Nausicaä do Vale do Vento – Obra-prima de Miyazaki
Antecipa os princípios do Ghibli em um épico sem igual
Antes mesmo de fundar o Studio Ghibli, Hayao Miyazaki dirigiu Nausicaä do Vale do Vento, uma de suas melhores produções, adaptando o mangá que ele próprio havia feito antes (publicado no Brasil pela Conrad, sem o último volume infelizmente), que começa a fundamentar os princípios do criador e do estúdio antecipando mais de uma década o que veríamos em “Princesa Mononoke”, como a valorização do meio ambiente, a relação do homem com a natureza e a aviação.
Nessa animação primorosa, com personagens e criaturas se movendo de maneira fluída e impecável, a corajosa princesa guerreira e pacifista Nausicaä lidera o povo do reino do Vale do Vento contra a ameaça constante de poderosos insetos e de reinos inimigos, mil anos após uma grande guerra que poluiu fatalmente os ares.
Nausicaä do Vale do Vento
Com uma protagonista pura e cativante (completamente à frente do seu tempo, sendo uma mulher forte e audaz sem deixar de ser feminina, independente de homens e que não tem um interesse romântico), Miyazaki nos conduz por um cenário ao mesmo tempo fantástico e crível, com ideias muito particulares, mesclando conceitos medievais na ambientação (como os moinhos de vento, as moradas rústicas), com avanços tecnológicos modernos (como armamentos e algumas aeronaves) e ainda propostas oriundas da ficção científica, sem abolir outras de suas características singulares, como os monstros colossais (como os insetos, o gigante de fogo) e os seres da floresta (junção de dois animais em um, algo que depois serviria de inspiração para “Avatar: A Lenda de Aang”).
Conduzindo toda a narrativa sem pressa, mas sem perder o ritmo, o diretor primeiro nos apresenta àquela visão empolgante da Terra arrasada e suas particularidades. Assim, depois nos contextualiza nas regras do cenário, político e de sobrevivência, para então jogar o público direto para o centro do conflito, que tem vários lados. Ou seja, sem um maniqueísmo evidente, onde nem mesmo o sentido do que é “mal” recebe a morte como punição, afinal, sempre dá para recomeçar. Esta animação emocionante precisa ser revista a cada geração, pois nunca se perde na mensagem nem no espetáculo visual que entrega.