Por Trás de Seus Olhos – minissérie em seis episódios
Suspense é sólido em sua premissa, sem abrir mão do novelão
Por Trás de Seus Olhos, a nova obra da Netflix é uma minissérie de suspense psicológico britânica criada por Steve Lightfoot, baseada no romance homônimo escrito por Sarah Pinborough em 2017 e conta a história da mãe solteira Louise.
Um dia, ela conhece David em um bar durante uma de suas raras saídas à noite e eles acabam se beijando. No dia seguinte, a secretária não só descobre que o homem do bar é seu novo chefe, como também é casado. Apesar de tentarem evitar, os dois acabam se envolvendo e começam a ter um caso.
Como parte da série de encontros infelizes, Louise acidentalmente se torna amiga de Adele, esposa de David. Com o tempo, a secretária se vê cada vez mais envolvida com o casal, mas o leitor passa a questionar até que ponto esse relacionamento conturbado se dá apenas entre aquelas três pessoas.
Por Trás de Seus Olhos
Simona Brown está ótima como uma das protagonistas, de atuação bem naturalista e uma vida crível, com rotina identificável, que faz com que o espectador se aproxime dela mais rapidamente, mesmo que depois ela comece a cometer bobagens inacreditáveis.
Tom Bateman entra como o galã atormentado repleto de segredos e é interessante ver como o astro consegue mostrar mais de um jogo de expressões ao longo dos episódios, sem se prender ao fácil cenho franzido.
A belíssima Eve Hewson é de longe a melhor figura do elenco, em toda sua complexidade. Sentimos pena dela, ao mesmo tempo que sabemos que algo ali não está certo, e conseguimos notar uma forte dicotomia de sua versão do passado, quando mais jovem, e que recebe uma bela justificativa antes do fim.
Robert Aramayo tem uma atuação forte, intensa e envolvente, e talvez seja responsável por participar de todos os melhores momentos da produção.
Por que o novelão?
Existem vários pequenos atributos que justificam o sucesso dessa minissérie entre um público mais amplo e, provavelmente, mais apto a novelas. Parte do início remete a “50 Tons de Cinza“, envolvendo a mocinha loser e o galã inalcançável (aqui por questões de ética profissional), com cenas de sexo bem coreografadas.
Por outro lado, o encontro de Louise e Adele poderia muito bem ter sido extraído de uma comédia romântica, assim como a rotina que ambas estabelecem em sua amizade improvável (e não recomendável).
Nos entornos e desde o princípio, porém, existe um suspense psicológico que vai tomando forma, ainda que demore a dizer a que veio. Nas intenções narrativas, fica claro para quem já é espectador velho de guerra, de que se trata de distração.
Tudo tem um propósito
O enredo quer que acreditemos que se trata de um relacionamento tóxico e abusivo. Em partes é isso mesmo, mas não do lado mais óbvio da moeda, ainda que os personagens não se ajudem quanto a isso também, afinal ninguém nunca fala nada com nada e sempre guarda terríveis segredos.
Mas o drama pé no chão vai flutuando conforme os episódios avançam para um caminho, digamos, mais “sobrenatural”. Eu, particularmente, já havia sacado no segundo episódio e fiquei satisfeito em descobrir que tinha acertado, até mesmo porque a maneira como os autores brincam com o conceito de “viagem astral” é inédito até aqui e, mesmo com o público sagaz adivinhando os próximos passos, ao menos uma pequena reviravolta próxima ao fim pegará a todos no contrapé.
Ela é quase cômica pelo absurdismo, mas merece créditos pela ousadia e, principalmente, por oferecer um desfecho onde não há final feliz (por mais que um deles ali acredite piamente nisso).