Palm Springs, uma das maiores surpresas do ano
Fala sobre romance e rotina de um jeito especial
Essa não é só mais uma comédia romântica. Sendo uma das maiores aquisições do Festival de Sundance deste ano pelo Hulu, a história acompanha dois estranhos que se encontram em um casamento em Palm Springs (no sul da Califórnia) apenas para ficarem presos em um loop temporal no dia 9 de novembro.
É claro que imediatamente remetemos a “Feitiço do Tempo” (pai de “No Limite do Amanhã”, “Contra o Tempo”, “A Morte Te dá Parabéns”, entre vários outros), filme este que o diretor estreante Max Barbakow e o roteirista Andy Siara assumem como uma de suas principais referências.
Porém, eles fazem um uso inventivo da fórmula e a partir dela constroem uma narrativa singular, ao mesmo tempo engraçada e tocante, se aproximando muitas vezes mais do clássico cult “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” do que da produção com Bill Murray. Especialmente no teor que se dá do desenvolvimento mais humanizado entre seus protagonistas e a condição incomum no qual eles se envolvem.
Palm Springs
Andy Samberg está ótimo, trazendo seu humor físico e caretas abobalhadas, que escondem certo desespero nas entrelinhas. Cristin Milioti consegue estabelecer uma bela química com o ator e ao mesmo tempo oferecer reações mundanas, criando imediata identificação com o espectador, com seus olhares ora melancólicos ora indignados. J. K. Simmons, como sempre, apresenta uma atuação impagável.
O filme cria situações criativas para o loop temporal, a princípio seguindo a cartilha desse subgênero, mas não depende das repetições para contar a história, usando o efeito de rotina (seja solitário, seja a de um casal) para estabelecer a sua força narrativa, desde quando seus protagonistas desencanam de tudo e aproveitam para valer como se fosse o último dia de suas vidas (pois sabem que aquele dia logo vai resetar), até para aproveitarem o infinito para estudar, aprender melhor sobre o fenômeno (que mescla ciência com sobrenatural, mas nunca se prendendo a explicações, pois não é sua função), enquanto vão descobrindo um no outro o verdadeiro motivo de viver.
É fato que apesar de transmitir um ambiente seguro, a rotina também é bastante prejudicial e nem precisa de loop temporal para isso. Dias iguais prendem a pessoa na mesmice, sem nunca ousar, inovar ou descobrir novas coisas, pessoas e possibilidades. Ao mesmo tempo, sair dela significa entrar em território desconhecido, onde tudo pode acontecer. Palm Springs é assim, parece mais do mesmo, mas se você olhar com atenção, poderá se surpreender. A trama te tira do lugar-comum e te leva para um filme completamente maravilhoso, que você poderá ver e rever sempre que quiser. Então não deixe de tentar.