Por Trás da Inocência – Um suspense constrangedor

Mary Morrison (Kristin Davis) é a autora bem-sucedida de uma série de livros de suspense eróticos. Ela vive com seu marido, Tom (Dermot Mulroney) e seus filhos gêmeos (Marie Wagenman e Shylo Molina) e não tem qualquer intenção de voltar a escrever tão cedo.

Quando sua editora lhe oferece um adiantamento para que ela volte a escrever sua série de livros e Mary descobre que seu marido gastou mais dinheiro do que deveria com uma negociação que não deu certo, ela topa escrever mais um livro.

Para poder ficar livre, ela resolve contratar uma babá para cuidar de seus filhos e, depois de muitas entrevistas frustradas, ela conhece Grace (Greer Grammer), que parece perfeita, e a contrata. Não demora para que Mary comece a usar Grace como inspiração para o seu novo livro e, mais tarde, a ter fantasias eróticas com a babá.

Greer Grammer como Grace em Por Trás da Inocência
Greer Grammer como Grace

Realidade e ficção

A chave para entender toda a trama de Por Trás da Inocência é uma frase que Mary fala quando sua editora lhe pede para voltar a escrever: “Você não me conhece quando escrevo. Eu me torno uma pessoa diferente”.

Desde o começo do filme, isso fica pré-estabelecido e o telespectador sabe que é por isso que Mary não deseja voltar a escrever tão cedo. No entanto, a vida não lhe deixa escolha e Mary acaba, mais uma vez, se dedicando a escrever mais um romance da sua série de suspense erótico.

O filme trabalha com a realidade e a ficção
O filme trabalha com a realidade e a ficção

E como já é fácil de prever, Mary começa a fantasiar demais. É natural, é claro, que uma escritora precise de sua imaginação para realizar seu trabalho e, no começo do filme, é isso que o telespectador acredita estar assistindo: Mary vivendo sua vida, ao mesmo tempo que imagina uma história a qual não temos acesso, mas que sabemos ser ligeiramente inspirada na vida de Grace. Entretanto, logo notamos que o que acontece na, “aparentemente”, vida real de Mary, pode ser uma fantasia da autora.

A ideia inicial é bem interessante e a cabeça de uma escritora, com seus diversos mundos paralelos e criações, é um assunto instigante para se explorar, o problema aqui é que a partir do momento que Mary deixa claro que se torna outra pessoa quando escreve, é um pouco fácil prever o que vai acontecer dali para frente, portanto não existe muito suspense quando as coisas de fato aparecem na tela.

A imagem da inocência

Ao mesmo tempo que Mary tenta escrever seu livro, o filme também acompanha a chegada de Grace, a jovem babá, aparentemente perfeita e, mais uma vez, mergulha em todos os clichês possíveis. Grace é jovem, simpática, bonita e extremamente inocente. Ela não é uma adolescente, mas se comporta como uma colegial que não sabe de nada. Em uma das cenas ela pede ajuda de sua patroa para vestir um sutiã, como se ela não fosse uma mulher adulta que usa sutiã há pelo menos uns cinco anos.

Grace e Mary
Grace e Mary

Ela também se veste como uma típica babá de filme dos anos 1990: sobreposições, saias plissadas, meias ¾ e laços na cabeça. Mas é claro que, embora Grace pareça a inocência em pessoa, ela não é exatamente isso.

Quando pensamos que tudo, inclusive o visual e a maneira com que Grace se comporta, podem fazer parte da fantasia de Mary e, consequentemente, do livro que ela está escrevendo, essa construção até pode ter um pouco de sentido, mas a questão é que isso nunca é estabelecido com clareza, o que parece colaborar com a ideia de que Grace é mesmo uma babá saída de uma fantasia sexual.

Seria interessante, por exemplo, se o filme nos apresentasse Grace como essa babá típica da fantasia, mas depois nos mostrasse como ela de fato é, na vida real, mas isso, infelizmente, nunca acontece.

O romance não engata em Por Trás da Inocência
O romance não engata

O romance

Mas Por Trás da Inocência também é um suspense erótico, como os livros que a própria Mary escreve e aqui acompanhamos um suposto relacionamento entre Mary e Grace.

