O Exorcista, a série que dá continuidade ao clássico
A série que dá continuidade ao primeiro clássico filme possui uma narrativa tensa que administra alguns dos legítimos fatores assustadores e conta com impressionantes efeitos especiais, incomuns em uso na TV.
Emprestando elementos da obra de origem e também de outros longas, como “Fim dos Dias“, o programa compõe um enredo bem executado e consistente, sem perder a mão, com um elenco inspirado e uma Jornada do Herói improvável no miolo, com a figura do padre Tomas Ortega (um tipo Fábio de Melo), apto às tentações da carne, enquanto aguarda o chamado de Deus; do outro lado, temos um poderoso exorcista, Marcus Keane, que vai contra as leis da igreja para salvar os inocentes das possessões. A maneira como a dupla se une é imprevisível e cheia de altos e baixos, e seus inúmeros erros fornecem carisma aos protagonistas.
Geena Davis vem do outro lado do espectro, como uma mãe que vê sua família desmoronar gradualmente: o marido que sofreu uma lesão cerebral; a filha mais velha que quase morreu num acidente de carro que vitimizou sua melhor amiga; e a filha mais nova, que é tomada pelo demônio. Todos estão ótimos aqui, mas Hannah Kasulka merece atenção pelo papel complexo de possuída.
Vários dos ícones do filme de 1973 são emulados na série, como a chegada de uma figura de chapéu sob a silhueta de uma casa com a janela iluminada; ou dos pescoços virantes (ainda que aqui isso assuma um fator verdadeiro de risco); dos animais ouriçados pela presença da entidade; dos corpos que levitam ou caminham por paredes ou teto indo contra a anatomia humana; de algumas frases singulares, entre outros, respeitando o passado a medida que apresenta novos elementos: como os olhos repartidos, uma conspiração contra a vinda do Papa para Chicago, uma seita demoníaca e subtramas pessoais dos personagens que ajudam a complementar a narrativa, que nunca se desgasta e sempre ruma para frente.
Os diretores do programa acertam ao trabalhar uma câmera ora nervosa e intimista, ora contemplativa e cheia de gravidade, colocando pequenas reviravoltas no miolo (com uma grande e esperada revelação de identidade) e não abusam da violência gratuita, esbanjando gore e feridas somente quando tais detalhes fornecem algo a história. Gerando grande expectativa para o momento do exorcismo, o roteiro faz com que cada protagonista passe por uma jornada particular até chegar em um ápice, que impressiona justamente por ser inesperado e se sustenta em coadjuvantes interessantes de peso, mas nunca fornece saídas fáceis, trazendo logo em seguida um plot-twist do contrário, que torna tudo de volta ao poço, num vaivém intenso.
Além das pontuais sequências de ação, a série ganha pontos pelo terror enraizado na atmosfera (ainda que por vezes lembre a tosquice de Supernatural), nos diálogos que humanizam seus personagens e no desfecho poderoso, que encerra uma trama que vinha se desenvolvendo há mais de 40 anos de maneira brilhante, ainda que com sequelas. A marcante música-tema de O Exorcista só é tocada uma única vez no final do primeiro episódio, algo que senti falta no decorrer da temporada (acredito que ela teria se encaixado melhor na abertura, do que a trilha escolhida por lá).
Dessa maneira, The Exorcist se firma como uma das maiores séries de terror contemporâneo, abrindo portas para temporadas fechadas. Assim, um exorcismo por vez.
O Exorcista
A série O Exorcista, atualmente em sua segunda temporada, segue a história de dois padres num caso terrível de possessão demoníaca. Vagamente baseada no livro de William Peter Blatty e no filme de 1973.