Raia 4 – Filme sobre amadurecimento e descoberta
Amanda (Bridia Moni) tem doze anos e participa de uma equipe de natação. Em meio aos treinos para uma competição, ela começa a se interessar por sua colega de equipe, Priscilla (Kethelen Guadagnini), ao mesmo tempo em que se sente cada vez mais distante dos pais e dos outros adolescentes.
Raia 4 já estabelece, desde o começo, que Amanda é uma menina solitária. Na primeira cena, a acompanhamos sozinha, pulando na piscina e afundando, e é essa solidão que acompanha a protagonista até o final do filme.
Com seus doze anos, sua sexualidade começa a aflorar, assim como acontece com os outros membros de sua equipe de natação. Entretanto, enquanto todos os outros adolescentes estão mostrando interesse um pelos outros e trocando beijos e amassos, Amanda está sempre de fora.
Raia 4
Em uma viagem da equipe, um dos colegas de Amanda pergunta ao ônibus todo “com quem eles gostariam de ficar” e a protagonista é a única que responde que não sabe. Ela promete pensar, quando cobrada pelo colega.
Mas Amanda não se afasta só de seus amigos, ela quase não se comunica com seus pais, por mais que sua mãe (Fernanda Chicolet) tente a todo custo manter um diálogo e estabelecer uma conexão com a filha.
A situação de Amanda e seus pais é relativamente comum entre os adolescentes, mas a maneira com que ela se comporta com seus colegas faz com que a menina seja uma pessoa extremamente solitária, e que nunca conta para ninguém seus pensamentos, temores e desejos.
A descoberta da sexualidade
A grande questão de Raia 4, no entanto, é a descoberta da sexualidade, não só de Amanda, como também dos adolescentes que a rodeiam. Se a menina parece demonstrar pouco interesse nos colegas, o telespectador logo nota que isso é só aparência, uma vez que fica claro que ela está interessada em Priscilla, sua colega de equipe.
Priscilla, por outro lado, tem um namorado (Cauã Furtado) e vê Amanda apenas como amiga. A protagonista não sabe como se declarar e por isso só admira a amiga de longe. O filme é repleto de cenas que mostram como esses adolescentes estão desenvolvendo suas sexualidades, desde a pergunta incômoda no ônibus, passando pelos amassos nos cantos, até um jogo de verdade ou consequência, onde a “verdade” é sempre uma pergunta sobre quem está interessado em quem, e a “consequência” é sempre beijar alguém da rodinha.
Amanda é discreta, mas a audiência rapidamente nota seus olhares furtivos à Priscilla e sua angústia em relação ao namoro da menina com Matheus. Como Amanda nunca coloca para fora o que sente, o filme segue sendo, basicamente, sobre uma adolescente descobrindo sua própria sexualidade, embora essas questões não sejam debatidas a fundo.
Aspectos técnicos de Raia 4
A protagonista e vários personagens do longa participam de uma equipe de natação e, por isso, boa parte do filme se passa na piscina. Mas, a competição para qual Amanda se prepara não é o foco principal da narrativa. O telespectador acompanha poucos momentos competitivos, o que nos dá a impressão que nem Amanda se importa tanto com o que faz.
A piscina, no entanto, é o cenário onde ela admira Priscilla, a garota por quem está apaixonada e por quem se sente atraída. Também é através da equipe que conhecemos os outros adolescentes com quem ela convive e de quem ela, constantemente, escapa. A água é um elemento presente no filme todo, que já começa com uma cena da garota na piscina, e nem poderia ser diferente.
Raia 4 parte de uma boa ideia e tem um ponto de vista interessante, mas pouca coisa acontece no filme. A plateia logo percebe que Amanda está apaixonada por Priscilla, e o filme aborda essa atração de maneira instigante, uma vez que ela não parece estar incomodada com o que sente pela amiga e nem pelo que isso quer dizer sobre sua orientação sexual, mas sim com a sua inabilidade de colocar esse sentimento para fora, mesmo que não seja necessariamente para Priscilla.
E o que mais?
Amanda é tímida, solitária e conversa muito pouco com as outras pessoas e, por isso, não coloca quase nada para fora. Como a protagonista não se declara, Raia 4 vai, aos poucos se tornando, um filme de contemplação e, por isso, arrastado e parado.
A audiência entende que a ideia é falar sobre a adolescência e sobre as questões que surgem nessa época, sejam elas quais forem, mas no caso de Amanda, tudo fica muito na teoria.
Raia 4 tem uma trama interessante e uma boa premissa, mas demora a engatar e não apresenta muita movimentação, se tornando cansativo. O filme entra em cartaz no dia 6 de maio e chega às plataformas digitais NOW, Google Play, Apple Tv, iTunes e Youtube Filmes no dia 20 de maio.