Missão Cupido – Comédia antiquada que não diverte
Missão Cupido traz a saga de Miguel (Lucas Salles), um anjo atrapalhado, que faz uma previsão para Rita (Isabella Santoni) quando ela ainda é bebê: ela nunca irá se apaixonar.
25 anos depois, Rita só mantém relações sexuais casuais, o que chama a atenção da Morte (Agatha Moreira), que resolve vir à Terra para seduzir a jovem, ao mesmo tempo que Deus (Rafael Infante) manda Miguel em uma missão especial para fazer com que sua protegida finalmente se apaixone.
Entidades celestiais em Missão Cupido
O filme é uma comédia romântica que usa de entidades celestiais na sua história, o que é bem interessante e diferente. Aqui acompanhamos o anjo Miguel, que precisa fazer sua protegida se apaixonar, mas além dele, outros personagens da bíblia e da história das religiões fazem suas aparições.
Existem personagens como o anjo Rafael (Victor Lamoglia), a Morte, o Cupido e até Deus. O que é interessante no roteiro é que ele ressignifica tudo que conhecemos e imaginamos sobre essas personalidades.
O protagonista é um anjo atrapalhado, que se veste diferentemente dos outros, comete erros o tempo todo e não conhece nada das regras do seu trabalho. Já Rafael é um anjo mais velho, que fala gírias antigas e não entende muito bem como é a atualidade. O Cupido é passional e violento, a Morte é sensual e irônica e Deus, que é de longe o personagem mais divertido do filme, é debochado e faz uma série de referências a cultura pop. Além disso, ele é um homem jovem, que está bem longe da ideia que normalmente se faz de Deus.
Rita
Além de Miguel, Missão Cupido também fala bastante de Rita e o caminho dos dois está ligado desde o começo. Miguel é o anjo da guarda de Rita e, quando ela era apenas um bebê, ele, sem saber, fez uma previsão para a menina, que dizia que ela jamais iria se apaixonar e isso realmente aconteceu.
Anos depois, Rita é uma moça independente e forte, que nunca se apaixonou e nem quer se apaixonar. Ela mantém relacionamentos casuais e parece estar bem com isso. O discurso de Rita é o de uma mulher muito segura e muito independente e, em vários momentos, soa até feminista, o que faz dela uma personagem interessante e muito atual, mas o filme se desmente em relação a isso em vários momentos.
Primeiro na sua própria premissa, que supõe que Rita precisa necessariamente se apaixonar, sendo que a própria personagem não quer se apaixonar e parece feliz na sua vida de relacionamentos casuais. A melhor amiga de Rita, Carol (Thais Belchior) está desesperada para casar e aqui funciona como uma oposição a personagem principal, mas soa ultrapassada.
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Além disso, todas as conversas das meninas giram em torno de romance, pretendentes e potenciais namorados, como se elas não pensassem em mais nada e não tivessem outros interesses, como trabalho, amigos e aspirações pessoais. Essas falas até poderiam se justificar na personagem de Carol, que quer casar desesperadamente, mas não na personagem de Rita, que só quer ficar.
Missão Cupido ainda peca em algumas das piadas que tem cunho machista e que parecem saídas de outra época, como relacionar o descontentamento de uma mulher a falta de sexo ou dizer que uma mulher de trinta anos que não está casada é “solteirona”.
Rita é até uma personagem divertida, embora exagerada, mas por mais que o filme tente se colocar como atual, a mensagem que ele passa é bem diferente.
Aspectos técnicos de Missão Cupido
O roteiro é simples e isso por si só não é bem um problema, já que é uma comédia romântica, onde a ideia é vender um romance bobinho e bonitinho. O longa até sai um pouco dessa dinâmica apresentando uma trama que é, pelo menos, um pouco diferente.
A ideia de usar os elementos religiosos como personagens é bem legal, especialmente quando o filme dá outra perspectiva a essas figuras que, no imaginário popular, costumam ter personalidade e aparência pré-concebidas. Deus, por exemplo, normalmente é visto como um homem barbado, de cabelo branco e sábio, mas aqui ele é um homem jovem, usando roupas caras, que é debochado e não parece saber tanta coisa assim.
A Morte não é uma personagem tão bem pensada assim e se mantém dentro de um clichê mais conhecido, mas tem uma estética interessante, que lembra as femme fatales de filmes noir e que não só abusa das roupas e maquiagem em preto e branco, mas sua imagem também sempre é em preto e branco e as cenas em que ela interage com outros personagens, ganham esses tons.
E o que mais?
O longa também tem uma estética de quadrinho, que representa o que Deus está escrevendo, que mistura animação com live action e que funciona. Boa parte das atuações dão conta do recado e não chamam a atenção especialmente. Agatha Moreira, no entanto, exagera um pouco na sua vilã sedutora e cruel. Quem mais chama a atenção é Rafael Infante, que se sai muito bem como Deus e é responsável por boa parte da diversão do filme.
O problema de Missão Cupido é que ele cai em piadas fáceis e antigas, que não divertem, reforça estereótipos antiquados e que, na realidade, não tem tanto romance assim. De uma maneira geral, o longa é sem graça, tem diálogos bobos e uma trama que se desmente em vários momentos. Missão Cupido chega aos cinemas no dia 10 de junho.