Os Guarda-Chuvas do Amor, romance musical francês

Os Guarda-Chuvas do Amor é um filme de 1964, dirigido por Jacques Demy. Geneviève (Catherine Deneuve) é uma garota de 17 anos que ajuda sua mãe (Anne Vernon) em sua loja. Ela se apaixona por Guy (Nino Castelnuovo), que retribui seu amor.

Logo depois, Guy é convocado para lutar na guerra da Argélia e Geneviève descobre que está grávida. Ela agora tem que decidir se espera a volta de Guy ou se prossegue com a sua vida.

Catherine Deneuve como Geneviève em Os Guarda-Chuvas do Amor
Catherine Deneuve como Geneviève

A situação da mulher

Os Guarda-Chuvas do Amor é, na sua origem, um romance musical. Ele foca bastante no romance de Geneviève e Guy, mas a protagonista é Geneviève. Talvez essa nem seja a intenção principal por trás do filme, mas, à sua maneira, ele mostra um pouco da situação da mulher nos anos 60.

Geneviève trabalha com a mãe. Ela não estuda e nem pensa em ter uma carreira, ela simplesmente aceita o que vem em sua direção. No caso de Geneviève, o que vem em sua direção é Guy. Os dois vivem um romance recíproco e decidem se casar. Esta decisão é interrompida pela mãe de Geneviève, que acha a filha nova demais. Mais uma vez, Geneviève se vê à mercê da decisão de outras pessoas sobre o seu futuro.

Catherine Deneuve e Nino Castelnuovo interpretam o casal de protagonistas
Catherine Deneuve e Nino Castelnuovo interpretam o casal de protagonistas

Então, uma decisão maior ainda aparece na direção do jovem casal, a guerra da Argélia, que obriga Guy a ir lutar. Geneviève se vê ainda ligada a Guy, porque o ama e se preocupa com ele, mas a ligação fica ainda maior quando ela descobre que está grávida. O que resta para a garota então, é um futuro de mãe solteira, o que na época não era bem visto.

Tudo bem que Guy vai para a guerra sem sequer saber que ela estava grávida, mas isso implica em automaticamente deixar Geneviève sozinha e “perdida”, segundo a mentalidade da época. É natural que a mãe da menina comece a insistir para que ela encontre outra pessoa. E é aí que as dúvidas de Geneviève ficam ainda maiores.

O filme é repleto de cores em tons pasteis
O filme é repleto de cores em tons pasteis

A guerra da Argélia (1954 a 1962)

A guerra da Argélia foi um movimento de liberação nacional da Argélia, que na época era de domínio francês. Os Guarda-Chuvas do Amor não é um filme político por si só, ele usa a guerra apenas como pano de fundo para a trama principal, mas isso não quer dizer que ele não fale sobre a guerra.

Quando Demy coloca a guerra como o grande impedimento para o amor de Geneviève e Guy, ele automaticamente nos fala sobre a guerra e como ela tritura o sonho dos jovens e acaba com vidas. Mesmo que as pessoas em questão não morram de fato. Essa é uma perspectiva comum no cinema americano que é, até hoje, extremamente crítico com a guerra do Vietnã (que é o pano de fundo para pelo menos dois musicais: Hair e Across The Universe e para milhares de outros filmes de outros gêneros), mas não tão comum no cinema francês.

Em Os Guarda-Chuvas do Amor a guerra da Argélia leva Guy para longe e o muda completamente, como as guerras geralmente fazem com seus sobreviventes, e transforma Geneviève, uma jovem apaixonada e cheia de sonhos, em uma mãe solteira com os pés no chão. A guerra pode não ser o centro do filme, mas ela transforma seus personagens, e no caso de Geneviève e Guy, os faz crescer e se tornarem adultos.

Geneviève e sua mãe em Os Guarda-Chuvas do Amor
Geneviève e sua mãe

Aspectos técnicos

Os Guarda-Chuvas do Amor é um filme que tem música o tempo todo, não sempre cantada, mas pelo menos de fundo, mais ou menos como uma ópera. A história então avança com os diálogos, que são cantados. Diferentemente de muitos musicais, os atores não cantam neste filme. Eles foram dublados.

Entre as músicas que fazem parte da trilha sonora estão: Scene du garage, Sur le quai, Chez Dubourg, le joaillier, Le mariage e Dans le magasin. Algumas dessas músicas se tornaram tão populares na época que ganharam versões em inglês.

Geneviève
Geneviève

Parte do apelo do filme é o fato de ser extremamente colorido, embora mais puxado para os tons pasteis. Tanto a fotografia quanto os figurinos puxam para esses tons. Os figurinos do filme são, de fato, lindos. Eles são típicos dos anos 60 e é impossível não desejar para si pelo menos uma das roupas de Geneviève.

O apelo da história de amor também é grande, afinal, todo mundo gosta de assistir a um romance de vez em quando, mesmo que ele seja irrealista. Não é o caso deste musical, que retrata uma situação bem real e plausível.

O filme tem como pano de fundo a guerra da Argélia
O filme tem como pano de fundo a guerra da Argélia
O legado de Os Guarda-Chuvas do Amor

Os Guarda-Chuvas do Amor, na verdade, faz parte de uma trilogia informal de Jacques Demy. O filme vem depois de Lola, a Flor Proibida e antes de Duas Garotas Românticas (que tem Deneuve no elenco e sua irmã, Françoise Dorléac). Os filmes da trilogia partilham o mesmo design, o mesmo estilo e em alguns casos, até os mesmos atores.

Em 1969, Os Guarda-Chuvas do Amor serviu de inspiração para o curta Les Bicyclettes de Belsize, que é basicamente uma sátira do filme original. A história virou peça em 1979, em uma versão em inglês. A peça ganhou revivals em 2005 e 2011.

Uma montagem de Os Guarda-Chuvas do Amor no teatro
Uma montagem de Os Guarda-Chuvas do Amor no teatro

Além disso, o filme é claramente uma grande influência para o diretor francês Christophe Honoré. Existem referências e semelhanças claras entre Os Guarda-Chuvas do Amor e pelo menos dois dos filmes de Honoré: Bem Amadas e Canções de Amor.

Os Guarda-Chuvas do Amor foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, melhor música (I Will Wait For You, versão em inglês de uma das músicas do filme), melhor trilha sonora original, melhor trilha-adaptação ou tratamento e melhor roteiro original. Mas acabou não levando nenhum.

Este é um romance musical bonito e delicado, com um visual incrível e lindas canções.

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