As Linhas Tortas de Deus

Mais um suspense psicológico com vários pequenos mistérios e algumas reviravoltas distribuídas no meio e no final da trama, com o toque especial, meio dramático meio tributo a Hitchcock, de Oriol Paulo (dos ótimos Um Contratempo e Durante a Tormenta), colocando uma mulher que se diz detetive, fingindo internação em um sanatório, para investigar um suposto assassinato em As Linhas Tortas de Deus.

Desde o princípio, o roteiro já te dá vários elementos, que depois serão cobrados no desfecho, provando que o diretor sabe muito a gramática de um bom mistério que jamais deve trair seu público, pois as pistas e até elementos da resolução já haviam sido estabelecidos desde o começo, e mesmo que o final seja aberto, ele ainda é muito claro em sua solução, sendo satisfatório (ainda que um espectador mais acostumado ao gênero, vá sacar parte das reviravoltas uma hora antes delas se apresentarem, como foi o meu caso).

Bárbara Lennie, a queridinha do cineasta, tem o orgulho e a sensualidade necessárias em sua protagonista sagaz, mas também dúbia. Eduard Fernández, Loreto Mauleón, Javier Beltrán, Pablo Derqui, Samuel Soler e outros, compõem um elenco interessante de personagens cativantes, como os gêmeos Rômulo e Remo, o paciente com hidrofobia, o Homem Elefante, o Gnomo, que tornam esse noir de hospício típico em um ambiente quase mítico, contribuindo a todo momento para um reforço envolvente de atmosfera, em um cenário com várias possibilidades.

Mesmo com a condução telegrafada, Oriol Paulo compensa com o uso inteligente do flashfoward, abrindo espaço para várias pequenas surpresas além daquela principal, o que nos remete em boa parte ao Ilha do Medo, mas com suas próprias características. Quase como se a história nos falasse: “Mas não diga que eu não avisei”. Avisou sim, foi você que não quis notar.

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