Rainha de Copas, a relação entre madrasta e enteado
Em Rainha de Copas conhecemos Anne (Trine Dyrholm), uma advogada que parece ter a família perfeita. Quando Gustav (Gustav Lindh), filho do primeiro casamento de seu marido, vem morar com a família, ela é receptiva e o trata bem. No entanto, logo a relação familiar dos dois evolui para uma relação romântica e sexual, que pode destruir a família e a sua carreira.
Anne
A protagonista de Rainha de Copas é Anne, uma mulher que parece ter a vida perfeita. Ela tem uma carreira respeitada como advogada dos direitos das crianças e adolescentes, vive bem com seu marido (Magnus Krepper) e suas filhas gêmeas e parece ser feliz. Mas conforme vamos acompanhando o filme, vamos percebendo que Anne finge muito do que demonstra. Seu casamento com Peter não é tão feliz quanto parece e ela se mostra claramente frustrada. O fato de Peter não conseguir perceber isso e em muitos momentos, intensificar esse sentimento, piora a situação.
A chegada de Gustav na casa altera tudo. No começo Anne se porta como uma mulher compreensiva e prestativa que não se envolve nos assuntos que envolvem Peter e Gustav. O seu comportamento até soa compreensivo demais, como alguém que não se incomoda em momento nenhum com a chegada de um adolescente revoltado na sua casa e na sua rotina que está perfeitamente organizada. As situações na vida de Anne, assim como sua frustração e sua dificuldade de colocar isso para fora, a levam inequivocamente aos braços de seu enteado.
Um dos pontos mais interessantes de Rainha de Copas é como se demonstra a personalidade de Anne de maneira diferente em momentos diversos do filme. No começo ela soa como a mocinha que está em crise, mas depois de um tempo, essa é uma perspectiva que vai mudando. Anne vai se mostrando egoísta, mentirosa e hipócrita. O filme dá um salto gigantesco quando coloca sua protagonista, que é apresentada como uma mocinha, quase como uma vilã, nos termos clássicos, quando na realidade, ela é mostrada como uma mulher real, que não é boa, nem má.
Gustav
O segundo ponto importante de Rainha de Copas é Gustav. Nós nunca acompanhamos o filme do ponto de vista dele – sempre do de Anne – mas acabamos o conhecendo. Gustav é um adolescente de 18 anos, que vive com sua mãe e nunca teve muito contato com o pai. Quando o garoto começa a criar cada vez mais problemas, Peter decide levá-lo para morar com ele.
Parece a situação ideal, uma vez que Peter se ressente de não ter passado tempo suficiente com seu filho e acha que uma mudança de ares poderia ser bom para Gustav, assim como o convívio com as duas irmãs mais novas, frutos do casamento de Peter com Anne. Quando Anne topa a mudança com grande entusiasmo, aquela parece ser a decisão correta.
Mas Gustav está, como a maioria dos adolescentes, revoltado e diversos outros problemas se somam à sua personalidade. Ele não convive muito bem com sua mãe e sente que foi abandonado pelo pai. Quando ele chega à casa de Anne e Peter, as únicas pessoas que conseguem passar a barreira que ele mesmo coloca são suas duas irmãs mais novas, com quem ele parece se dar bem e mais tarde, Anne. No entanto, o embate entre Anne e Gustav pode deixar marcas nos dois.
Aspectos técnicos de Rainha de Copas
Rainha de Copas é um filme que se apóia quase totalmente no seu roteiro, o que é uma boa escolha, uma vez que a trama é realmente interessante e bem desenvolvida. Um ponto interessante do filme é que ele sempre parece querer entregar mais do que a plateia está esperando, então, tudo é muito intenso, seja o caso de Anne e Gustav, seja o que se sucede depois disso. Rainha de Copas vai se tornando um filme cada vez mais surpreendente.
O filme é tão bem sucedido também porque tem boas atuações, como a de Trine Dyrholm, que interpreta Anne e que entrega uma personagem complexa que tem os mais diversos lados; e de Gustav Lindh, que demonstra muito bem a aspereza e a fraqueza de Gustav na mesma medida.
O filme fala de um tema polêmico, mas nem por isso, menos interessante. Em muitos aspectos, como a maneira que se desenrola e pelo seu ritmo, lembra o filme Sem Amor, embora os temas dos dois longas sejam bem diferentes.
Embora a trama seja boa e se desenrole de maneira interessante e surpreendente, o filme se alonga um pouco e dá ao espectador a sensação de que ele é maior do que de fato é, tornando o filme um pouco cansativo.
No entanto, Rainha da Copas se mantém um bom filme, que trata de temas tabus de maneira criativa. O filme entra em cartaz no dia 12 de setembro.