Nazistas Africanos do Kung-fu
Difícil escrever sobre esse filme. Por um lado, um projeto claramente feito para gerar risadas na audiência baseado em sátira e situações politicamente incorretas, Nazistas Africanos do Kung-fu (que nome horroroso) se vale de elementos altamente questionáveis, dando visibilidade a coisas que devem ser tratadas com cuidado.
Vamos à absurda sinopse: Hitler não morreu ao fim da Segunda Guerra; ele foge junto com seu comparsa japonês Hideki Tojo (um general que na história real foi líder militar e primeiro-ministro de seu país durante a Guerra, executado em 1948) num submarino até Gana, onde encontra um comandante militar local.
Cada um deles tem uma habilidade: o arianismo de Hitler e de Tojo (!) os tornou praticamente imunes ao envelhecimento, enquanto que o líder ganês é um feiticeiro capaz de transformar todos em zumbis com cara branca (fala sério), criando uma legião de “gana-arianos”. Uma parte destes, por sua vez, é treinada para lutar caratê e tenta dominar o mundo a partir de Gana com sua arte marcial.
Mas aí surgem os oponentes que vão lutar para evitar que isso aconteça: uma escola de kung-fu cujo mestre e seus discípulos vão enfrentar os “gana-arianos” num torneio de artes marciais cujas lutas só acabam com a morte de um dos lutadores. O protagonista, Addae, é um dos integrantes deste grupo de heróis. A partir desse
instante, o que vemos é um festival de imagens tão toscas que, de fato, podem se tornar divertidas em alguns momentos.
Nazistas Africanos do Kung-fu
O mentor desse bizarro projeto é o ator, diretor e jornalista alemão radicado em Tóquio Sebastian Stein, que afirma ter imaginado o roteiro enquanto bêbado. Contando com o apoio de seu amigo japonês Yoshito Akimoto (que está no filme), Stein resolveu encampar a ideia que teve, incentivado por uma amiga judia que, segundo ele, se divertiu com a história (informação que exala desejo de validação).
Stein alega ainda que o filme busca ridicularizar o nazismo e, com isso, enfraquecê-lo; para ele, os alemães levam muito a sério esse momento sombrio de sua história, enquanto o resto do mundo é capaz de fazer piada sobre Hitler. E é nesse ponto que a coisa pega.
A quantidade de suásticas presentes na película; os “white faces” e a posição serviçal dos atores negros do filme; a ambientação em Gana (o filme foi rodado neste país africano e também na Nigéria) como elemento que propicia o ar jocoso de tudo o que vemos – tudo isso não nos faz, de verdade, enfraquecer a imagem nazi. Ao contrário, ficamos com estes elementos todos na cabeça, e o amadorismo geral não permite que se leve a sério qualquer reflexão crítica sobre o movimento autoritário alemão.
Comédia, ação e terror?
Um longa que, alega-se, foi produzido com apenas 20.000 doláres, com locações simples (em uma delas, o proprietário chegou a expulsar a equipe de produção do local pois achou tratar-se, em uma jornada de tomadas, de um ritual vodu) e que tem uma menção ao passamento de um dos atores (Ntul Andrew, alvejado por assaltantes), Nazistas Africanos do Kung-fu sustenta-se em cartaz em Gana e com um sucesso razoável na Alemanha e no Japão.
Temos nele claras homenagens aos primeiros filmes de Van Damme (O Grande Dragão Branco) e estética splatter, não havendo preocupação nenhuma com a qualidade das atuações, da fotografia e dos enquadramentos. A dada altura chegamos ao disparate de percebermos uma clara mudança de nitidez das imagens filmadas. É primário, realmente.
Se você é daqueles que dá risada com qualquer coisa e não se incomoda com um cinema sem muitos recursos (o que é uma proposta interessante, diga-se), divirta-se com técnicas de luta nonsense (uma delas só pode ser realizada se o lutador estiver bêbado; outra exige que se tenha apenas três dedos em uma das mãos), e talvez aí as coisas ficam de fato um pouco mais leves e engraçadas. Porque, de resto, brincar com o que vemos, de tão absurdo, acaba por dar holofote às imagens nazistas que vemos.
É um filme para um público específico.