O Estranho que nós Amamos, remake de 2017
Suspense recebe sofisticação em prol das sutilezas sexuais
Baseado no romance de Thomas Cullinan, a trama de O Estranho Que Nós Amamos transcorre durante a Guerra Civil Americana. Um internato de garotas na Virginia é forçado a hospedar um cabo do exército ianque depois que ele se machuca em batalha. Conviver com o inimigo é um choque inicial que as mulheres sulistas logo superam; tanto as alunas quanto a jovem professora e mesmo a dona do internato se afeiçoam pelo charmoso homem. Certamente isso gera conflitos que não dizem respeito apenas à disputa política entre a União e os rebeldes Confederados.
Mantendo a premissa do longa de 1971, mas dando outra cara, Sofia Coppola realiza mais um de seus filmes que tratam sobre dramas femininos e a perda da inocência. Ela deixa no poder da escolha o meio para que o público interprete o que bem entender nas sugestões que coloca em tela, entre uma contemplação paisagística e outra.
O Estranho Que Nós Amamos
Assim, contando com três gerações de requisitadas atrizes americanas, a diretora conduz a narrativa com sutilezas, sem jamais abrir mão da perversão, que está presente ali o tempo todo, se você olhar com atenção. Colin Farrell, Nicole Kidman, Kirsten Dunst e Elle Fanning manipulam esse jogo macabro do começo ao fim, onde a mistura do desejo e do proibido conduz os andamentos inevitáveis dessa história quase celibatária, onde um mero sorriso de canto já pode abalar todas as estruturas.
Coppola, por outro lado, perde quase que completamente o ritmo no terceiro ato, entregando situações estranhas e forçadas – como um perneta ser mais veloz do que uma garota acostumada a caminhar no campo, ou até mesmo a inocência absurda de uma mulher não perceber uma armadilha óbvia montada durante um jantar, entre outras escorregadas, inclusive em atuações histéricas em dado momento. De qualquer maneira, esse exercício narrativo é válido pelas promessas que faz, onde uma noite é a do caçador e na outra, a da caça. Sejam eles quem forem.