás pra frente ou de frente pra trás dá no mesmo). Significará que, para o filme, ele é só um elemento útil para o desenrolar dos eventos de Nora mas, que por fim, não é o mais importante, como uma ponte que leva Nora ao recomeço, como se Natan só se prestasse a ser um canal para a viagem do luto de Nora?

Neste ponto, parece-me injusto acreditar, como muitos farão, que não faz sentido Nora seguir seu luto em vez de se entregar a uma relação com um homem com mais pegada que seu ex-namorado, que era um pouco enfadonho: primeiro, porque Natan é tão reticente que chega a irritar; em seguida, Nora é construída como uma personagem que não acredita muito em si, sem nenhum grande potencial marcante; para ela, há lógica no aprisionamento estilo “faixa de Möebius” gerada por ela e por Aron.

Meu Fim. Seu Começo.

E o que mais?

O final do filme sugere um loop de tempo, como uma serpente que morde a própria cauda: um reinício e novamente um claustrofóbico encarceramento temporal, retomando então a pegada like-Einstein que esperávamos ver durante todo o filme desde o início. É, de certo modo, um longa pessimista.

A atuação do elenco é comedida, meio que “virada para dentro”: isso causa em vários momentos um desconforto pela falta de assertividade, e reforça a sensação de que todos estão ao sabor do destino inexorável, que o roteiro quer nos fazer experimentar; entretanto, o mesmo roteiro e a condução poderão fazer acreditar que, na verdade, ele não é tão inexorável assim. Todo loop em nossas vidas pode ser quebrado: ele sempre será frágil e dependerá de seres que não confiam muito em si mesmos para que se mantenha.

Este exemplar do jovem cinema alemão teve boa carreira até agora: no German Film Awards 2020, foi indicado a Melhor Montagem; no Festival de Gotemburgo 2020, seleção oficial; Festival de Varsóvia 2019, seleção oficial, semelhante ao Festival de Londres 2019 e Festival de Munique 2019. Entretanto, poderia ter levado mais a sério seu próprio potencial. Ao tirar o pé da profundidade durante a maior parte do tempo, não explora boas possibilidades.

Meu Fim. Seu Começo.

Nome Original: Mein Ende. Dein Anfang.
Direção: Mariko Minoguchi
Elenco: Jeanette Hain, Leonard Kunz, Saskia Rosendahl
Gênero: Drama
Produtora: Trimaphilm
Distribuidora: Arteplex Filmes
Ano de Lançamento: 2019
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