O Príncipe Dragão, 1ª temporada (2018)

O Príncipe Dragão explora bem os gêneros e etnias sem conservadorismo estereotipado. Apresentando uma narrativa medieval pouco usual, que aqui soa vanguardista por inúmeros motivos. Ainda que o cel shading possa parecer estranho à primeira vista, os olhos logo se acostumam e são compensados com uma animação tecnicamente incrível e bastante fluída. Os cenários são como se pintados a óleo, além de um character design um bocado inventivo.

A série exclusiva da Netflix foi criada por caras envolvidos no sucesso Avatar – A Lenda de Aang: Aaro Ehasz (um dos principais roteiristas e editores daquela animação) e Justin Richmond (ex-diretor de games na Naughty Dog), além de Giancarlo Volpe (que dirigiu mais de 19 episódios do carequinha e sua turma).

O Príncipe Dragão

A história gira em torno de uma longa guerra entre humanos e elfos, iniciada após a morte do Rei Dragão e do sumiço de seu único ovo pelas mãos humanas. Séculos depois, Callum, Ezran e Rayla, dois humanos e uma elfa, encontram o ovo e se unem para acabar com a guerra e restaurar a paz no mundo, saindo em uma jornada de redenção.

Com apenas 9 episódios de 27 minutos cada, a animação pode (e deve) ser “maratonada” numa tacada só. Até mesmo porque cada capítulo se liga muito bem no outro. Com ótimos ganchos, em uma trama que evita os clichês do gênero, fazendo bom uso de alguns tropos (a elfa assassina que nunca matou ninguém, o usurpador do trono, o objeto mágico que vai mudar o mundo, os itens especiais e essenciais para a jornada etc). O enredo apesar de evitar qualquer ameaça muito grave, também não facilita para os inimigos e mocinhos. São criados desafios interessantes para ambos os lados. Equilibrando bem o jogo, que num primeiro momento destoa do maniqueísmo, pra ir apresentando seu verdadeiro e evidente vilão gradualmente. E mesmo que seus propósitos malignos sejam simples (a sede de poder), a maneira como ele os executa merece méritos pela sutileza e inteligência, tão em falta nos maldosos oitentistas.

Os criadores sabem como compor a história de um jeito funcional, para agradar crianças e adultos. Por isso a violência é atenuada, mas a produção não é carente de malícia, só perceptível por quem a tem – eis uma bela sacada. Trabalhando o emocional de suas figuras em tela, com uma rica fauna em cenários ao mesmo tempo deslumbrantes e vastos. As criaturas são tão inventivas quanto as de Avatar, ainda que existam animais comuns também por aqui. Isso permite uma exploração interessante em sequências de ação, embaladas pela excelente trilha do experiente Frederik Wiedmann. Mas é na construção de personagens que reside o grande trunfo de O Príncipe Dragão.

Os personagens

Desde uma general muda e maternal, passando pela maga poderosa e avoada, o paladino galã e bobo, o conselheiro à lá Mindinho, indo até o rei negro. Não existe racismo nesse mundo e é magnífico ver os novos passos que a geração de agora dá nesse sentido. Sem a necessidade de panfletagem, mas embutindo representatividade de maneira natural. Entre outros coadjuvantes organicamente carismáticos. E o trio protagonista, como não podia deixar de ser, é o que verdadeiramente brilha.

Ezran é uma criança que se porta como uma criança, trazendo ingenuidade e graça (e seu mascote carrancudo é engraçadíssimo). Callum lembra um pouco Soluço (de Como Treinar Seu Dragão, além de trazer o mesmo dublador na versão nacional), transitando entre o atrapalhado e o esperto rapaz que se descobre um feiticeiro (em um sistema de magia simples, mas bastante criativo e autoral). Enquanto que Rayla faz a figura complexa da desertora guerreira. Afinal, ela é muito mais do que aparenta. Em todos os bons sentidos, fortalece a figura feminina já forte na série, mas sem necessidade de levantar bandeiras.

A Netflix está com tudo!

O desfecho conclui, de certa maneira, a primeira quest proposta na premissa. De maneira morna, mas fundamental, são deixados pelo menos três bons ganchos para uma inevitável continuação. Essa é uma animação que veio para ficar.

O Príncipe Dragão, 1ª temporada (2018)

Nome original: The Dragon Prince

Elenco: Vozes de Jack De Sena, Paula Burrows, Sasha Rojen, Racquel Belmonte

Gênero: Animação, Família, Fantasia

Produtora: Netflix

Disponível: Netflix

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