Pinocchio – O cara de pau

Todo mundo conhece a história de Pinocchio – o boneco de madeira que ganha vida e sonha em se tornar um menino de verdade. O clássico da Disney foi um fracasso de bilheteria no lançamento e se tornou um dos grandes desenhos animados da história, graças à grande influência do mestre Waltinho, que sabe como ninguém dar aquele toque de magia nas coisas.

O diretor italiano Matteo Garrone aproveitou que a história se passa na Itália e fez sua própria versão, linda, bem trabalhada, arrastada, mais adulta do que o desenho animado e chatíssima. Talvez a única coisa pior do que a Disney fazendo adaptações live action de seus filmes clássicos seja outros estúdios fazendo essas adaptações.

Pinocchio

Buongiorno, Italia em Pinocchio

Italiano que é, Garrone abusa do uso dos cenários de seu país para o filme: vilas, campos e praias. O elenco também é 100% italiano, tendo o ganhador do Oscar Roberto Benigni no papel de Gepeto.

Eu não sou muito fã de Roberto Benigni… Na minha opinião, o ator italiano é um quase-Nicolas-Cage, faltando um pouquinho mais de overact pra ficar bom, faltando um pouquinho mais de carisma pra ficar simpático, faltando um pouquinho mais de revolta pra ficar inspirador, faltando um pouquinho menos de discernimento para aceitar fazer trinta filmes por ano, sem se importar com a qualidade dos roteiros. Resumindo: um Nicolas Cage italiano que deu errado.

Um defeito um pouco maior do que a atuação exagerada de Benigni e que me incomodou muito mais durante todo o decorrer do filme é a dublagem. O filme chega em versões dubladas e legendadas ao cinema brasileiro, porém, a versão legendada está dublada em inglês. Só quando vemos um trabalho de dublagem estrangeiro é que damos valor à excelente qualidade da dublagem brasileira. E olha que a dublagem do filme para o inglês foi dirigida pelo próprio diretor do filme, que se preocupou tanto com a recepção internacional que cuidou ele mesmo das edições estrangeiras da obra.

Talvez seja por isso que, ao perguntar ao pessoal da Imagem Filmes sobre alguma versão com o áudio original, eles tenham me respondido que essa era a versão original, provavelmente ela foi assim disponibilizada para os mercados estrangeiros.

Só gente burra

Distraído pela má qualidade da dublagem, o filme foi descambando. A história é mais próxima do conto original de Pinóquio do que da adaptação dos estúdios Disney. Sem toda a magia do desenho animado, ela acaba escancarando defeitos do conto original, como por exemplo o fato de que todo mundo é incrivelmente burro. Os personagens do filme se dividem entre os idiotas e os idiotas aproveitadores e eles vão trocando de posição dependendo do arco do filme.

Isso, é claro, é culpa da história original, de 1883, reproduzida com grande fidelidade. Mas talvez faltou um pouco de trabalho de roteiro para fazer uma adaptação mais moderna. Em certo ponto do filme, passamos a duvidar que Pinocchio pudesse ser um boneco vivo, não por ele ser feito de madeira, mas porque ele é incrivelmente estúpido.

Pinocchio

O lado bom

Quem quiser encarar tantos defeitos vai se deparar com um filme visualmente lindíssimo. As locações são de encher os olhos, os personagens são bem trabalhados e críveis (numa pegada Guillermo del Toro de fantasia), e os efeitos visuais são surpreendentemente bons, dado o fato de ser uma produção estrangeira sem ares de grandes pretensões de bilheteria.

No final acaba sendo só isso que salva mesmo.

O ritmo do filme deixa o público rapidamente cansado e o roteiro é arcaico: claramente funcionava no século XIX mas, no mundo pandêmico, nós precisamos de histórias com menos personagens burros para nos distanciar um pouco da realidade em que vivemos.

Pinocchio é um filme legal para assistir enquanto faz outra coisa, mas não vale uma ida ao cinema no meio de uma nova onda de coronga.

Pinocchio

Nome Original: Pinocchio
Direção: Matteo Garrone
Elenco: Federico Ielapi, Roberto Benigni, Rocco Papaleo
Gênero: Drama, Fantasia
Produtora: Archimede
Distribuidora: Imagem Filmes
Ano de Lançamento: 2019
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