O Farol, sufocante, claustrofóbico e ótimo
Início do século XX. Thomas Wake (Willem Dafoe), responsável pelo farol de uma ilha isolada, contrata o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson) para substituir o ajudante anterior e colaborar nas tarefas diárias. No entanto, o acesso ao farol é mantido fechado ao novato, que se torna cada vez mais curioso com este espaço
privado. Enquanto os dois homens se conhecem e se provocam, Ephraim fica obcecado em descobrir o que acontece naquele espaço fechado. Ao mesmo tempo, fenômenos estranhos começam a acontecer ao seu redor.
Primeiro preciso deixar claro que O Farol não é um filme para qualquer um, ele é pesado, sufocante e claustrofóbico; mas é um baita filme. O diretor Robert Eggers (A Bruxa) se mostra cada vez mais como um dos grandes dessa nova geração que busca no terror psicológico uma forma de aterrorizar o espectador não com sustos fáceis, mas com a certeza de que o ser humano pode ser pior que qualquer criatura ou monstro sobrenatural.
Aqui ele cria um cenário de isolamento tão perfeito que mesmo com a duração relativamente curta do filme somos completamente transportados para a realidade criada na tela. E, meus amigos, magicamente passamos meses confinados com a dupla em uma espiral de solidão e desespero.
O Farol
Dafoe e Pattinson estão absurdamente ótimos nos papéis. O primeiro como o veterano marinheiro que, impossibilitado de seguir carreira em alto mar, se torna guardião de farol em uma ilhota localizada pra lá do fim do mundo (desculpe terraplanistas, o lugar é bem longe e nada de borda avistada). O segundo é o novato que busca ganhar dinheiro relativamente fácil em um ambiente totalmente novo para ele.
O turno determinado aos dois é de quatro semanas. Durante todo o tempo vemos Thomas como um chefe abusivo e autoritário mas que se acha no direito de causar tais abusos. Ephraim aceita tudo calado à princípio, mas vai se mostrando cada vez mais revolto e perigoso com o tempo, ainda mais com a curiosidade crescente sobre a luz do farol que é totalmente fora dos limites impostos por Thomas.
O relacionamento entre os dois oscila entre conversas amigáveis, bebedeiras e discussões. Uma delas é um dos pontos altos do filme com direto a uma praga impagavelmente deliciosa imposta por Thoma. Assim, a tensão é tão grande que nunca sabemos se ambos vão se matar ou se tornar amantes. A sexualidade é um ponto fortíssimo na trama, com o amor sexual e etéreo de Thomas pela luz e os delírios masturbatórios e mitológicos de Ephraim por uma sereia.
Aspectos técnicos
Eggers disse, na coletiva de imprensa, que sempre imaginou o filme em preto e branco e filmado em película 35mm e buscou ao máximo tratar a produção como algo filmado no início do século 20, chegando ao capricho de usar equipamentos e lentes das décadas de 20 e 30 para dar o aspecto desejado ao filme. E essa decisão fez toda a diferença, a granulação e contraste são altos, deixando uma sensação incômoda de sujeira por toda a projeção. O aspect ratio é de 1,19:1 com uma janela de imagem quadrada na tela, o que aumenta muito o clima claustrofóbico e gera imagens belíssimas de enquadramento. Sério, você poderia usar 99% dos frames desse filme como fotografia de decoração.
A trilha sonora e design de som também merecem destaque. Uma cria fundo para a tensão cada vez mais crescente entre os dois homens aprisionados na ilha; e a outra dá vida à própria ilha que sussurra e outras vezes praticamente grita impondo autoridade aos meros e impotentes residentes.
A ilha em si é o principal antagonista na trama e um avatar utilizado por ela é uma simples gaivota que tal como o corvo de Edgard Allan Poe se torna cada vez mais perturbadora, sendo um ponto de virada na trama. O Farol não é um filme fácil, pode chocar e não agradar boa parte do público, mas é magistralmente orquestrado com uma direção precisa e atores no auge da interpretação. Nos cinemas a partir de 2 de janeiro de 2020.
Excelente texto Mauro!!!!
Cara, curto muito filmes de terror, a Bruxa eu gostei bastante, e de fato as atuações do Farol foram ótimas, fora a filmagem, a arte do preto e branco e o estilo de terror escolhido (Lovecraft) terror paranóico, PORÉM, achei a história enfadonha, até já vi gente fazendo analogia a Proteu (o filme deixa mesmo a gente meio doido kkkk).
Mas a estória eu achei fraca, diálogos prolixos, até parece um pesadelo (o que é algo bom) mas não tem nexo algum, um pesadelo que não empolga, seria mais para um devaneio da “maria louca” que eles tavam tomando kkkkkkkk.