Nossa Senhora do Nilo

Na Ruanda de 1973, as irmãs Gloriosa (Albina Kirenga) e Modesta (Belinda Rubango) estudam em um colégio comandado por belgas católicos, que aplica rigorosamente um sistema de cotas étnicas que limita a 10% o número de alunas da etnia tutsi, e elas convivem com várias outras meninas.

Quando os conflitos entre os grupos étnicos locais se acirram, o mundo intocável das meninas começa a desmoronar. Nossa Senhora do Nilo é inspirado no livro de mesmo nome, de Scholastique Mukasonga.

Várias personagens

Ainda que as protagonistas de Nossa Senhora do Nilo sejam as irmãs Gloriosa e Modesta e que a audiência passe bastante tempo acompanhando o que as duas fazem e pensam, o filme desfila uma série de personagens, todas femininas e adolescentes, que têm um pouco de sua história narrada. A ideia é interessante, porque assim o longa consegue cobrir uma série de assuntos e de questões, que em sua maioria dizem respeito à adolescência.

Gloriosa e Modesta ainda são muito novas e boa parte do que acontece com elas tem mais a ver com travessuras e com alguma confusão em que elas se metem, mas Modesta, por exemplo, que como seu nome deixa claro é tímida e quieta, tem a sua menarca logo no começo do filme.

Já Veronica (Clariella Bizimana), uma adolescente um pouco mais velha, se torna amiga de um homem branco mais velho, Fontenaille (Pascal Greggory) e faz visitas constantes à casa dele. Ele diz estar interessado em estudar a história da etnia tutsi, da qual Veronica faz parte, e ela jura que ele é inofensivo, mas a relação dos dois soa estranha desde o começo. A melhor amiga de Veronica, Virginia (Amanda Mugabezaki), vive preocupada com as visitas dela a Fontenaille. Frida (Ange Elsie Ineza) tem um namorado misterioso, que lhe traz presentes caros, com os quais ela impressiona as outras meninas do colégio.

Dois universos

Boa parte do filme se passa na escola, e tem as meninas como protagonistas, os assuntos muitas vezes circundam nas questões que dizem respeito a elas e em muitos sentidos, reflete a vida, os sentimentos e as mudanças corporais de todas as garotas adolescentes, de qualquer parte do mundo.

Mas é claro que as personagens têm questões específicas, elas são meninas negras, vivendo em um colégio interno onde a maioria da direção e das freiras é branca. Ruanda também está prestes a entrar em um período complicado, regado de violência e o longa é uma espécie de introdução a isso.

Enquanto as meninas tentam viver vidas de adolescentes comuns, e o colégio é uma espécie de refúgio para elas, em vários momentos do filme a realidade penetra as paredes do local e as meninas se deparam com situações que não deveriam ter que lidar e que vão muito além de suas compreensões.

Aspectos técnicos de Nossa Senhora do Nilo

Nossa Senhora do Nilo é um filme que tem bastante conteúdo, justamente porque ele tem muitos personagens e, com isso, pode retratar uma série de situações. É verdade que algumas dessas personagens ganham pouco tempo de tela, ainda que suas histórias sejam interessantes e bem desenvolvidas.

O filme trata de temas delicados, mas o faz de maneira muito bonita. Os aspectos técnicos, como a fotografia, que se preocupa em filmar o cenário, corroboram nessa sensação. Nossa Senhora do Nilo também tem um contexto histórico e político importante, que não ganha o protagonismo total, mas que complementa a história dessas meninas.

O longa é marcado por boas atuações, todas as meninas se saem muito bem, mas naturalmente algumas aparecem mais do que outras. Amanda Mugabezaki, Clariella Bizimana, Belinda Rubango estão ótimas no papel de suas personagens, mas o grande destaque é Albina Kirenga, que está perfeita como Gloriosa.

Nossa Senhora do Nilo é a mistura perfeita do mundo delicado e cheio de descobertas de suas protagonistas adolescentes e da realidade terrível que as espera logo à frente. O filme chega aos cinemas no dia 5 de janeiro.