Quando Mary começa a usar a vida de Grace como inspiração para o seu novo livro, ela também começa a ter sonhos eróticos cada vez mais vívidos com a babá, e o telespectador logo nota que existe uma tensão sexual entre as duas mulheres, embora ela não seja exatamente bem trabalhada. As duas rapidamente se envolvem em um romance mas, mais tarde, quando Mary questiona Grace sobre isso, a babá nega veementemente o envolvimento com a patroa, deixando mais um mistério para o telespectador desvendar.

A ideia, mais uma vez, seria interessante se fosse bem explorada. O filme não só poderia apresentar um romance de descoberta para ambas as mulheres, uma vez que Mary diz nunca ter sentido atração por outra mulher antes, e Grace é jovem e, supostamente, inocente, como também perverte a ideia do homem mais velho se envolvendo sexualmente com a babá dos filhos e traz, à sua maneira, uma novidade, mas como tudo aqui, o romance não decola.

Por Trás da Inocência apresenta uma série de reviravoltas absurdas
O longa apresenta uma série de reviravoltas absurdas

É muito difícil acreditar que Mary e Grace estão interessadas uma na outra, porque os momentos de tensão sexual e que deveriam ser sexys, são meio absurdos e ridículos, como por exemplo, a já citada cena do sutiã. Mesmo que o telespectador interprete que o que assistimos na realidade, está acontecendo somente nas fantasias de Mary ou até mesmo no seu livro, pode-se assumir que ou as fantasias de Mary são bem sem graça ou o seu livro é chato.

Aspectos técnicos de Por Trás da Inocência

O filme até parte de uma ideia interessante, a de misturar ficção – no caso, o livro e as fantasias de Mary – com a realidade, mas nada no filme funciona como deveria. O longa pré-estabelece logo no inicio que Mary se torna outra pessoa quando escreve e é a partir dessa lente que o filme deve ser visto, no entanto, como a trama não deixa claro em momento nenhum o que é a realidade, o que é o livro e o que são as fantasias de Mary, ele contradiz a sua proposta. Mais do que isso, em alguns momentos o filme parece corroborar a ideia de que é tudo uma fantasia e que estamos assistindo a trama do romance de Mary, em outras dá a entender que muito do que é mostrado é mesmo a realidade.

Por Trás da Inocência também se esforça para entregar uma série de revelações cada vez mais absurdas e que, depois de um tempo, não fazem sentido nenhum e só deixam o roteiro do filme ridículo. A relação entre Mary e Grace, que poderia ser um dos grandes chamarizes do longa, é sem graça, mecânica e falsa, é impossível acreditar nesse romance.

Kristin Davis em cena do filme Por Trás da Inocência
Kristin Davis em cena do filme

As atuações não ajudam o longa, Kristin Davis não entrega muita coisa e Dermot Mulroney aparece pouco. Greer Grammer é a única que, além de bem escalada, encarna bem essa babá de fantasia, mesmo que o roteiro muitas vezes a coloque em cenas constrangedoras e sem nenhum sentido.

O figurino até colabora com a ideia do filme, as roupas de Grace funcionam bem dentro desse conceito de imaginação, e as roupas de Mary, sempre chiques, elegantes e em tons mais escuros, a deixam perfeita no papel que normalmente seria do pai de família, vivendo uma crise de meia idade, mas nada disso é suficiente para deixar o filme bom.

Com uma trama sem sentido, um romance que não empolga e plot twists vergonhosos que deixam a história cada vez mais sem sentido, Por Trás da Inocência é um desperdício de dinheiro e de tempo. O longa está disponível na Netflix.

https://www.youtube.com/watch?v=wT5jAksi1CY&ab_channel=MinutoOnDemandTrailers%26Extras

Por Trás da Inocência

Nome Original: Deadly Illusions
Direção: Anna Elizabeth James
Elenco: Kristin Davis, Dermot Mulroney, Greer Grammer, Shanola Hampton, Marie Wagenman
Gênero: Suspense, Thriller
Produtora: Kiss and Tale Productions
Distribuidora: Netflix
Ano de Lançamento: 2021
Etiquetas

Deixe um comentário

Botão Voltar ao topo
Fechar