Peça Teatral: O Mágico de Oz, uma boa produção

Em O Mágico de Oz, Dorothy Gale (Bia Jordão) é uma menina que vive no Kansas com seus tios e o seu cachorrinho Totó. Um dia, um ciclone varre a fazenda onde ela vive, carregando sua casa para uma terra encantada chamada Oz.

Em Oz, Dorothy encontra Glinda (Nicole Rosemberg), a Bruxa boa do Sul, que lhe aconselha a procurar o famoso Mágico de Oz (Felipe Tavolaro), para a levá-la de volta para casa.

No meio do caminho, a menina encontra novos amigos que, assim como ela, também precisam da ajuda do Mágico. O Espantalho (Ítalo Rodrigues), que deseja um cérebro; O Homem de Lata (Alvinho de Pádua), que deseja um coração; e o Leão (Márcio Yáccof), que deseja ser corajoso.

O Espantalho e Dorothy em O Mágico de Oz
O Espantalho e Dorothy

A origem de O Mágico de Oz

O Mágico de Oz é uma trama que já não precisa de muitas explicações, todo mundo tem pelo menos uma noção do que se trata. A história é, originalmente, o primeiro livro de uma série escrita por L. Frank Baum, que ficou muito mais famoso que todos os outros livros da coleção (ao todo são 14 livros).

Boa parte dessa fama se deve ao filme de 1939, dirigido por Victor Fleming e estrelado por Judy Garland. O longa foi tão marcante que a imagem de Garland no filme é a ideia que todos nós fazemos de Dorothy até hoje, embora no livro ela seja uma garotinha de 11 ou 12 anos (Garland tinha 16 quando estrelou o filme) e não tenha nenhuma descrição física.

Para grande parte do público, Dorothy Gale é uma menina de cabelos castanhos escuros, trancinhas, com um vestido azul listrado, uma cesta na mão e os sapatos vermelhos no pé, que aliás, também são uma invenção do filme, que queria explorar as cores no cinema, já que no livro, os sapatos são transparentes. O Mágico de Oz de Fleming, que é um filme musical, também inspirou um musical da Broadway, que estreou em 2011, usando as músicas que foram compostas para o filme.

A produção é voltada para o público infantil
A produção é voltada para o público infantil

A produção

O primeiro aspecto que se deve ressaltar sobre essa produção de O Mágico de Oz é que ela não é uma produção oficial da Broadway. Portanto, não tem as mesmas músicas e nem necessariamente os mesmos figurinos. Apesar disso, a produção tem um trabalho claro e visível para se aproximar do filme de 1939, e, portanto, da ideia que todos nós temos de O Mágico de Oz.

Outra coisa que se deve levar em conta é que a peça é uma produção focada no público infantil, e não tem nada de errado nisso, afinal, o livro de Baum era destinado ao público infantil. Embora existam diversas interpretações das tramas tratadas na obra original que possam relacioná-la ao mundo adulto e que o filme e o musical da Broadway tenham tornado O Mágico de Oz um espetáculo para todas as idades.

Pensando nisso, a produção da peça fez algumas adaptações, mas não mexeu tanto assim na trama, que já é tão característica e de fato, agrada crianças e adultos. O Mágico de Oz usa de algumas cenas filmadas, que servem como passagem de tempo, e que também são ótimas para mostrar aspectos que não podem ser retratados no palco com muita facilidade, como o ciclone carregando uma casa, por exemplo.

Os personagens encontram o Mágico
Os personagens encontram o Mágico

Interatividade

A peça também é muito interativa. Quando Dorothy é carregada pelo ciclone, pedaços de papel caem na plateia acompanhados de um vento que engloba todo o teatro. Mais tarde, bolhas de sabão e bexigas caem do teto, fazendo com que as crianças prestem menos atenção no que acontece no palco e mais atenção no teto do teatro.

Os atores também conversam com a plateia, e especificamente com as crianças. Dorothy e os outros personagens descem do palco, distribuem maçãs para as crianças, conversam com elas e até convidam algumas delas para trilharem a estrada de tijolos amarelos com eles, que tem uma parte pintada no chão do teatro.

Outro ponto alto da peça é quando a Bruxa má do Oeste (Titzi Marques) “voa”, em uma técnica muito parecida com a de Wicked, que também é muito bem-feita, convence e impressiona a plateia. A peça é, surpreendentemente, uma boa produção, cuidadosa, que enreda as crianças na sua trama e que pode divertir também os adultos.

