Piratas do Caribe: O Baú da Morte

Filme abraça a comédia e o épico no lugar da aventura enxuta

Assim como “Matrix”, Piratas do Caribe não foi exatamente pensado para ser uma franquia, mas claro, existiam grandes possibilidades para isso se o primeiro filme desse muito certo. E deu, bastante. Sendo assim, o produtor Jerry Bruckheimer trouxe Gore Verbinski de volta à direção, agora mais à vontade e mais engajado e sem medo de abraçar o épico em detrimento da aventura, que consegue surpreender com grafismos pesados e ideias ainda mais ousadas, principalmente se considerarmos que é uma produção da Disney.

Sem amarras, os roteiristas Ted Elliott e Terry Rossio despirocam de vez e entregam um entretenimento de alto nível que, se não alcança o primeiro e imbatível longa, ao menos faz jus a ele de certa maneira, inclusive pegando pequenos elementos do anterior para expandi-lo dentro de uma saga que começa a se formar aqui.

Portanto, a bússola que antes era apenas quebrada e caótica, se torna um interessante instrumento que aponta para onde seu usuário deseja e meio que vira ponto de barganha. Personagens antes mortos brilhantemente dentro de um contexto, agora retornam do além, provando que nessa franquia a morte não é nada, mas ao menos tem função na trama.

Piratas do Caribe: O Baú da Morte

O Baú da Morte

Johnny Depp abraça de vez Jack Sparrow como o maior personagem de sua carreira e consegue ser o grande responsável pelos grandes momentos de comédia por aqui, cada vez mais irresponsável e mais mesquinho, que pelo menos recebe um desfecho digno de suas façanhas tão anti-heroicas.

Keira Knightley se esforça inutilmente tentando fazer graça, por outro lado acerta mais no drama e consegue que sua personagem ganhe uma carreira de desconstrução, numa década onde isso não exatamente era discutido.

Orlando Bloom pouco muda, mas é justamente seu equilíbrio e background que começam a compor o coração da verdadeira história por trás de tudo. As inserções de Stellan Skarsgård e Bill Nighy são mais do que bem-vindas e é quando notamos que o diretor, os roteiristas e o produtor conseguem brincar com um notório conto de horror clássico dentro dessa aventura de piratas (afinal, a famosa lenda de Davy Jones combinou quando casada com outra, a do navio Holandês Voador, tudo mesclado numa figura lovecraftiana e trágica e de coração partido, como um monstro de Frankenstein… é quase uma fórmula perfeita).

A trama

Juntando a mesquinharia de seus protagonistas, que passam a realizar jornadas próprias e particulares, com perseguições monstruosas (envolvendo uma impressionante sequência com o kraken) e a Companhia das Índias Orientais (a verdadeira vilã da saga), com a grande inclusão do nojento Lorde Bobson Cutler Beckett, interpretado por Tom Hollander com a mesma inspiração do restante do forte elenco.

O Baú da Morte, portanto, acaba se valendo de arroubos da mais absurda comédia, até o mais brutal dos embates (que quase tira o filme da faixa “para toda a família”), com criaturas duplamente mais asquerosas do que as anteriores, traições, sacrifícios e maldições se formando no horizonte.

E mesmo que o escopo aqui seja ainda mais épico e pretensioso do que seu original, é de se considerar que o cinema pipoca merecia uma aventura de grande porte em um período que Hollywood compreendeu a força desse tipo de narrativa (que tem na trilogia de “O Senhor dos Anéis” seu principal fundador), ainda mais considerando que a temática de pirataria, mais lendária do que histórica, permite tranquilamente tais ousadias.

Dessa maneira, O Baú da Morte prepara o terreno para a formação de uma franquia que até hoje mostra sinais de vida. Até ali, portanto, o segundo filme ainda conseguia encontrar equilíbrio entre um decente escapismo com um épico de seu tempo. E mesmo com tantas mortes e pirotecnias, ainda fazia rir e muito.

Piratas do Caribe: O Baú da Morte

Nome Original: Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest
Direção: Gore Verbinski
Elenco: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Jack Davenport, Bill Nighy
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Produtora: Walt Disney Pictures
Distribuidora: Walt Disney Pictures
Ano de Lançamento: 2006
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