Os Defensores na medida certa

Os Defensores acerta no enredo, equilibrando bem momentos de ação, drama e mistério, ao mesmo tempo que sabe dosar na mesma medida o trabalho com seus quatro protagonistas e dá a receita de como fazer um crossover decente, sem abusar de clichês nem easter-eggs, se sustentando unicamente em uma ideia geral bem planejada (lá atrás, no primeiro Demolidor de 2015), colocando tijolo por tijolo, até essa conclusão pra lá de bem-feita e satisfatória.

Do primeiro ao último minuto, Os Defensores entretém, dando ótima continuidade ao que foi estabelecido em cada história, de cada herói, com seu tom urbano e realista, sem nunca perder o chão, ao mesmo tempo que amarra todas as pontas. Está ali a resposta para o buraco encontrado por Demolidor em sua segunda temporada, a situação de sarjeta de onde Jessica ainda não saiu, a volta a vida livre de Luke e as buscas na jornada de Danny Rand.

É realmente singular a maneira como os roteiristas encontraram para unir os personagens, e ainda que Os Vingadores sejam um ótimo exemplo de crossover bem feito, é em Os Defensores que vemos isso sendo realizado de forma realmente ideal. Matt pendurou as chuteiras, mas ainda não abandonou o que é e acaba retornando pra suas desventuras ao assumir o caso de Jessica, que por sua vez resolve investigar um caso estranho envolvendo um arquiteto que quase é morto por Elektra, revivida pelo Tentáculo e que também mata outra boa alma no Camboja e enfrenta o Punho de Ferro, que se vê em suas perguntas, encontra as respostas as voltas em Nova Iorque, que corre risco de destruição. Luke Cage, ao retornar, se envolve com o caso de um moleque das ruas, este envolvido com o Tentáculo.

Claire, sempre superestimada pelo público, felizmente não é o Nick Fury da vez (Stick talvez 😛 ) e o quarteto se une por ímpeto próprio, dentro de seus próprios princípios, o que torna tudo mais orgânico e interessante de acompanhar. Tudo funciona e arrisco a dizer que o formato aqui deveria ser cartilha para futuros crossovers, de futuras obras com heróis. Aonde se respeita a base de cada um (Jessica é relutante e não sabe trabalhar em equipe; Demolidor sabe trabalhar em conjunto, mas guarda segredos demais; Luke Cage precisa se desvincilhar das correntes bairristas; e Punho de Ferro precisa enxergar além de sua jornada), distribuindo protagonismo para todos em igual medida, o que favorece o andamento da história.

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Mais uma vez, os vilões também guardam bons momentos. Depois de Rei do Crime e Killgrave, a Alexandra de Sigourney Weaver não deixa nada a dever, entregando uma antagonista humana, com problemas e cheia de intenções misteriosas com seu Tentáculo, que só vão finalmente se desvendar próximo do final, em uma estratégia inteligente, próxima da realidade dessas séries e plausível num geral. Madame Gao novamente dá o ar das graças, e na turma do mal ainda temos um interessante homem do chapéu branco, com outras duas figuras que não se sustentam bem, ainda que sejam importantes à sua maneira. Elektra, é claro, brilha mais uma vez e se torna uma complexa antagonista, responsável pelos melhores plot-twists do enredo e por duas baixas bastante relevantes. Mais linda do que nunca, a personagem rouba todas as cenas em que aparece.

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Os coadjuvantes brilham menos aqui do que nas séries-solo, mesmo assim servem como apoio no drama que segue e entre os destaques certamente Claire, Colleen e Misty são as maiorais (e merecem uma série própria, por favor). Da primeira, só gerou estranhamento que ela e Matt não tenham se reconhecido e nenhuma piadinha envolvendo sua rápida relação com ele tenha sido feita perto de Luke. Colleen conclui sua própria jornada de maneira redondinha, enquanto que Misty recebe (ou perde, depende do ponto de vista) algo que pode torná-la a personagem dos quadrinhos que todos esperam desde a série de Luke Cage.

O trabalho de fotografia e cenografia também é exemplar, principalmente no início, com o jogo de cores (azulado para Jessica, vermelho para Demolidor, amarelo pra Luke e esverdeado para Danny Rand), e pra quem tava achando a direção de Luke Cage e Punho de Ferro meio capenga ou com ação bizarra, aqui pode ficar tranquilo, porque em Os Defensores a câmera é nervosa, bastante vertiginosa e pra lá de estilosa, dando uma personalidade singular para o trabalho geral. Mesmo com algumas sequências de lutas no escuro, pra disfarçar o baixo orçamento, elas não perdem o tom, porque o jogo de sombra e luzes colabora para o ritmo e tudo acaba funcionando de qualquer jeito.

De qualquer forma, mesmo firme no chão e na realidade proposta, Os Defensores também entrega o melhor do entretenimento de super-herói, ainda que do seu jeito: temos o escolhido se perdendo e encontrando seu caminho, o altruísta se reinventando para não tombar novamente, a imprevisível surpreendendo, e o herói clássico se sacrificando, ainda que saibamos que ele voltará. Todos eles voltarão, juntos e separados, para uma segunda fase que promete.

Mesmo com altos e baixos, cada série solo foi ainda acima da média e valeu a pena esperar esses três anos para recebermos Os Defensores. Netflix acertou novamente.

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