Penadinho: Lar, de Cristina Eiko e Paulo Crumbim
Uma das melhores Graphic MSP ganha uma continuação vistosa e tocante
Com o traço fofo e dinâmico de Cris Eiko e o storyboard e cores de Paulo Crumbim, Lar ganha vida nas páginas dessa nova aventura de Penadinho e a turma do cemitério, que tem nas ambientações seu maior desafio dessa vez, em uma história mais madura e sensível, que depende de muitos elementos do primeiro quadrinho (eu mesmo tive de revisitar “Vida“, que li em 2015, para relembrar certos contextos, cruciais aqui).
A obra usa e abusa de São Paulo como cenário para tridimensionalizar situações mais do que reais em uma linguagem de fantasia, equilibrando bem o lúdico com a mensagem social de ocupação, desabrigados e de quanto a maior metrópole do país segue abraçando a todos que chegam até ela.
Penadinho: Lar
Eiko parece ainda mais à vontade e desenvolta no traço dos personagens (Dona Morte segue apavorantemente impressionante, Penadinho e Zé Vampir extremamente fofos e Lobi e Frank muito amigáveis), deixando os leitores desejosos por uma animação e bonecos dessas figuras tão cativantes.
Das novas criaturinhas (que transitam bem entre o mangá e os cartunescos ora da Pixar, ora da Nick) as participações especiais oriundas de outras graphics, até os detalhes de cenários, tudo é muito agradável aos olhos, no traço singular da artista que, justamente por saber mesclar tão bem várias escolas e elementos, consegue entregar um material de cara única.
É muito legal ver como os dois conseguiram emprestar as crias de Mauricio de Sousa e imprimir uma personalidade específica, crível e identificável para cada um dos monstrinhos.
Ah, a arte!
Crumbim pira em cores vibrantes e enervantes, que saltam das páginas com vida e voracidade, como nas cenas chocantes da colina ou no edifício, seja com o ambiente em chamas ou debaixo da chuva. Com uma narrativa sempre fluída e sagaz, de dois profissionais que também trabalharam com animações, Penadinho: Lar ganha ritmo e… vida, sem qualquer perdão por trocadilhos aqui.
Até mesmo uma tragédia ocorre e, ainda que ela não pese tanto (já que o personagem não tinha ganhado tanto desenvolvimento para sentirmos sua perda), é uma situação improvável nesse tipo de material (portanto, mais do que bem-vinda pela ousadia).
A última cena também me deixou com interrogações e achei que tivesse faltando páginas, pois existe certa abstração na maneira como ocorre o desfecho, que opta mais pelo emocional, sem pegar o leitor na mão e mastigar (algo que eu sempre valorizo e defendo, mas continuo sem entender o que rolou ali diante do oceano).
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De qualquer maneira, é uma cena poderosa, que promove um gancho indireto para uma inevitável e já aguardadíssima continuação, considerando o arco entre Penadinho e Alminha que vem se desenrolando desde o começo.
A edição da Panini (capa mole mesmo, que eu sou desses) capricha nos extras e é um deleite ver os esboços do casal para as páginas e personagens, além de alguns estudos de capa e processo criativo. Mesmo não superando a primeira publicação, Penadinho: Lar mantém a qualidade e entrega uma continuação decente, visualmente impecável e assustadoramente crua e real em outros aspectos.
Como disse um ser iluminado que desviava de balas certa vez: “Escolha, o problema é a escolha”. Pois é, Penadinho. Mas Lar é uma escolha segura e divertida de uma ótima leitura.