Dorothy encontra os Munchkins
Dorothy encontra os Munchkins

A história

A história da peça não é muito diferente da trama do filme, embora não seja tão fiel ao livro de Baum, uma vez que o filme mesmo usa cenas dos outros livros da série, mas isso não incomoda. Já que a produção é voltada para o público infantil, muitas das crianças nem conhecem a trama toda e não vão achar nada do que é apresentado ruim.

As diferenças poderiam alarmar os pais, que talvez conheçam e gostem do livro, mas me parece improvável que isso aconteça, uma vez que não existe um fascínio tão grande pelo O Mágico de Oz no Brasil, como existe nos Estados Unidos, que constantemente faz releituras, remakes e versões do clássico.

O musical é interativo
O musical é interativo

A trama é simples, feita para transmitir lições às crianças e é isso que a peça faz. Cada personagem deseja alguma coisa, que supostamente, só o Mágico pode realizar, no entanto, todos os desejos, menos o de Dorothy, são relativamente subjetivos.

Os personagens e seus desejos

O Espantalho, por exemplo, quer um cérebro, mas ele tem se comunicado e tomado decisões importantes e inteligentes durante todo o caminho. Já o Homem de Lata deseja um coração, mas se afeiçoou aos seus novos amigos mesmo sem ele. jO Leão se acha covarde, mas junto com Dorothy, Totó, o Espantalho e o Homem de Lata, ele vem enfrentando uma série de perigos.

O Mágico de Oz fala sobre o poder de acreditar em si mesmo e no poder que vive dentro de cada um de nós e essa é certamente uma boa mensagem para se passar para as crianças.

O Mágico de Oz se mostra uma produção atemporal
O Mágico de Oz se mostra uma produção atemporal

Aspectos técnicos

Embora não exista qualquer relação dessa produção com o musical da Broadway, percebe-se um cuidado com a adaptação e ela deixa pouco a desejar. É impossível não olhar os cenários e figurinos que a peça apresenta e não a relacionar a O Mágico de Oz, o que é um bom ponto de partida.

Os efeitos usados na peça também são bons e entretém as crianças. O uso de vídeo ajuda na contextualização e na passagem de tempo. A peça também foi modernizada e algumas piadas foram colocadas nas bocas dos personagens secundários. Dessa forma, o Espantalho dança funk e, mais tarde, ele e o Homem de Lata fazem uma música que mistura funk e pagode. Até piada com o Neymar é permitido, mesmo que provavelmente um morador de Oz nem saiba quem é Neymar.

O que não cai tão bem é a interpretação que deram para o Leão, que exagera nos trejeitos geralmente ligados a personagens homossexuais extremamente caricatos. A questão não é a interpretação do ator, que é competente, mas sim a ideia por trás de tudo. Colocar um personagem LGBTQ+ em O Mágico de Oz pode ser interessante, uma vez que é sempre bom ter essa representação e que O Mágico de Oz sempre teve ascendência sob o público gay (a música Somewhere Over The Rainbow foi interpretada como um hino LGBTQ+ e a expressão “amigo da Dorothy” era uma maneira de falar sobre homens gays na época da guerra, quando ainda era ilegal ser gay nos Estados Unidos), mas talvez isso pudesse ter sido feito de maneira mais realista.

O Espantalho e Dorothy encontram o Homem de Lata
O Espantalho e Dorothy encontram o Homem de Lata

O elenco

O elenco também se sai bem, todos os personagens parecem bem estudados e embora sejam figuras planas, como no livro, funcionam dentro da trama. Bia Jordão está ótima no papel de Dorothy, ela é simpática, adorável e canta e dança bem. Assim, é muito fácil simpatizar com a personagem, o que é extremamente necessário, uma vez que acompanhamos Dorothy do começo ao fim.

A grande questão de O Mágico de Oz são as músicas. A peça usa músicas diferentes das que estão tanto no filme, quanto no musical da Broadway. Embora essas músicas apareçam quase nos mesmos momentos que nas outras produções e tenham melodias e temas bem parecidos, isso pode decepcionar quem foi ao espetáculo com a expectativa de ouvir as canções famosas. Mas não desanime completamente porque a clássica Somewhere Over The Rainbow faz parte da trilha sonora, em uma versão adaptada, claro.

Com uma boa produção e um bom elenco, O Mágico de Oz se mantém como uma história que merece ser contada mesmo depois de 120 anos de sua publicação. A peça está em cartaz no Teatro Bradesco até o dia 16 de fevereiro, para mais informações, acesse aqui.

O Mágico de Oz

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