Pássaro do Oriente, suspense que flerta com o drama
Mas evita uma identidade de gênero
O filme da Netflix, Pássaro do Oriente, nos leva de volta a Tóquio de 1989, onde acompanhamos Lucy Fly, uma enigmática jovem atormentada por um passado traumático, que vê sua vida mudar quando conhece Teiji, um charmoso e misterioso fotógrafo, que faz uns bicos como cozinheiro em um restaurante. Em seguida, a carismática e ingênua Lily Bridges surge na rotina, rachando a sua vida com um desaparecimento repentino, questionando suas relações e sanidade.
Wash Westmoreland (de Colette) não busca definições com essa modesta produção, que ganha um capricho suntuoso de fotografia, principalmente nas cenas noturnas, e sustenta toda a força de seu enredo sobre as costas da sempre talentosa Alicia Vikander.
Assim, desenha ora um drama romântico, ora um suspense psicológico, que nunca abraça nenhum dos formatos e se deixa levar pelo triângulo afetuoso que se desenvolve entre seus personagens. Naoki Kobayashi ainda consegue vender a ideia de galã, mas Riley Keough, neta de Elvis Presley, é fraca demais. E também pelo interrogatório que se passa alguns dias depois dos eventos trágicos que a trama sabe manter sob as cortinas, mesmo revelando partes dele ao longo do filme.
Pássaro do Oriente
O flerte com a morte – seja com o passado de Lucy, seja com a atualização do Memento Mori por parte de Teiji – dá coesão ao enredo e se justifica no desfecho, mas o exagero melodramático nos backgrounds da protagonista, ou na maneira forçada como Lily entra em sua vida amorosa, ganha muitas vezes ares de novela mexicana, tirando a força do mistério proposto, o que pode agradar parte do público e desapontar outro.
Mesmo assim, Pássaro do Oriente consegue um texto redondo, enquanto, bem sutilmente, sussurra sobre pedofilia e bullying de um lado, e a vida das mulheres maduras japonesas do outro (como uma evidente crítica daquela sociedade). Assim como faz durante toda sua duração, a obra é desprendida de um gênero, para falar de muitos temas para todas as pessoas. Acertando, ao menos, um alvo entre os espectadores.